Bolsonarismo e planejamento predatório

Brasil atinge 100 mil mortos por covid e crise avança, mas presidente só tem olhos para 2022. Ele almeja criar um programa social para chamar de seu. Mas deve fidelidade à agenda neoliberal, fiscalizada por Guedes, que o mantém no poder

Imagem: Cau Gomez
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O pânico causado pela crise sanitária abala o mundo que, embora a maioria dos países esteja iniciando um processo de abertura gradual e a retomada dos serviços, pessoas continuam perecendo e vacinas curativas ainda não são uma realidade confiável, segundo afirmam especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo os mesmos, vacinas curativas e preventivas podem demorar anos até que as testagens possam finalmente comprovar sua eficácia, atender a demanda mundial é outro passo.

Neste ínterim, sob o avanço do conservadorismo, estados e o capital se reorganizam. A política econômica neoliberal não foi sequer arranhada pela crise sanitária e emerge dos escombros da paralisação econômica ainda mais concentradora, globalizada e predatória. Muitos setores da economia tiveram prejuízos consideráveis, outros, porém obtiveram lucros extraordinários. No entanto, não alteraram a geopolítica dos ricos e endinheirados, bancos, empresas de tecnologia, gigantes dos alimentos e indústria farmacêutica continuam a figurar entre as empresas mais lucrativas.

O planejamento neoliberal pós-pandemia está centrado em uma ampla reorganização produtiva, automatizada, especulativa e financeirizada. No Brasil, por exemplo, que fechou o ano de 2019 com 12,6 milhões de desempregados e hoje temos 12,8 milhões de pessoas na condição de desempregados, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua e divulgados essa semana pelo IBGE, o vírus encontrou um estado destroçado por quatro anos de políticas neoliberais e sufocamento do orçamento público. A reestruturação produtiva neoliberal, assim como a crise é globalizada, todavia, cada país precisa tomar suas próprias iniciativas para coibir a desestruturação da sua rede protetiva de empregos, seguridade social e rede socioassistencial, especialmente em períodos adversos como o que enfrentaremos amanhã.

O pesquisador urbano Guy Baeten escreveu “o clima neoliberal é tal que tornou uma política urbana aceitável não resolver os problemas dos bairros e populações pobres e sim eliminar esses locais”. Assim é conduzida a crise econômica e sanitária no Brasil, tendo o estado como cúmplice e fiel depositário da política neoliberal. Com Paulo Guedes à frente “passando a boiada”, ricos e endinheirados aumentam suas fortunas, enquanto pobres, trabalhadores precarizados e donos de pequenos comércios são eliminados pelo vírus ou por desleixo do governo.

Em nenhum momento da crise Bolsonaro agiu com a firmeza da maioria dos lideres dos demais países que se impuseram perante o capital, ineditamente, em nome da saúde. Sempre titubeou e acenou ao mercado que não concordava com as medidas restritivas e a recomendação de médicos e especialistas, ou seja, o mantra do liberalismo econômico foi a cartilha de agitação e propaganda do presidente, enquanto seus ministros mantiveram a agenda de retrocessos o quanto podiam.

Todavia, Bolsonaro têm um projeto de longo prazo e já iniciou sua campanha eleitoral para 2022. Apesar das pesquisas, sabe que sua figura sai da crise desgastada e contestada pela falta de capacidade administrativa durante a crise, a melhoria de sua aprovação perante o povo brasileiro deu-se baseada nos R$ 600,00 do auxílio emergencial, que é conjuntural. Ele busca anunciar algum programa de transferência de renda permanente que possa chamar de seu, provavelmente usando as igrejas neopentecostais como vetor de capilaridade e parceria estratégica, mas Paulo Guedes e a equipe econômica não parecem dispostos a frear a agenda neoliberal, rentistas e financistas, predadores do orçamento público mantêm-se a espreita, como abutres que observam a queda de um moribundo. Nesse caso milhões de moribundos.

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