EUA promoveram negacionismo de vacinas

• EUA propagaram discurso antivacina na pandemia • Nestlé não quer melhorias para seus produtos • PL do Estuprador é contestado nas ruas • Brasil autônomo no combate a pandemias? • Emílio Ribas pode ir para gestão privada •

Foto: Jacquelyn Martin
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A notícia que se segue pode parecer vinda diretamente da Guerra Fria. Uma investigação inédita da Reuters descobriu uma enorme campanha secreta do Departamento de Defesa dos EUA para promover o negacionismo de vacinas durante a pandemia da covid-19 – com o objetivo, segundo relatos de militares que participaram da ação, de prejudicar a China. A agência de notícias mostra que o Pentágono criou uma rede de contas falsas em redes sociais que difundiam a fake news de que as vacinas da Sinovac faziam mal à saúde. A empresa General Dynamics IT teria ganho um contrato de 493 milhões de dólares para estruturar as ações. O principal alvo da desinformação teria sido a população das Filipinas, país que comprou a Coronavac, da farmacêutica chinesa. A Reuters aponta que a vigência da campanha – que durou um ano, de meados de 2020 a meados de 2021 – coincide com um período de baixíssima vacinação entre os filipinos, apesar dos esforços do governo. 

Em países islâmicos da Ásia Central, a tática era outra: os perfis falsos administrados pelo Exército americano difundiam a informação falsa de que as vacinas da China eram feitas com derivados de porco, cujo consumo é proibido para os muçulmanos. Além das contas, a campanha também criou sites e anúncios publicitários enganosos nas redes. Executivos de redes sociais chegaram a solicitar à Casa Branca o fim da ação, mas nem o governo Trump nem o governo Biden atenderam aos pedidos. “Não fizemos um bom trabalho de compartilhamento de imunizantes com nossos parceiros, então o que nos restou foi criticar o trabalho da China”, disse um oficial anônimo do Pentágono à reportagem. A leitura da matéria é indispensável para entender o papel da desinformação em saúde nos atuais tensionamentos globais.

Indústria dos ultraprocessados não abre mão de fazer mal à saúde

Uma reportagem do O Joio e o Trigo revelou que a Nestlé, uma das corporações mais lucrativas da indústria dos alimentos ultraprocessados, rejeitou uma proposta que tornaria seus produtos ligeiramente mais saudáveis, feita em abril deste ano por um segmento de seus acionistas. Esses fundos de investimento – que não são ligados a ativistas – haviam sugerido que o grupo alterasse suas receitas para “conter mais fibras e menos açúcar, sódio e gordura”. Contudo, 88% dos presentes na reunião anual de investidores do oligopólio suíço foram contrários à ideia. Relatórios internos da Nestlé indicam que a empresa vê a busca por alimentos mais saudáveis e avanços nos marcos regulatórios dos países como ameaças a seus lucros, indica a reportagem. Sendo assim, era mesmo pouco provável que a proposta prosperasse. Por outro lado, é mais um sinal de que os governos é que precisam agir para conter os danos à saúde pública causados pelos ultraprocessados.

Cresce a oposição ao PL 1904/24

Durante o fim de semana, o repúdio de amplos setores da sociedade ao Projeto de Lei 1904/2024, que vem sendo apelidado de PL do Estuprador, se tornou mais visível. Nas maiores capitais do país, manifestações de massa convocadas pelo movimento feminista expressaram esse rechaço ao projeto, que prevê uma grande redução das possibilidades de aborto legal, além de penas mais duras a mulheres que abortarem do que as previstas no Código Penal para o crime de estupro. Após alguns dias de silêncio e ambiguidade, mais figuras do Governo Federal também começaram a se posicionar contra o PL. O pronunciamento da ministra da Mulher Cida Gonçalves, noticiado por este boletim, foi seguido na sexta-feira por outras falas públicas. “Não contem com o governo para mudar a legislação de aborto no país”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Na Itália, o próprio presidente Lula chamou o PL 1904/24 de “insanidade” – seu discurso, contudo, foi criticado por não se abrir para avanços nos direitos reprodutivos. O caminho para ampliar o acesso ao aborto legal no país ainda promete ser longo. 

Laboratório Orion dará autonomia ao Brasil no combate a futuras pandemias

Em visita às instalações do futuro laboratório de segurança máxima Orion, em Campinas (SP), a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, afirmou que ele garantirá “autonomia tecnológica” para o combate às pandemias que ainda virão. A ministra também conectou o Orion, construído com R$1 bilhão em investimentos do Governo Federal, aos esforços de ampliação do CEIS. “Isso vai dar uma resposta ao próprio complexo industrial de saúde e salvar vidas, na medida em que vai ajudar […] a prevenir os impactos que podem advir das mudanças” no cenário epidemiológico mundial, explicou Santos. O Orion, que será o primeiro laboratório do tipo NB4 na América Latina, estará conectado ao acelerador de partículas Sirius, na Unicamp. A integração às linhas de luz do Sirius – algo que, informa o G1, não existe em nenhum outro lugar do mundo – permitirá amplos avanços no estudo de amostras biológicas de patógenos e no desenvolvimento de diagnósticos, vacinas e tratamentos.

Tarcísio quer passar Emílio Ribas para gestão privada

O governo de São Paulo quer entregar o Hospital Emílio Ribas para o setor privado. Um comunicado aos trabalhadores da instituição, um serviço de referência em infectologia, diz que ela “tem necessidade de mais flexibilidade na gestão, especialmente de recursos humanos e financeiros”, noticiou a Agência Brasil. Apesar de deixar a discussão subentendida aos funcionários, a secretaria de saúde paulista alega que “o tema não é debatido de forma oficial dentro da pasta”. À agência, o presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo critica o governo estadual por não convocar profissionais já aprovados em concurso público, levando o hospital a ficar com capacidade ociosa. Ele revela que outra alternativa discutida pelo governo Tarcísio de Freitas para o Emílio Ribas é sua fusão com o vizinho Hospital das Clínicas – o que também resultaria na retirada de um serviço historicamente de excelência das mãos do Estado, já que esse complexo hospitalar é gerido por uma fundação privada.

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