Bets: a saída está na proibição?
Foi apresentado, em nova edição da Revista Radis, um panorama da epidemia de jogos de apostas online no Brasil. Estudiosos e parlamentares debatem saídas para esta que é uma nova emergência de saúde pública
Publicado 27/08/2025 às 19:23 - Atualizado 27/08/2025 às 19:33
Mais do que a regulação, é preciso promover a “proibição total das apostas online no Brasil”, avaliou o pesquisador e psicólogo Altay de Souza, doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Revista Radis.
Na sua edição 275, publicada neste mês de agosto, o veículo apresenta um panorama da epidemia de apostas online no Brasil, que já é vista por estudiosos como Hermano Tavares, psiquiatra do Ambulatório de Jogo Patológico do Hospital das Clínicas da USP, como “uma nova emergência em saúde pública”.
Assinada por Jesuan Xavier, a reportagem de capa da revista ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reúne dados que ajudam a dimensionar o tamanho do problema. O número de atendimentos psiquiátricos ligados ao vício em apostas cresceu mais de 300% nos últimos cinco anos. 4 milhões de brasileiros são apostadores “de risco” – dentre estes, 52% seguem apostando mesmo após perdas significativas e 48% estão endividados. Jovens e pessoas das classes C e D são os mais atingidos.
Em entrevista ao Radis, publicada na mesma edição, Tavares desmonta a propaganda de que o setor traria benefícios econômicos para o Brasil, a despeito da crise de saúde mental que gera: “[O] jogo é assim tão bom para a economia? Eu acho que não, ou os bancos não estariam tão preocupados com o aumento da inadimplência (dívidas), o comércio não estaria reclamando da redução das vendas e os varejistas (supermercados) não estariam acusando a redução do consumo de alimentos. Vamos lembrar que o lucro exagerado de alguns será a perda de muitos”.
O arquivamento do relatório da CPI das Bets, que investigou os impactos dessas plataformas sobre o orçamento das famílias brasileiras, acende um sinal de alerta. O lobby do setor foi capaz de derrubar os oito meses de trabalho dos parlamentares – que, apesar de alguns limites, levantaram indícios robustos dos males causados pelo jogo, em especial à população mais pobre. Nesse cenário, não seria prudente banir ou coibir fortemente as apostas online?
Como explica a Radis, a imposição de regras duríssimas para essa modalidade não seria uma novidade no mundo. Após uma década em que causaram forte aumento no sofrimento mental e na lavagem de dinheiro, a China as proibiu em 2015. Por sua vez, a Coreia do Sul só autoriza uma única empresa a explorar o ramo.
“Tem que acabar a publicidade ligada a esportistas e influencers. O campeonato brasileiro já existia antes das bets e vai continuar existindo. Quando surgir a oportunidade, tenho certeza de que outros patrocinadores ocuparão este espaço”, sugere Tavares.
Combate à epidemia das bets ganha força
O governo de São Paulo sancionou, nesta segunda-feira (25), uma lei que cria o Programa Estadual de Conscientização e Tratamento aos Malefícios dos Jogos de Apostas Online e Cassinos Físicos. A iniciativa tem como objetivo enfrentar a epidemia dos jogos de apostas onlines a partir dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Os Caps deverão contar com equipes preparadas para tratar a dependência em jogos de azar, incluindo psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais.
O número de brasileiros que se deram conta que as apostas se tornaram um vício e procuraram ajuda profissional no SUS aumentou nos últimos anos. A quantidade de atendimentos cresceu em 206%, segundo dados do Ministério da Saúde. Rômulo Fernandes (PT), deputado que propôs a lei, alertou: “O vício em apostas é uma questão grave de saúde pública. Se não tomarmos atitude, isso pode se tornar uma nova pandemia nacional e no Estado”.
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