O sinistro responsável pela Saúde da candidatura Pablo Marçal
• Quem é Francisco Cardoso, charlatão ligado a Pablo Marçal • Os mesmos métodos da ultradireita • O passado do médico que defende a cloroquina • Dificuldades de quem está na fila de transplantes • Calor extremo é perigo aos pequenos •
Publicado 27/09/2024 às 14:37
O candidato de ultradireita à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, escolheu uma figura tão baixa quanto ele mesmo para comandar a área da saúde de sua campanha – e ocupar a secretaria, caso fosse eleito. É o recém-eleito para a cadeira de São Paulo no Conselho Federal de Medicina (CFM), Francisco Cardoso. Um infectologista charlatão. Como Marçal, ele vende cursos sem nenhum valor técnico-científico e assim segue enriquecendo a medicina sem exercê-la de fato. Além das generosas diárias e gratificações por participação em eventos do CFM sem nenhum impacto social – afinal, a autarquia estatal saiu de todos os espaços de elaboração de política pública – Cardoso promove um curso online cujo título exala cinismo: Jornada da Segurança na Imunização.
Na apresentação de seu “produto”, Francisco Cardoso declara imenso apreço pela história das vacinas e seus benefícios à humanidade. No entanto, o golpe vem a cavalo. A própria página oficial do curso estampa em letras garrafais a frase: “A verdadeira fake news é a de que a cloroquina não trata covid-19”. Em suma, Cardoso segue a fazer propaganda de uma falsa cura de covid, discurso que apesar de desmoralizado socialmente serve como capa de proteção aos crimes cometidos por seus parceiros políticos. De tabela, propagandeia um produto de uma grande empresa farmacêutica. A tática é contrabandear a ideia de que havia motivos para defender tal método de cura e assim inocentar seus entusiastas – a começar pelo presidente Jair Bolsonaro, indiciado no relatório final da CPI da Pandemia, e outros correligionários.
Expedientes conhecidos
Sua propaganda no Instagram repete táticas conhecidas da extrema-direita. Uma horda de perfis falsos aparece nos comentários a elogiar Cardoso por sua coragem e contar histórias sobre internações por covid supostamente resolvidas com cloroquina, e relatos de suposto sofrimento de quem se vacinou. A mentira é intolerável. Não há prontuários médicos de pacientes que receberam alta após tomar cloroquina. E certamente não é por falta de secretários de saúde aliados da direita, que estariam dispostos a colaborar para tal afirmação. Além disso, cabe lembrar os crimes cometidos pela empresa de saúde Prevent Senior contra pacientes que tiveram o medicamento ministrado sem consentimento e vieram a óbito – o que fez suas famílias entrarem na justiça, em disputa que deve se arrastar por anos. Por fim, basta observar a derrubada das taxas de mortalidade a partir da massificação das vacinas de covid-19.
Cardoso já foi condenado à prisão e foi investigado pelo INSS
Conhecido não só pela desonestidade como também pela truculência entre seus pares, Cardoso chegou a ser condenado a três meses de prisão em 2020 por divulgação de informações falsas a respeito da pandemia em 2020. A ação 1006922-89.2020.8.26.0050, julgada pelo juiz José Fernando Steinberg, em 27 de setembro de 2022, foi impetrada por Cesar Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira, onde Cardoso disputou eleições e foi derrotado.
Outro momento chamativo de sua trajetória foi quando depôs na CPI da Pandemia em 2021 e se declarou contra o isolamento social, mas contrário ao retorno de médicos peritos – função que exercia no INSS – ao trabalho presencial. Afastado desde 2019 do trabalho por questões neurológicas, o médico não atendeu pacientes em 2020 e mesmo assim recebeu benefício de R$ 5.000 mensais por tempo considerado acima do normal. No mesmo período, atendeu pacientes para os quais prescreveu cloroquina, o que configura dupla fraude: no exercício da profissão e no recebimento ilegal de benefício. Hoje, é investigado por uso do CFM de forma indevida como ponte de apoio à outra associação onde conseguiu galgar cargo representativo: a Associação Nacional dos Médicos Peritos.
INSS dificulta benefícios a transplantados
Se para uns o acesso a benefícios do Estado vem fácil, para a maioria dos brasileiros a realidade é um pouco mais complexa. Como mostra reportagem da Folha, pacientes afastados do trabalho que fazem parte da fila de espera por transplante de órgãos sofrem para obter benefícios do INSS, que deveria custear seu período de licença médica. Dessa forma, sua situação financeira, e de suas famílias, se agrava, o que leva a inúmeros casos de endividamento e privação material. Segundo a matéria, o SUS acaba como colchão não só médico como econômico, por ser gratuito e evitar que os beneficiários dos transplantes tenham ainda mais gastos em razão de seus tratamentos.
Aqui, temos mais um retrato da ideologia do estado mínimo: a partir de 2016, sob a presidência de Michel Temer, o INSS foi orientado a fazer pente fino na concessão de benefícios do órgão, a fim de satisfazer o programa neoliberal de cortes de gastos sociais. E o incentivo foi claro através de MP que virou lei e que estabelecia uma dinâmica perversa: o governo dava incentivos financeiros a médicos peritos, como Francisco Cardoso, que acelerassem a revisão de benefícios a segurados, a fim de realizar o referido pente-fino. A ideia, evidentemente, era realizar a política de cortes das concessões de auxílios doença, invalidez e mesmo aposentadoria. Em abril deste ano, AGU e PGR assinaram portaria que oficializa o projeto “Desjudicializa Prev”, que visa reverter o quadro e voltar a facilitar a concessão de tais benefícios.
A ameaça do calor extremo a crianças
Um estudo do Unicef revela que crianças brasileiras enfrentam um cenário de calor extremo muito mais grave do que o experimentado por gerações anteriores, alerta matéria do Brasil de Fato. Comparando dados climáticos das décadas de 1970 e 2020, a pesquisa mostra que o número de dias com temperaturas acima de 35°C aumentou de 4,9 para 26,6 por ano. Cerca de 31,5 milhões de crianças no Brasil são afetadas por ondas de calor, o dobro das vividas pela geração de seus avós. Danilo Moura, especialista do Unicef, alerta que as crianças pequenas são especialmente vulneráveis a problemas de saúde causados pelo calor extremo. O Unicef defende ações imediatas, como aumento de áreas verdes e implementação de políticas de proteção, além da inclusão do Protocolo Nacional para Proteção Integral de Crianças e Adolescentes em Situação de Desastres nos planos municipais.