Quem invadiu a Embaixada venezuelana?

Duas semanas após atentado que manchou reputação internacional do Brasil, nada se investigou. Repórter acompanhou ato terrorista e narra: PM e Itamaraty foram cúmplices; é possível identificar agressores e descobrir quem os financia

Imagem: Reuters/Brasil
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Na quarta-feira, 13 de novembro, a Embaixada da República Bolivariana da Venezuela foi invadida às 4h da manhã. A ação foi orquestrada pela autointitulada embaixadora da Venezuela no Brasil, Maria Teresa Belandria, e colocou em risco a vida de mais de 50 pessoas, abriu um precedente vergonhoso na diplomacia brasileira, mas, sobretudo, desestabilizou a cúpula dos BRICS – principal meta do governo norte-americano. Mas, afinal, quem invadiu a Embaixada da Venezuela ?

A missão diplomática da Venezuela é formada, majoritariamente, por mulheres diplomatas que residem na Embaixada com suas famílias. No dia da invasão, ficaram reféns, por mais de 15 horas, de uma quadrilha que alega ter “sido convidada a ocupar as instalações”. No entanto, esses “convidados” precisaram cortar cerca elétrica, render o porteiro, fazer uma barricada com carros e do apoio da Polícia Militar para impedir o funcionamento e a entrada de autoridades e do corpo diplomático.

Imagem: Matheus Alves (@imatheusalves)

O responsável pela embaixada, Freddy Meregote, denunciou imediatamente aos policiais presentes que se tratava de uma invasão. “Estas pessoas não foram convidadas. Quem é convidado não precisa invadir de madrugada uma residência. Por exemplo, este carro que impede a entrada e saída, qual o objetivo de alguém que é convidado colocar um carro deste modo?”. A polícia preferiu usar gás de pimenta e definir quem tinha ou não autorização para entrar na Embaixada, o que infringe completamente a soberania da Venezuela, a Constituição e tratados internacionais como a Convenção de Viena, por exemplo.

O controle do portão da Embaixada passou a ser feito pela PM. Além de sequestradas e sequestrados, estávamos sob vigilância da PM. O que não impediu que agressores parassem com as ofensas e ameaças. Muito menos, que as invasoras e os invasores fossem retirados das instalações. “Vamos matar você. Mas, primeiro vamos acabar com sua mãe”, disse um deles para Freddy Meregote. Outro dizia-me: “cala a boca, brasileira aqui é a primeira que vamos matar”.

Até o fechamento desta reportagem, nenhuma autoridade do Itamaraty, ou das forças policiais contatou a Embaixada para mais informações. E, até o momento, nenhum invasor ou invasora foi identificado pela Polícia. Por isso, nós, buscamos responder: quem são eles? E por que invadiram a Embaixada?

Carro obstruindo a entrada e saída da Embaixada. Imagem: Jul Pagul/OP

A Polícia Federal enviou apenas duas pessoas para o conflito. A PM tinha um grande efetivo no local, inclusive forças como cavalaria e o BOPE. Apesar de ter passado 15 horas na presença dos sequestradores, não identificou as cerca de 20 pessoas uniformizadas, possivelmente armadas, que invadiram as instalações da Venezuela.

Mas, nós tiramos fotos das placas dos três carros utilizados como barricadas. Um destes carros está em nome Maria do Carmo Zinato. Esposa de Alberto Palombo, na rede social Linkedin afirma ser “Presidenta do Rotary Club Internacional de Brasília”.

O Rotary Club Internacional pode estar envolvido no ato terrorista na Embaixada da Venezuela. E a Rede Interamericana de Recursos Hídricos, também. É que Alberto Palombo é representante da RIRH. A sua esposa e proprietária do veículo utilizado no atentado terrorista, Maria do Carmo Zinato é também Presidente do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Saneamento Ambiental e Gestão de Recursos Hídricos IBEASA. Palombo teria sido nomeado pelos autointitulados diplomatas, como parte da missão de Guaidó (autointitulado presidente da Venezuela).

Freddy Meregote, responsável pela Embaixada, comemora saída dos invasores. Imagem: Matheus Alves (@imatheusalves)

Interesses

Muitos estudos e análises apontam que, para saquear os recursos naturais, como a água é necessário desestabilizar politicamente alguns países. Bolívia e Venezuela – assim como junto à Brasil, Equador, Peru e Colômbia – possuem o aquífero Amazonas que, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, é o maior aquífero do mundo.

Nas primeiras horas da invasão, Palombo foi expulso da Embaixada pelo deputado Paulo Pimenta (PT/RS), mas o carro registrado em nome de sua esposa permaneceu obstruindo a entrada. Do lado de fora, ele incitou violência e tumulto e acabou detido pela Polícia Militar, conforme relata reportagem do Correio Braziliense e do Conversa Afiada.

Palombo expulso da Embaixada. Imagem: Matheus Alves (@imatheusalves)

Surpreende que não exista uma nota sequer sobre essa invasão no site do Itamaraty, afinal, este episódio forçou a atual gestão do Ministério das Relações Exteriores (MRE) a fazer, em 11 meses, seu único contato com o corpo diplomático da Venezuela Bolivariana. O Coordenador-Geral de Privilégios e Imunidades (CGPI-MRE), Maurício Correia, foi ao local, mas em nenhum momento repudiou as violações e violências da invasão. Muito menos, desmentiu o senhor Thomaz Alejando Silva Guzman, líder da operação e autointitulado Ministro Conselheiro, que afirmava a todos os presentes que tinha ordens da chancelaria brasileira para invadir a embaixada.

Ao insistir para o comandante da PM que invadia a Embaixada com ordens do Itamaraty, na presença do representante do Itamaraty, o invasor Thomaz se colocava como “cumprindo ordens”. Mas, ordens de quem ? E que tipo de “operação” era aquela que violava território, direitos e a integridade física e moral de dezenas de pessoas?

Foi Guzman quem disse a esta repórter: “Cala a boca, porque brasileira vai ser a primeira a morrer”. Nossa reportagem também acompanhou seus argumentos, juntamente com o representante do MRE/Itamaraty, para convencer a PM a manter a proibição da entrada de advogados, deputados e senadores na Embaixada. Ao Coronel da PM, responsável pela operação, Correia, afirmava: “Estou cumprindo ordens. Este pessoal não foi expulso por questão de tempo. Não deu pra notificar a tempo”.

“Notificar a tempo” foi mais uma das muitas afirmações do representante do MRE/Itamaraty. “A tempo de que?”, perguntávamos como reféns, enquanto apurávamos vários indícios de que a invasão foi uma ação orquestrada com o governo brasileiro.

A data a qual o encarregado do MRE se referia, e que reitera a conivência do Itamaraty com o ato terrorista, é a abertura da Cúpula dos Brics. O sequestro da Embaixada da Venezuela foi premeditado, para coincidir com a abertura da Cúpula dos BRICS. Conforme noticiou a BBC e o podcast da Folha de São Paulo, a invasão à Embaixada da Venezuela ofuscou a abertura da Cúpula.

Desta forma, no mínimo, quatro situações relevantes foram criadas:

-Desestabilizou a Cúpula formada por Rússia, China, Índia, Brasil e Africa do Sul, fruto da política dos governos Lula e Dilma e que, pelo fato de não ter a presença dos EUA, desagrada os interesses norte-americanos;

-Incitou a instabilidade na capital federal, no Brasil e na América Latina. Paralisou politicamente nosso país sob uma “cortina de fumaça” e promoveu o medo, a violência e o caos;

-Enfraqueceu e desmoralizou as relações internacionais brasileiras. Constrangeu o Brasil frente a aliados históricos da Venezuela Bolivariana, como Rússia e China, ambas potências bélicas e dispostas a defender o governo soberano e legitimamente eleito de Nicolás Maduro;

-Abriu precedente histórico para que outras embaixadas sejam invadidas por quadrilhas autointituladas governantes, para que sequestradores estrangeiros violem e agridam cidadãs e cidadãos brasileiros.

Maurício Correia, representante do Ministério das Relações Exteriores, tenta justificar o injustificável

Vale também rememorarmos a trajetória do atentado terrorista a Embaixada da Venezuela: na quinta, 07/11, o Brasil pela primeira vez vota a favor do bloqueio a Cuba (desde 1992, a Assembleia aprova por unanimidade o fim do embargo à Ilha); na sexta-feira, 08/11, encerra-se a reunião do grupo de Lima – que congrega países interessados em desestabilizar e desrespeitar a soberania da Venezuela — sediada em Brasília; o presidente Lula sai da prisão. No sábado, 09/11, há um princípio de golpe militar-neofascista na Bolívia. No domingo, 10/11, um helicóptero do Exército quase pousa na Embaixada. Na mesma data, o presidente Evo Morales é obrigado a renunciar. Na segunda-feira, 11/11, há a abertura do Fórum Brics dos Povos na Câmara Federal e ato na Embaixada da Bolívia. Em 13/11, na madrugada de terça pra quarta, a Embaixada da Venezuela é invadida.

Personagens envolvidos

O autointitulado Guzman também publicou um vídeo nas redes sociais, seguido por alguns veículos, com a fakenews de que o corpo diplomático de Maduro havia abandonado a Embaixada – mentira compartilhada, inclusive, pelo deputado Eduardo Bolsonaro, que declarou ao Globo que visitaria o local, escoltado pelo BOPE, para apoiar os terroristas.

A mentora intelectual do atentado terrorista é a autointitulada embaixadora da Venezuela no Brasil, Maria Teresa Belandria. Nas redes sociais, ela publicou um vídeo no qual agradece ao governo Bolsonaro e ao 5º Batalhão da Polícia Militar pelo apoio à ação terrorista. A revista Veja publicou uma declaração importante da diplomata impostora, que reforça uma ação orquestrada pelo MRE, governo dos EUA e a PM: “Abriram-nos a porta, entramos pacificamente e registramosMaurício Correia – pergunto a ele como proceder, pois os terroristas em flagrante, durante as 15h de sequestro em nenhum momento ele sequer desmentiu o líder da invasão sobre a ordem ter vindo da chancelaria brasileira. E nem repudiou a violência da invasão. o inventário para registrar o estado que encontramos a embaixada. Às 5h notificamos a Chancelaria, a direção americana e também o batalhão da Polícia Militar”, disse.

Maria Teresa Belandria, embaixadora venezuelana autointitulada, assume vínculos com governo e polícias na invasão

A revista Veja também noticiou a invasão e qualificou como líder o Major José Gregório Basante, desertor do Exército de Maduro, um dos mais agressivos durante a ação na Embaixada, onde participou desde o começo. Além do Major, outra mandante do ato Terrorista é Gabriela Maria Alvarez Bacallado, assessora de imprensa da embaixadora impostora que, no início, se mostrou agressiva com reféns e, depois, passou todo o sequestro digitando no celular. A sequestradora não esboçou reação quando uma mulher da quadrilha passou mal – o encarregado do governo bolivariano, Freddy Meregote, foi quem prestou socorro a invasora.

Além dos cinco mandantes, mais de 20 pessoas participaram da invasão. Entre elas, duas mulheres. Há suspeitas de que entre os invasores haviam bolivianos, o que agrava ainda mais o crime, pois o agenciamento de pessoas estrangeiras para promover ato de terrorismo na Embaixada da Venezuela é agravante na ruptura dos pactos e jurisprudências violados durante o ocorrido. Invasores e invasoras estavam uniformizadas e tinham rádios, suspeita-se que estavam armados ou de possuírem armamentos nos automóveis utilizados como barricada.

Reforçamos quem são as lideranças do ato terrorista na Embaixada da Venezuela, durante a madrugada de 13/11/2019, em um sequestro que durou 15h e marcou a história da diplomacia brasileira, hoje aliada do neofascismo:

-Maria Teresa Belandria, autointitulada embaixadora venezuelana no Brasil;

-Alberto Palombo, que representa a Rede Interamericana de Recursos Hídricos, e sua esposa Maria do Carmo Zinato, presidenta do Rotary Club Internacional, Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Saneamento Ambiental e Gestão de Recursos Hídricos (IBEASA), apresentadora da TV Supren e “ativista da ética e dos Direitos Humanos”. Ambos mercadores dos recursos hídricos brasileiros;

-Thomas Alejandro Silva, autointitulado Encarregado de Negócios da Embaixadora e chefe da invasão. Agressor de Mulheres, sequestrador e invasor do território venezuelano no Brasil;

-Major Gregório Basante, desertor do exército de Maduro, agressor, violador de território alheio e sequestrador;

-Gabriela Maria Alvarez Bacallado, fotógrafa e autora de vídeo compartilhado pelo Uol onde afirma: “Cala-te, nem venezuelana eres”. Assessora de imprensa da embaixadora impostora.

Chancelaria envolvida?

Também reforçamos que o MRE e o deputado Eduardo Bolsonaro precisam ser responsabilizados pela conivência com o ato terrorista. A Polícia Militar do DF também deve explicações para toda sociedade e para vítimas sobre a conjuração com sequestradores e a intervenção ilegítima no comando da Embaixada, o que infringe a Constituição e pactos internacionais como a Convenção de Viena.

Ativistas e movimentos sociais dirigem-se à Embaixada em solidariedade. Imagem: Jul Pagul

Depois de 15 horas de invasão, finalmente, a quadrilha saiu pelas portas do fundo da Embaixada. A escolta policial comemorou. E, naquele dia, foi mais uma vez revelada a natureza do golpe na Venezuela. Um governo que dialoga com invasores, governo, policiais e ainda tem amplo apoio popular e midiático. E, do outro lado, um grupo de impostores, violentos, oportunistas, invasores e sequestradores.

Ainda precisamos responder algumas perguntas sobre o que ocorreu na Embaixada da Venezuela naquela quarta-feira: quem financiou a ação? Quem financia o esquema da Embaixadora autointitulada? Quando será feita Justiça e reparados todos os crimes cometidos em âmbito Distrital, Federal e Global? Isto será tema das nossas próximas reportagens. Por enquanto, precisávamos mesmo explicar: não foi invasão, foi terrorismo.

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