Doenças do coração mataram 400 mil em 2022

• Doenças cardiovasculares crescem em números totais • Aliança global contra a fome e a pobreza • Aborto por telemedicina é muito seguro • Dengue na Argentina • Racismo, baixa estatura e baixo peso • SUS terá de divulgar lista de cirurgias? •

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As doenças cardiovasculares voltaram a ser a principal causa de morte no Brasil, quase se igualando ao número de mortes por covid em 2021, pior ano da pandemia, mostra matéria da Pesquisa Fapesp. Segundo o relatório “Carga global de doenças e fatores de risco cardiovasculares”, divulgado em dezembro de 2023, aproximadamente 400 mil brasileiros perderam a vida devido a 18 doenças cardiovasculares em 2022. O estudo, parte do Global Burden of Diseases (GBD), revela que na chamada “América Latina Tropical” (foram pesquisados apenas Brasil e Paraguai) houve um aumento de 48,4% nas mortes cardiovasculares desde 1990, totalizando 408 mil óbitos em 2022. Apesar do aumento absoluto, o Brasil apresentou uma redução de 55,6% nas mortes relativas por doenças cardiovasculares ajustadas por idade, passando de 356 por 100 mil pessoas em 1990 para 158 por 100 mil em 2022. Mas os pesquisadores revelam que as melhorias foram desiguais: há menos casos no Sul e Sudeste, mas as doenças agora atingem mais nas regiões Norte e Nordeste, tanto nas capitais quanto em regiões onde há menos acesso aos serviços de saúde. “São necessárias a ampliação do acesso à atenção primária à saúde, que ainda não é universal, e a conscientização das pessoas para que tenham um estilo de vida saudável, incluindo dieta equilibrada e prática de atividade física”, conta a cardiologista Luisa Brant, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também colaboradora do GBD.

Aliança do G-20 poderá reduzir desigualdades?

O Brasil sediou, nesta semana, a primeira reunião técnica virtual da Força-Tarefa do G20 para estabelecer uma aliança global contra a fome e a pobreza, proposta pelo presidente Lula. O encontro discutiu o termo de adesão para países interessados e propôs financiamento por países ricos e grandes empresários para iniciativas contra a fome. Estudos indicam a necessidade de US$ 78 bilhões anuais para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030. A iniciativa busca focar nos mais pobres, apoiar pequenos produtores e promover inovação tecnológica. “O exemplo concreto foi citado: experiências na África em que é possível multiplicar quatro, cinco vezes a produção de alimentos apenas com a tecnologia”, disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, na reunião. O Brasil promete contribuir com conhecimento adquirido pela Embrapa e Fiocruz. O país enfrenta desafios após retrocesso nos programas sociais pós-2017, com a fome retornando, mas busca reativar e fortalecer iniciativas para eliminar novamente a fome no país. O encontro visa encontrar soluções e enfrentar desafios relacionados à produção sustentável de alimentos, proteção social e colaboração internacional eficaz.

Estudo reafirma segurança de aborto por telemedicina

Um estudo recém-publicado na Nature Medicine avalia a eficácia e segurança do procedimento de aborto medicamentoso feito por telemedicina, e foi relatado em detalhes pelo New York Times. Embora pareça um método complexo, na verdade a operação é bastante simples: a paciente é atendida por videochamada, dialoga com um profissional de saúde que avalia se sua gravidez está qualificada para o aborto dessa natureza e então recebe os medicamentos via correio, bem como as instruções para utilizá-los. Há acompanhamento e, caso seja necessário, a gestante é orientada a procurar um serviço de saúde para auxiliá-la. A pesquisa norte-americana avaliou quase 4,5 mil pacientes que interromperam a gravidez sem precisarem ir ao hospital. Constatou que a efetividade e a segurança do procedimento à distância são similares ao feitos presencialmente. Entre o grupo analisado, 97,7% concluíram o aborto com sucesso. Das 103 que precisaram de outras intervenções médicas, 15 tiveram complicações sérias – dez precisaram ser internadas. O estudo confirmam uma prática que uma médica brasileira vem lutando para disseminar no país, embora sofra perseguição em sua jornada. Helena Paro, tema de uma reportagem em vídeo produzida pelo Outra Saúde, dissemina conhecimento sobre as melhores práticas para interromper a gravidez nos casos previstos em lei – quando o bebê é diagnosticado com anencefalia, em caso de risco à vida da mãe e quando a gravidez resulta de um estupro. Assista.

Dengue explode na Argentina

A Argentina enfrenta um aumento alarmante nos casos de dengue, com 48.366 casos suspeitos ou confirmados registrados desde agosto de 2023 até o início de fevereiro – um drástico aumento em comparação com o mesmo período do ano anterior, que teve menos de mil notificações. A região do Cone Sul, que inclui Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, experimentou um crescimento de 254% nos casos suspeitos nas primeiras cinco semanas do ano, superior até ao Brasil, que teve alta de 218%. Até o momento, a rede de saúde argentina está conseguindo lidar com a demanda, que é mais alta principalmente nas áreas de fronteira com o Brasil e o Paraguai. No entanto, as autoridades alertam para a possibilidade de superar a capacidade operacional à medida que os casos continuam a se espalhar para outras regiões do país, alerta a Folha. Além disso, a situação é agravada pela crise social e econômica na Argentina, com a maior inflação interanual do mundo – e um governo que corta todo tipo de auxílio à população.

Como o racismo interfere no desenvolvimento infantil

Um estudo do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) revelou que a etnia/cor da gestante tem um impacto significativo na trajetória de ganho de peso e crescimento de seus filhos no Brasil. Publicada no BMC Pediatrics, a pesquisa aponta para maior desigualdade no desenvolvimento infantil, especialmente entre filhos de mulheres indígenas. Filhos de mães indígenas mostraram as maiores taxas de baixa estatura (26,74%) e baixo peso (5,90%), seguidas por crianças de mulheres pardas, de descendência asiática e de pretas – filhos de mães brancas apresentam os menores resultados. O estudo, que utilizou dados da Coorte de Nascimentos do Cidacs/Fiocruz Bahia, com mais de 4 milhões de crianças, destaca como a vulnerabilidade social das gestantes, associada ao racismo estrutural, afeta o crescimento infantil. Mulheres indígenas e pretas, com menor nível educacional e condições socioeconômicas precárias, foram identificadas como as mais vulneráveis.

PL quer fila de cirurgias pública

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a divulgar na internet listas de espera para cirurgias e procedimentos, incluindo hospitais conveniados. O texto, de autoria do deputado Ruy Carneiro (Podemos-PB), exige transparência e acesso às listas para gestores, profissionais de saúde e pacientes. As listas devem discriminar especialidade médica, modalidade dos procedimentos, estabelecimento de realização, número do Cartão Nacional de Saúde do paciente, data de agendamento e posição na lista. A divulgação deve ocorrer quinzenalmente, com atualizações baseadas em critérios médicos. A nova regra entrará em vigor 90 dias após a publicação, se virar lei. O projeto também abrange a divulgação de resultados de exames e protocolos clínicos.

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