Seminário discute desmedicalização da saúde mental

A resposta ao sofrimento psíquico não precisa necessariamente passar pelo uso de drogas psiquiátricas, avaliam pesquisadores. Em evento na Fiocruz, debatem-se alternativas, que vão das “Soterias” aos psicodélicos

Foto: Ensp/Fiocruz
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Iniciado em 30 de outubro (leia nossa matéria sobre o primeiro dia), o 9º Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas prosseguiu na sexta-feira (31/10), na Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz). Novas mesas deram continuidade às discussões sobre a construção de um paradigma de saúde mental que supere o uso excessivo de psicotrópicos, uma marca central do cenário contemporâneo.

Na parte da manhã, o jornalista estadunidense Robert Whitaker apresentou um panorama de iniciativas de desmedicalização do tratamento psiquiátrico promovidas ao redor do mundo. Editor do portal Mad in America e autor de livros como Anatomia de uma Epidemia, Whitaker citou exemplos exitosos de locais na Europa, na América do Norte e no Oriente Médio onde o processo terapêutico não envolve – ou busca reduzir drasticamente – a prescrição de medicamentos. 

Confira um vídeo curto da entrevista com Robert Whitaker, realizada em parceria por Outra Saúde e Mad in Brasil.

Na mesa seguinte, o pesquisador Edvaldo Nabuco e a psicóloga Ingrid Abreu fizeram intervenções enquanto usuários dos serviços de saúde mental que fizeram uso de psicotrópicos. Eles frisaram a importância decisiva do envolvimento do paciente na tomada de decisões relativas a seu tratamento.

Já na programação da tarde, o psiquiatra Holmes Martins refletiu sobre a prescrição responsável de psicotrópicos, alertando para o forte risco de iatrogenia – isto é, quando o próprio tratamento médico leva a mais doenças e complicações. Pós-doutoranda na UERJ, a psicóloga Luciana Jaramillo alertou para os riscos da medicalização e patologização da infância, além da necessidade de maior cuidado com as crianças enquanto sujeitos.

O professor de Epidemiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Paulo Telles, chamou atenção para a “emergência de um novo paradigma” baseado no “retorno das substâncias psicodélicas e naturais” para as estratégias de saúde mental. Ele apresentou os notáveis resultados mais recentes de pesquisas com compostos como psilocibina, LSD, DMT, mescalina, MDMA, cetamina e cannabis. “Ciência, experiência e cuidado precisam caminhar juntos” para construir uma “psiquiatria mais integrativa e menos medicalizante”, ele defende.

O evento encerrou-se com uma apresentação da poetisa Celeste Estrela, da comunidade de Manguinhos, e a exibição do documentário “Coisa de Favela”. O filme, cujo trailer pode ser conferido aqui, foi desenvolvido como parte da pesquisa “Estratégias culturais em Manguinhos: um estudo de trajetórias de vida e redes sociais locais como ferramentas de promoção da saúde mental”, promovida pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Fiocruz), que organizou o Seminário Internacional.

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