Com percalços, Brasil busca vacina contra a zika
• Brasil desenvolve vacinas contra zika • Vítimas da epidemia de 2015 sem saídas • Mudanças do clima já sobrecarregam sistemas • Crise hídrica e água envenenada • Saúde do trabalhador como direito humano • Alimentação e morte prematura •
Publicado 29/04/2025 às 14:24 - Atualizado 29/04/2025 às 14:33
Dez anos após a identificação do vírus da zika em território nacional, ainda não existe nenhum tratamento ou vacina aprovado contra a doença. No entanto, estão em estudo no Brasil dois imunizantes contra a zika, relata a Folha. A Faculdade de Medicina da USP e a Fiocruz Pernambuco desenvolvem um deles – uma vacina de mRNA que, em testes preliminares com camundongos, teve êxito em induzir resposta imune. O outro, sob responsabilidade do Instituto Butantan, é voltado para gestantes e funcionaria a partir da tecnologia do vírus inativado.
A falta de interesse financeiro é um dos obstáculos para que as pesquisas clínicas com humanos sigam adiante. “Nós já tentamos, mostramos esses resultados para algumas empresas, mas não houve interesse. A zika é uma doença negligenciada”, relata a biomédica Francine Teixeira, envolvida nos estudos da vacina da USP. O infectologista Antônio Bandeira, também ouvido pela reportagem, reforça que o governo brasileiro deve investir no desenvolvimento de imunizantes mesmo que eles não sejam economicamente rentáveis, dado o impacto da arbovirose no país.
… e vítimas com microcefalia seguem tendo poucas alternativas
Na falta de tratamento adequado contra a zika, as crianças com microcefalia seguem recebendo pouca assistência do Estado brasileiro. No país, milhares de bebês desenvolveram a Síndrome Congênita do Zika (SCZ), que pode causar essa má formação e uma série de outros problemas. A descoberta da relação entre a microcefalia e o vírus se deu a partir da análise de casos no Brasil por cientistas nacionais. Mesmo assim, as famílias dos afetados recebem um benefício de apenas um salário mínimo, considerado insuficiente. Um estudo da Fiocruz aponta que 30% delas alegam que seus gastos com o cuidado das crianças ultrapassam 40% da renda anual.
Elas sofrem com internações constantes, acometidas por crises convulsivas, pneumonias aspirativas e outros problemas ligados à síndrome. No início do ano, o veto presidencial de um projeto que previa uma pensão mensal de R$7.786,02 – e sua substituição por uma indenização única – levou a um mal estar entre entidades de familiares e o Governo Federal.
A ameaça da crise climática à saúde pública
Um estudo publicado no Future Healthcare Journal revela como as mudanças climáticas estão transformando a saúde pública e sobrecarregando sistemas médicos que já operam no limite. A pesquisa, analisando dados globais, aponta que o aumento da frequência de eventos como desastres naturais e surtos de doenças infecciosas estão levando ao crescimento da demanda por atendimento médicos – muitas vezes em regiões fragilizadas pela falta de recursos. O estudo destaca o Brasil enquanto um dos países mais afetados pela crise climática, ressaltando a região da Amazônia, as grandes cidades e as cidades do Nordeste afetadas pela seca crônica.
O estudo propõe ações imediatas como o monitoramento climático em tempo real e políticas integradas, como a redução de emissões de gases poluentes e o combate ao desmatamento. Entretanto, na visão dos autores, a solução para esse problema exige, sobretudo, uma revolução na medicina, em que hospitais sejam transformados em estruturas adaptáveis que priorizem a prevenção.
Poluentes agravam crise hídrica em países como o Brasil
A revista Frontiers in Water publicou um dossiê reunindo artigos sobre o tema da crise hídrica em um contexto marcado por crescimento desenfreado da atividade agroindustrial e de migrações forçadas decorrentes de tensões político-sociais e conflitos militares. Além da escassez e distribuição desigual, a qualidade da água enfrenta ameaças crescentes por pesticidas agrícolas, resíduos industriais e descarte de medicamentos. Projeta-se que a demanda global por água doce deve crescer 55% até 2050, mas o cenário já preocupa: 2,2 bilhões de pessoas não tinham acesso a água potável gerida com segurança em 2024, segundo a UNESCO, enquanto metade da população mundial enfrentou escassez grave desde 2022.
Em relato a matéria da Agência Fapesp, Geonildo Rodrigo Disner, pesquisador do Butantan e editor do dossiê, destaca os riscos dos contaminantes emergentes, como glifosato, hormônios e plásticos, que persistem mesmo após tratamento convencional. Em São Paulo, por exemplo, 27 pesticidas foram detectados na água monitorada. O problema se agrava com as mudanças climáticas: secas afetaram 1,4 bilhão de pessoas (2002-2021), e enchentes, como no Rio Grande do Sul, comprometem infraestruturas de abastecimento.
Conferência do Cebes discute a saúde do trabalhador como direito
Neste sábado (26), ocorreu a Conferência Livre, realizada pelo Núcleo Saúde, Trabalho e Direito do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). O evento, que contou com 300 participantes de todo o Brasil, faz parte do processo de construção coletiva que elegeu seis delegados e delegadas para a 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
A abertura dos trabalhos, mediada pelo representante do controle social e integrante do Cebes, Dimitri Guedes, ressaltou que as conferências são processos fundamentais de tomada de consciência e formulação de propostas para a defesa da saúde do trabalhador como um direito humano. Como destacou o próprio Cebes: além de propostas concretas, a conferência é um projeto de saúde coletiva essencial para a construção de um país mais democrático e solidário.
Mortes prematuras crescem, associadas a consumo de ultraprocessados
Coordenado por um pesquisador brasileiro da Fiocruz, um estudo internacional publicado nesta segunda-feira (28) aponta que os ultraprocessados aumentam risco de morte prematura, conta a DW Brasil. A análise dos dados de 8 países identificou que o consumo desses alimentos cresce – e já chega a 54,5% e 53,4% da ingestão energética da população dos Estados Unidos e do Reino Unido, respectivamente. Em associação linear, cresceu também a mortalidade prematura por todas as causas.
Investigações conduzidas por autoridades das nações estudadas corroboram a tese de que há uma ligação entre as duas tendências. “As mortes prematuras atribuíveis ao consumo de alimentos ultraprocessados aumentam significativamente de acordo com sua participação na ingestão energética total dos indivíduos”, afirma o pesquisador-chefe Eduardo Nilson. O artigo científico que sintetiza as conclusões da pesquisa está disponível no American Journal of Preventive Medicine.
Outras Palavras é feito por muitas mãos. Se você valoriza nossa produção, seja nosso apoiador e fortaleça o jornalismo crítico: apoia.se/outraspalavras