RS: o sofrimento dos atingidos pelas enchentes, um ano depois
Saúde mental de gaúchos continua abalada pelas enchentes, e pouco mudou na proteção ao ambiente
Publicado 28/05/2025 às 13:16 - Atualizado 28/05/2025 às 14:44
As sequelas das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul ainda estão em processamento no tecido social e dificilmente seus estragos podem ser quantificados. No entanto, alguns dados sobre a saúde mental de cidades afetadas dão indícios de uma correlação direta entre a catástrofe e adoecimentos psíquicos. Uma matéria da Folha, a partir da Rede de Atenção Psicossocial de Eldorado do Sul, levantou uma explosão de atendimentos relativos a síndrome de pânico, ansiedade e depressão, dentre outras condições, após as chuvas que devastaram o estado.
A pesquisa foi feita sobre a própria base de dados do SUS e demonstra índices altíssimos de aumento da procura por profissionais e consultas nos CAPS da cidade gaúcha, que margeia o rio Jacuí, um dos principais protagonistas das enchentes. Em outubro, matéria do Estadão já havia divulgado pesquisas de instituições públicas locais que auferiram índices de até 90% de pessoas admitindo alguma forma de transtorno.
“Eu trabalhava, mas trabalhava chorando, com ansiedade, dor no peito, formigamento. Qualquer chuvisqueiro já me transtornava”, contou Suzana de Souza, auxiliar de enfermagem, em entrevista ao jornal. Apesar dos índices tão dramáticos, pondera-se no texto que o fato de a rede de saúde de municípios vizinhos ter sido inviabilizada em maior medida pode ter concentrado atendimentos para além de moradores da cidade. A síntese de Suzana não deixa dúvidas: “Com todas as letras, a cidade está doente”.
De toda forma, as facetas do desastre são variadas. Cidades e famílias até hoje trabalham para reconstruir suas estruturas, em prejuízos que superaram os R$ 150 bilhões em todo o estado e geraram o maior plano de resgate a um desastre climático da história do Brasil. Estruturas do SUS e profissionais da saúde também são diretamente afetados e carregam cada um a seu modo o peso da tragédia de 2024.
De acordo com o governo do estado, foram pelo menos 663 estabelecimentos de saúde danificados. Durante a enchente, que durou semanas, profissionais de saúde viveram trancados em locais de trabalho e o governo federal organizou missões de resgate e atendimento em saúde em áreas de difícil acesso através da Força Nacional do SUS.
Irresponsabilidade ambiental segue intacta
No ano passado, o Outra Saúde acompanhou de perto o acontecimento, em reportagens que abordaram desde a dificuldade em se retomar a vida social em meio a uma destruição material sem precedentes até a própria estrutura de saúde apta a resistir a tais eventos, sem deixar de lado o estado físico e psíquico dos próprios trabalhadores que fizeram o SUS funcionar até debaixo d’água.
Passado um ano, o governo federal inaugurou o Centro de Operações Emergenciais e criou uma autoridade climática nacional, no sentido de reconhecer as mudanças climáticas como realidade. Além disso, o Ministério da Saúde absorveu em sua concepção o projeto One Health, traduzido no Plano Uma Só Saúde, que reconhece a necessidade de coordenação das ações que dizem respeito à saúde humana, animal e vegetal.
No entanto, o Senado acaba de aprovar mais um pacote de desregulação de legislação ambiental, enquanto no Rio Grande do Sul as medidas protetivas e preventivas, após um desmonte generalizado da legislação ambiental no governo de Eduardo Leite, não saíram dos discursos. Na prática, o modelo de desenvolvimento econômico neoliberal não permite nenhuma mudança de paradigma e tudo segue como antes.
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