Juventude brasileira: contexto social define quem vive e quem morre
Novo estudo epidemiológico da Fiocruz analisa determinantes sociais da saúde sob a perspectiva de violências e acidentes que envolvem jovens e adolescentes brasileiros
Publicado 26/08/2025 às 15:56
Com base em evidências apresentadas por pesquisadores da Fiocruz no dossiê Panorama da situação de saúde de jovens brasileiros de 2016 a 2022, publicado em 2024, elaborou-se um ciclo de informes epidemiológicos que aprofundam os temas que impactam significativamente a saúde da juventude. O primeiro informe, divulgado nesta segunda-feira (25), aborda o tema “violências e acidentes”, partindo da premissa de que os agravos à saúde que afetam os jovens brasileiros precisam ser analisados sob a perspectiva da determinação social do processo saúde-doença.
O objetivo deste primeiro estudo, portanto, “é destacar os impactos da violência na trajetória de vida dos jovens, considerando as diferenças de gênero, raça/cor e região de moradia”, como anuncia o próprio documento.
Dentre os principais destaques do estudo está o fato de que a faixa etária é um fator de risco mais significativo do que a localização geográfica para violência e acidentes, seja em áreas metropolitanas ou em cidades do interior. A pesquisa indicou que jovens no final da adolescência (15 a 19 anos) sofrem mais violência no geral, especialmente física – além de serem mais vítimas em situações de conflitos –, e que jovens de 20 a 24 anos, período em que costumam começar a trabalhar, estão mais sujeitos a uma morte violenta.
A principal forma de violência sofrida pelos jovens brasileiros é a agressão física (47%), seguida da violência psicológica/moral (15,6%) e pela violência sexual (7,2%). O estudo ainda destaca uma relação interessante: quanto mais velha a vítima, maior a violência psicológica; e quanto mais jovem, maior a violência física. Entre as causas de mortalidade juvenil, especialmente nos municípios que ficam fora das regiões metropolitanas, armas de fogo e acidentes de motocicleta têm peso significativo.
Demonstrando a desigualdade racial presente na situação de saúde da juvetude brasileira, o estudo aponta que os negros, isto é, jovens pretos e pardos, representam 73% dos óbitos por causas externas – como violências e acidentes – na juventude, enquanto o risco de morte por tais causas é 22% maior que a taxa de todo o conjunto da população jovem e 90% maior que a taxa de mortalidade de jovens brancos e amarelos.
Os determinantes sociais a serem percebidos continuam: além de serem as maiores vítimas das violências notificadas pelo SUS em que o maxismo aparece como a motivação mais frequente, as mulheres jovens correm maior perigo dentro de casa. São também as mulheres que sofrem violências fatais mais diversificadas, como agressões por arma de fogo, objetos penetrantes/cortantes, enforcamento e estrangulamento. Além das mulheres, pessoas jovens com deficiência representam 20,5% das notificações de violências no SUS, sendo que os tipos de deficiência mais vitimados são os relacionados à saúde mental.
Por último, o levantamento ainda ressalta que o maior risco de morte por violências e acidentes na juventude ocorre nos estados do Nordeste e do Norte. Enquanto em estados como o Amapá e a Bahia a média de óbitos de jovens por causas externas para cada 100 mil habitantes é maior que 400, a média da população jovem brasileira como um todo é de 250,6 para a mesma proporção.
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