Novos rumos para a redução da fila do SUS

• Preço de remédios varia em até 686% em SP • Demografia médica no Brasil • Novos rumos para os hospitais federais do RJ? • Mercúrio contamina o povo Munduruku • Genocídio em Gaza é ainda mais amplo •

Foto: Divulgação/MS
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O Ministério da Saúde prevê uma reestruturação do Programa Nacional de Redução de Filas, noticia o Jota. Criado no ano passado pela pasta para enfrentar a fila de um milhão de procedimentos que se acumulou na pandemia, o projeto é bem avaliado pelo governo, mas com ressalvas. Somente de fevereiro a abril de 2024, 309 mil cirurgias teriam sido realizadas pelo programa, reduzindo a fila em 23% e batendo 41% da previsão para todo o ano. Contudo, foi constatada uma grande desigualdade regional na execução do plano, além de uma concentração geral em procedimentos mais simples, como cataratas e hérnias. O Sul teria batido 152% de sua meta de cirurgias, enquanto o Centro-Oeste – região mais defasada – teria realizado apenas 22% dos procedimentos esperados, por exemplo. O primeiro passo para conduzir a reestruturação será diagnosticar a origem das dificuldades das regiões, para saber se faltam profissionais, insumos ou infraestrutura, diz Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada à Saúde do MS.

SP: Preços de remédios fora de controle

As farmácias de São Paulo oferecem os mesmos medicamentos com diferenças de preço de até 686% entre si, indica uma pesquisa anual do Procon-SP destacada pela Agência Brasil. O estudo é ilustrativo da insuficiência da atual política de controle dos preços dos fármacos, ao demonstrar que as empresas do ramo, na prática, põem os preços que desejam em suas mercadorias. A divergência de mais de 600% no preço foi encontrada na cidade de Presidente Prudente, onde uma farmácia oferecia uma caixa de nimesulida por R$2,99 e outra por R$23,49. Só na capital, foram encontradas diferenças de mais de 200% entre genéricos e de 100% entre produtos “de marca” em estabelecimentos distintos. Em média, os remédios genéricos foram 66,8% mais baratos que os de referência – o que sugere a importância de uma política de genéricos para a garantia do acesso a medicamentos da população brasileira.

Quem são os novos médicos do Brasil?

O levantamento Demografia Médica 2024 revela mudanças no perfil dos médicos do Brasil. Se a categoria ainda é dominada por homens especialistas, seu segmento de até 29 anos é de maioria feminina e generalista. As dívidas contraídas nas faculdades particulares – majoritárias na formação de novos profissionais – levam os mais novos a buscar logo o mercado de trabalho, fugindo das residências onde poderiam se especializar. As entidades médicas se dizem preocupadas com esse fenômeno. A distribuição dos profissionais também segue alarmando. No Norte, 5 dos 7 estados seguem com uma proporção bastante baixa de jovens médicos. A maioria dos formados nas escolas de medicina da região migram após a conclusão do curso. Ouvido pela reportagem da Folha, o Ministério da Saúde aponta que o incentivo do novo Mais Médicos à especialização e à fixação em regiões com carência de profissionais pode ser um importante trunfo para enfrentar essa situação.

Hospital Federal do Andaraí foi municipalizado

Uma portaria no Diário Oficial da União determina a transferência do Hospital Federal do Andaraí para a prefeitura do Rio de Janeiro, revela a Agência Brasil. A municipalização do equipamento – um dos seis envolvidos no grande embate que envolveu o Ministério da Saúde no primeiro semestre – será realizada em fases, diz o documento. Primeiro, haverá um período de 90 dias de gestão compartilhada entre o Governo Federal e a Prefeitura, que poderá ser prorrogado. Depois, o poder municipal carioca terá plenas responsabilidades sobre o hospital. O Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde do Estado do Rio (Sindsprev-RJ) criticou a medida, alegando que o prefeito Eduardo Paes deverá entregar o hospital a uma OSS, em cenário de quase privatização. No caso de outros dos seis hospitais federais, o Governo diz estudar a possibilidade de delegar sua gestão à Ebserh ou ao Grupo Hospitalar Conceição, ambas empresas públicas de direito privado.

Mundurukus atingidos pelo mercúrio

Problema conhecido há alguns anos, os impactos da contaminação dos indígenas Munduruku pelo mercúrio do garimpo ilegal foram expostos em reportagem da Folha. Desde 2018, os garimpeiros começaram a entrar nas terras deste povo, no Norte do país, em números muito maiores que antes. Os rios da região – e os peixes que nele vivem, consumidos pelos indígenas – foram invadidos pelo metal pesado que se utiliza para separar o ouro. Agora, 57,9% dos mundurukus apresentam índices de contaminação pelo mercúrio acima do limite máximo estabelecido pela OMS, com a porcentagem sendo ainda maior entre mulheres e crianças. A Fiocruz atualmente conduz um estudo para entender os efeitos desse cenário nos bebês de até dois anos. Enquanto isso, os problemas neurológicos entre os mais jovens já são percebidos empiricamente nas aldeias. A pesquisa da Fiocruz trabalha com a hipótese de que a exposição ao mercúrio no pré-natal leva a retardos no desenvolvimento infantil.

Genocídio: Gaza pode ter perdido 8% de sua população

Um estudo publicado na revista médica The Lancet estima que as mortes na Faixa de Gaza já podem ser 186 mil desde o início da guerra, quadruplicando as atuais estatísticas. Desenvolvido por pesquisadores de instituições da Palestina, do Reino Unido e do Canadá, o artigo aponta que os números do Ministério da Saúde de Gaza – que hoje apontam 38 mil óbitos confirmados no enclave – ainda não são capazes de abarcar os milhares de mortos cujos corpos estão sob os escombros e as “mortes indiretas” causadas pela destruição da infraestrutura local. Partindo da observação de que, em conflitos recentes, os óbitos indiretos foram de 3 a 15 vezes mais numerosos que os diretos, os sanitaristas sugerem que 8% da população da Faixa de Gaza pode ter perecido até o momento. Além disso, os estudiosos também alertam que, a médio prazo, o atual estado dos equipamentos de saúde e saneamento na Palestina levará à continuidade do alto número de mortes.

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