Direito ao aborto na Argentina: Vencemos!

“As lutas feministas sempre pressionam os limites. Os votos que faltaram não são nada mais do que uma pedra no caminho. Não foi ontem. Mas será amanhã”

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Por Mariana Carbajal |Tradução: Mauro Lopes

O Senado argentino rejeitou ontem o projeto de lei que legalizaria o aborto, por 38 votos a 31. O tema mobilizou milhões de mulheres, desde 2006. A luta moveu a Câmara dos Deputados, que aprovou a proposta há semanas. A jornalista Mariana Carbajal, uma das líderes do movimento no país, escreveu, horas depois da votação, este balanço emocionado, no “Pagina 12” (M.L.)

Vencemos. Às mentes vetustas se impôs uma juventude fervorosa que encontrou no pano verde um símbolo de igualdade.

Vencemos o fundamentalismos, porque ficou patente e agora abalado o patrocínio financeiro do culto católico pelo Estado, e a pretensão da hierarquia eclesiástica de influir sobre as políticas pública de saúde e educação. Agora já se vendem panos laranjas nas ruas, cor e bandeira da causa da separação da Igreja e do Estado.

Vencemos, porque os argumentos baseados em crenças religiosas desnudaram as mentiras dos que são, na verdade, anti-direitos.

Vencemos, porque o aborto deixou de ser um tabu e saiu do armário e se descriminalizou socialmente.

Vencemos, porque as mães e avós contaram a suas filhas e netas sobre seus abortos, porque as adolescentes levaram o debate para suas casas e escolas.

Vencemos, porque o mundo olhou para nós e descobriu que na Argentina as mulheres ainda não têm o direito de decidir sobre nossos corpos e fomos vergonhosamente expostos como um país onde as mulheres ainda não gozam de uma cidadania plena. Eles nunca nos deram nada. Para estudar nas universidades, para para ter direito de votar, para decidir sobre a vida dos nossos filhos, para ter acesso gratuito a anticoncepcionais, sempre tivemos que tomar as ruas e lutar. As lutas feministas sempre pressionam os limites.

Os votos que faltaram descriminalizar e legalizar o aborto não são nada mais do que uma pedra no caminho. Não foi ontem. Mas será amanhã.

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