Falta vigilância

No Brasil, descoberta de nova variante potencialmente mais perigosa não levou a medidas para contê-la. País tampouco investe recursos para fazer mais sequenciamentos do vírus

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Foi anunciado mais um caso de pessoa infectada com a variante brasileira do coronavírus, agora nos Estados Unidos. O paciente é de Minnesota e tem histórico recente de viagens para cá. Segundo as autoridades, ele foi identificado por meio de vigilância aleatória de amostras de sangue. 

Se ela foi encontrada por rastreamento aleatório em outros países, é bem capaz de estar bem espalhada pelo Brasil. E, segundo um estudo da Fiocruz Amazônia e do Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública do estado), ao menos em Manaus ela já é prevalente, além de estar também nas cidades do interior.

A variante de Manaus já virou uma linhagem própria, a B.1.1.28.1, que tem dez mutações no gene que codifica a famosa proteína spike (usada pelo coronavírus para se conectar às células humanas). Entre essas mutações, três são as mesmas observadas em variantes de fora do país. Por que isso preocupa? “Para ter surgido em três lugares distintos com as mesmas mutações é porque alguma vantagem para o vírus essas mutações estão trazendo”, explica Felipe Naveca, da Fiocruz, responsável pelo sequenciamento e pela identificação dela. Tudo indica que ao menos a maior transmissibilidade é uma dessas vantagens.

Um problema gravíssimo apontado na matéria da Folha é que, ao contrário do que acontece no resto do mundo, por aqui a descoberta de uma nova variante potencialmente perigosa não foi seguida por medidas para contê-la – um lockdown em Manaus teria sido necessário, por exemplo. “Embora o Ministério da Saúde tenha sido notificado sobre o caso de reinfecção com a nova variante e emitido uma nota, os outros estados devem seguir uma vigilância contínua para poder monitorar se essa variante já se espalhou pelo país”, alerta Naveca. Relacionado a isso está o fato de se faz pouco o sequenciamento do vírus no Brasil. O Reino Unido já fez mais de 800 mil sequenciamentos, mas por aqui o trabalho de instituições como a Fiocruz é insuficiente nesse aspecto. Não que falte consciência dessa necessidade – o problema é a escassez de insumos e investimentos.

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