Conferência Livre debate Trabalho e Educação na Saúde do Campo

• Especial: Conferência Nacional Livre de Trabalho e da Educação na Saúde do Campo, da Floresta e das Águas •

Imagem: Cartaz da 1ª Conferência Nacional Livre de Trabalho e da Educação na Saúde do Campo, da Floresta e das Águas
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Na última sexta-feira de agosto (30/8), Outra Saúde acompanhou ao vivo a 1ª Conferência Nacional Livre de Trabalho e da Educação na Saúde do Campo, da Floresta e das Águas. O notável e pioneiro evento, que contou com mais de 230 participantes, foi promovido por um grupo de movimentos sociais e populares ligados à luta por terra e território em todo o Brasil. As entidades envolvidas – como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) – fazem parte do Grupo da Terra, órgão deliberativo composto pelo Governo Federal e pelos movimentos. Esse órgão é responsável pela condução da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas. Como revelou este boletim em sua cobertura da Marcha das Margaridas de 2023, a recriação do Grupo da Terra, arbitrariamente eliminado da estrutura de Estado pelo governo Bolsonaro, foi uma das principais bandeiras da edição do ano passado da grande mobilização das mulheres do campo.

Rumo à 4ª Conferência Nacional

Esta Conferência Livre e outras que vêm sendo realizadas no último período são espaços preparatórios para a 4ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (4ª CNGTES), que será realizada em Brasília (DF), de 10 a 13 de dezembro deste ano. A ser organizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) com o apoio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS), o tema da conferência será “Democracia, Trabalho e Educação na Saúde para o Desenvolvimento: Gente que faz o SUS acontecer”. O conselho, a secretaria e a pasta também estiveram presentes na Conferência Livre, respectivamente, nas figuras de Francisca Valda (Mesa Diretora do CNS), Lívia Mello (SGTES/MS) e Valcler Rangel (Assessoria Especial do Gabinete do MS), que fizeram saudações aos movimentos que a organizaram e destacaram o apoio de ambos os órgãos a sua luta.

Saúde para populações que lutam por ela

Após uma mística com a canção “O Sal da Terra” de Beto Guedes e uma roda de abertura, a Conferência contou com um momento de discussão em profundidade sobre os eixos de Educação e Trabalho de seu tema. Do diálogo, participaram Itamar Lages, professor da UPE, Paulette Cavalcanti, pesquisadora da Fiocruz e Leandro, do Grupo da Terra. Lages e Cavalcanti têm forte ligação com a também notável iniciativa da Residência Multiprofissional em Saúde da Família do Campo (RMSFCampo), da UPE. Em fevereiro, Outra Saúde apresentou a seus leitores esta pioneira experiência, que congrega trabalhadores da saúde em formação de diversas profissões e conduz atividades em equipamentos da atenção básica que garantem cobertura em assentamentos do MST e quilombos em Pernambuco – construindo um espaço decisivo de interação entre SUS, povos do campo e a educação da próxima geração de trabalhadores da saúde pública.

A importância do momento

Um dos principais objetivos da roda de discussão, mas também dos subsequentes grupos de trabalho organizados para continuar os debates, foi encontrar caminhos para operacionalizar de fato o eixo 3 da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, que fala de Educação Permanente  e Educação Popular em Saúde. Como destacou a mediadora da roda de discussão, Ana Léia, do Coletivo de Saúde da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Rurais Negras Quilombolas (CONAQ), “através de um grande encontro como esse, é possível identificar, discutir problemas específicos enfrentados por essa realidade, dando visibilidade e prioridade a eles para, a partir daí, formular estratégias, ações, formações e programas direcionadas para que tenhamos uma melhoria do trabalho e da educação na saúde nesses territórios”.

Como melhorar as políticas públicas?

A necessidade de refinar e ampliar as políticas públicas para o povo nas regiões rurais, sempre com sua participação ativa, foi reforçada unanimemente pelos convidados. “A população que faz o SUS nos territórios do campo, floresta e águas é muito ampla, toda essa gente precisa de políticas públicas de qualidade, que são as que se vêem pelo eixo da equidade”, destacou Itamar Lages. “A primeira questão que precisa ser colocada pelas Conferências Livres é a organização dos currículos formativos de todas as profissões da saúde para incluir a temática do campo, floresta e águas”, acrescentou Paulette Cavalcanti. Para Leandro, é fundamental também pensar em como os determinantes sociais da saúde influenciam nas atividades do SUS nesses territórios – inclusive no sentido de aprofundar os esforços de educação para evitar que o trabalho dos profissionais reproduza equivocadamente modelos pensados para o ambiente urbano.

Formulação coletiva marca a Conferência Livre

Desde o ato de inscrição para o evento, todos os participantes foram convidados a sugerirem diretrizes e propostas para a Conferência Livre, com o objetivo de estimular a formulação coletiva dos caminhos a serem propostos para as ações do SUS junto às populações envolvidas na pauta. Após a roda de discussão e os debates nos GTs, a plenária final da Conferência aprovou três das diretrizes e nove das propostas apresentadas, ligadas aos eixos “Saúde do Trabalhador do SUS”, “Formação na Saúde” e “Equidade e Gestão Participativa”. Além disso, quatro delegados foram eleitos para a 4ª CNGTES. De forma histórica, após esta Conferência Livre, eles terão grande legitimidade para levar as bandeiras da saúde da população do campo, da floresta e das águas à Conferência Nacional em dezembro. Você pode assistir à gravação da atividade coberta por Outra Saúde aqui.

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