Aborto: derrota da ultradireita se aproxima

• Campo progressista demonstra força perante retrocessos do Congresso • LGBTs e o acesso ao SUS • Os riscos da falta de serviços de hormonização para trans no SUS • Influenza resistente a antibiótico se espalha • Detectar doenças tropicais por IA •

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A semana começou do jeito que terminou: o PL 1904, que equipara o estupro após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio, continua sendo a principal pauta política. Ao vivo na GloboNews, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL/RJ), relator e defensor do projeto, admitiu aos entrevistadores da emissora que menores de idade que realizassem o procedimento poderiam ser condenadas a medidas socioeducativas. Isto é, uma forma de encarceramento a menores de 18 anos. Sóstenes fez mais um desafio: “alertou” que se seu projeto fosse engavetado, o Estatuto do Nascituro, uma legislação de teor mais duro, elaborada em 2007, poderia vir à tona. Mas ao longo desta segunda (17/6), a disposição do bloco de apoiadores do PL, apelidada de “bancada do estupro” arrefeceu e poucos ainda se animam a realizar o embate pela sua aprovação, inclusive nas redes sociais. 

Já a temperatura da opinião pública contrária ao projeto continua alta, assim como as manifestações. Na noite de ontem, foi a vez do movimento feminista de Recife organizar protesto contra o PL 1904 em suas ruas. Já a OAB classificou o projeto como inconstitucional e pediu seu arquivamento. Com a percepção da derrota na opinião pública, a oposição, liderada pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP/AL), parece recuar e aos poucos dá sinais de que o PL deve ir parar em alguma gaveta. “É preciso garantir o acesso ao cuidado adequado à proteção dos direitos de meninas e mulheres. O PL 1904 é injustificável e desumano”, resumiu Nísia Trindade.

Pesquisador lança livro sobre acesso ao SUS de LGBTs

O antropólogo e pesquisador Marco Antonio Gatti Junior lançou o livro Saúde mental da população LGBT no SUS: a experiência do Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam), um trabalho de campo que retrata a evolução dos serviços assistenciais do sistema público de saúde de Belo Horizonte. Em entrevista ao Brasil de Fato, Gatti Junior relata que optou por centros de atenção psicossocial não especificamente voltados a tal população a fim de compreender a profundidade dos obstáculos criados. Em sua avaliação, a ascensão conservadora dos últimos anos não bloqueou efetivamente os direitos de tal população. Mesmo diante de diversos estigmas sociais, o Cersam se revelou um espaço orientado pela chamada Reforma Psiquiátrica, cuja abordagem afastou do sistema a patologização do paciente. Ainda assim, questões de classe e aceitação, a exemplo do uso nem sempre respeitado do nome social de tais pessoas, seguem presentes na experiência cotidiana.

Mulheres trans seguem a encontrar barreiras na saúde

Reportagem da Agência Pública a partir da coleta de informações postadas em redes sociais retratou as dificuldades de mulheres trans acessarem o tratamento hormonal para conclusão do processo de transição de gênero. Apesar de haver lei favorável datada de 2013, que oferece tratamento de hormonização pelo SUS, são diversos relatos de dificuldades impostas pelo serviço público, desde a pouca quantidade de estabelecimentos de saúde que garante o tratamento até o próprio preconceito de profissionais da saúde. Dessa forma, a travessia de grandes distância para um dos 12 serviços ambulatoriais e 10 hospitalares em todo o Brasil e a automedicação são rotineiras na vida das pessoas que buscam o acesso aos hormônios necessários ao processo de adequação de gênero. Como mostrado na reportagem, há registros do uso de hormônios veterinários de fácil acesso para essa função, o que facilita o desenvolvimento de doenças como trombose, câncer hepático, infarto e AVC.

Variante da influenza se mostra resistente a antibiótico

Uma cepa do vírus H1N1, mais conhecido como influenza, se mostrou resistente ao fosfato de oseltamivir, o tamiflu. O vírus foi identificado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e é apelidado de “dupla mutante”, dada sua combinação patogênica. Por enquanto, a nova variante não é tida como ameaçadora, mas os pesquisadores que a identificaram alertam que já foi registrada em 15 países, onde aparece em cerca de 1% das amostras. Mais que isso, destacam que sua observação e sequenciamento podem ainda estar em fase muito primária. Quanto a outros antibióticos aplicados contra o vírus, os resultados seguem satisfatórios.

Hospital paulista testa sistema de detecção de doenças tropicais por IA

O Grupo Einstein tenta desenvolver um aplicativo para a detecção à distância de doenças tropicais, a partir do uso de um banco de imagens e uma inteligência artificial capaz de identificar algumas doenças. Com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o projeto promete se dedicar à identificação das doenças tidas como negligenciadas e pode reforçar o uso da telemedicina no acompanhamento de pacientes de áreas remotas. A primeira doença a ser testada pela tecnologia será a leishmaniose, bastante frequente na Amazônia e cujas feridas se confundem com picadas de mosquito – o que em muitos casos faz as pessoas demorarem a detectá-la e iniciar o tratamento. A análise das imagens ficaria a cargo de humanos. Mas há um problema grave que deve ser considerado, neste projeto: a criação de um banco de dados do sistema público de saúde com possibilidade de acesso pelo setor privado.

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