Amazonas: descontrole da pandemia recai sobre os trabalhadores
Um ano após o colapso no sistema de saúde que resultou nas mortes em massa no estado, ele voltou à fase vermelha. Poder público abandona profissionais: não há nem máscaras adequadas o suficiente
Publicado 01/02/2022 às 06:00 - Atualizado 31/01/2022 às 21:45

Estado emblemático que enfrentou um dos piores cenários da crise sanitária no país, o Amazonas registrou, na semana passada, a maior taxa de transmissão do vírus no país, e enfrenta novamente a fase vermelha. A Rt estava em 2,04 segundo dados da plataforma Loft Science – ou seja, cada 100 infectados podem transmitir a doença a outras 204 pessoas. A média brasileira é de 1,78 de acordo com o Imperial College de Londres. Há um ano, durante a segunda onda de covid-19, o sistema de saúde do Amazonas colapsou e a falta de oxigênio nos hospitais causou uma onda de mortes. Foi ainda “laboratório humano” para testes de medicamentos comprovadamente ineficazes pelo governo federal.
Embora menos letal, a variante ômicron provocou explosão de casos desde o final do ano passado. Novamente, o governo do estado age com negligência – dessa vez, com descaso especial sobre os trabalhadores da saúde. Uma reportagem do site Amazônia Real ouviu funcionários de três hospitais em Manaus. Funcionários denunciam a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e sobrecarga de trabalho causada por afastamento de profissionais por contraírem o coronavírus.
No Instituto de Saúde da Criança do Amazonas, a direção chegou a suspender os testes de covid-19 por causa do grande número de resultados positivos, que causou escassez de funcionários, conta uma enfermeira. “Máscara N95, só quando o funcionário está cuidando de pacientes já com covid. A questão é que a transmissão está sendo feita de funcionário para funcionário”, explica. No Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), um socorrista aponta a gravidade do deficit de profissionais: “Vai ser realizado um concurso público, agora, que a gente não consegue entender. Porque tem 20 e poucas vagas para condutor-socorrista e a gente vive numa cidade com mais de 2 milhões e 200 mil habitantes”.
Os sindicatos seguem cobrando as autoridades. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Área da Saúde do Amazonas (Sindsaúde), Cleidinir Francisca, afirma que representantes dos profissionais se reuniram diversas vezes com o poder público, mas os problemas continuam. “Eles (profissionais de saúde) reclamam muito da falta de profissionais. É um déficit muito grande de recursos humanos, de insumo, de EPIs, de pessoas para lidar com uma onda, e essa aqui já é a terceira confirmada pela Fiocruz”, relata a sindicalista. Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas negou que faltam EPIs para os profissionais de saúde da rede estadual.
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