Calor e seca: estados críticos terão tendas de atendimento

• Atendimento de emergência em regiões afetadas por calor e queimadas • Assassinato de ativistas ambientais • PL quer verba do SUS para hospitais universitários • Ultraprocessados: como financiar pesquisas • Setembro amarelo •

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O Ministério da Saúde, liderado por Nísia Trindade, anunciou a instalação de tendas de atendimento em regiões fortemente afetadas pelo calor, seca e queimadas. É o caso dos estados onde estão o Pantanal e a Amazônia, além do oeste de São Paulo e partes do Paraná. Inspirada nas ações contra a dengue, a iniciativa visa oferecer hidratação e nebulização para a população – especialmente diante do aumento de atendimentos no SUS relacionados a sintomas como náuseas e vômitos. Estados como Goiás e o Distrito Federal registraram um aumento expressivo nesses sintomas, com crescimento de até 190% no Tocantins.

“O SUS é um sistema que tem capacidade de atendimento, mas sabemos que essa resiliência, cada vez mais, é testada por fatores como as mudanças climáticas. Temos que rever nossos protocolos e ações o tempo todo e aumentar a nossa união, não importa o partido do prefeito ou do governador”, afirmou Nísia durante o anúncio. A Força Nacional de Saúde reforçará os atendimentos nas áreas mais afetadas. O ministério também lançou recomendações de proteção, como evitar atividades ao ar livre e aumentar a ingestão de água. A medida visa proteger os grupos mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com comorbidades.

Brasil arde, mas extermina ambientalistas

Em 2023, o Brasil continuou a ser o segundo país com mais assassinatos de ativistas ambientais. Foram 25 mortes, de acordo com o relatório da ONG Global Witness. Apesar da queda em relação a 2022, quando ocorreram 34 assassinatos, a violência persiste. A América Latina segue como a região mais perigosa para defensores do meio ambiente, concentrando 85% dos casos globais. 

A Colômbia lidera o ranking com 79 mortes, enquanto Honduras e México registraram 18 assassinatos cada. No Brasil, a concentração de terras e a falta de demarcação de territórios indígenas e quilombolas alimentam os conflitos. A ONG alerta que muitos casos não são denunciados, sugerindo que os números reais podem ser ainda maiores. O país ainda não ratificou o Acordo de Escazú, que busca garantir proteção a ativistas e acesso à justiça ambiental.

Hospitais universitários com orçamento da Saúde

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que permite o aumento de repasses para os hospitais universitários, incluindo esses centros no cálculo do gasto mínimo constitucional em Saúde. Atualmente, por determinação do Tribunal de Contas da União, os hospitais universitários são contabilizados como despesas da Educação. A proposta, que já havia sido aprovada pelo Senado, segue agora para sanção presidencial.

O relator da matéria na Câmara, deputado Damião Feliciano (União-PB), manteve o parecer da senadora Zenaide Maia (PSD-RN). Defendeu que a medida “corrige uma distorção” que impactava os hospitais universitários, dificultando o uso de recursos essenciais para sua manutenção e aprimoramento. 

Há uma questão importante que deve ser levantada, com essa mudança: o orçamento da Saúde já é bastante apertado, insuficiente para manter o Sistema Único de Saúde da maneira como foi projetado. Seu piso está sob constante ataque, nos últimos anos. A inclusão dos hospitais universitários o deixará ainda mais estrangulado?

Como financiar pesquisas contra a indústria alimentícia

Kevin Hall, pesquisador do National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, está em busca de uma colaboração improvável: ele pediu ajuda de cientistas da indústria alimentícia para financiar suas pesquisas sobre os impactos dos alimentos ultraprocessados na saúde. 

Seus estudos têm ajudado a confirmar que essas comidas altamente industrializadas podem levar ao consumo excessivo de calorias e ao aumento de peso, contribuindo para a crise de obesidade. No entanto, o financiamento limitado, a falta de recursos públicos e um ritmo de pesquisa lento preocupam Hall. Agora, ele acredita que a colaboração com a indústria pode trazer novos recursos e acelerar a compreensão dos efeitos desses produtos. 

Ele também sugere que as empresas poderiam, com base nas evidências, melhorar a formulação de seus alimentos. Hall reconhece o desafio de convencer a indústria, cujos interesses comerciais podem entrar em conflito com os resultados de suas pesquisas. Terá sucesso?

Ultraprocessados: uma teoria brasileira que sacode o mundo

É importante lembrar que o conceito de alimentos ultraprocessados tem raízes no Brasil, criado pelo professor Carlos Monteiro e sua equipe da USP. A Classificação NOVA, desenvolvida no Nupens/USP, identificou que esses produtos, altamente industrializados e crônicas como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares. 

Essa teoria, formulada no Sul Global, desafia os padrões tradicionais de pesquisa do Norte, que sempre focaram em nutrientes isolados, como gordura ou açúcar. Hall inicialmente questionava essa abordagem, mas suas próprias pesquisas confirmaram as descobertas brasileiras: alimentos ultraprocessados estimulam um consumo calórico maior. 

O pedido de Hall por colaboração, mesmo com a indústria que fabrica esses produtos, reflete uma tentativa de trazer mudanças no desenvolvimento de alimentos, enquanto Monteiro e outros brasileiros mantêm a posição mais crítica, de que esses produtos devem ser evitados.

Suicídio: internações aumentaram 25% em 10 anos

O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.502 internações relacionadas a lesões autoprovocadas em 2023 – um aumento de 25% em relação a 2014. O dado, divulgado pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede), destaca a crescente demanda por atendimentos de emergência ligados a tentativas de suicídio e autolesões: a média é de 31 internações diárias – e subnotificações podem esconder números ainda maiores. 

Os estados com maior aumento percentual de casos incluem Alagoas, Paraíba e Rio de Janeiro. A Abramede alerta para a necessidade de capacitar médicos de emergência para lidar com esses casos, reforçando a importância de uma abordagem rápida e humanizada. Os jovens de 20 a 29 anos foram os mais afetados em 2023, seguidos por adolescentes.

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