Refinarias: os diamantes de Bolsonaro o Brasil dilapidado
Governo dá pequeno passo para recuperar a Petrobras. Está em jogo muito mais que a possível propina paga pelos sauditas ao ex-presidente
Publicado 10/01/2024 às 18:53
Demorou muito. Mas o presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, anunciou segunda-feira (8/1) que a estatal abriu processo administrativo para investigar a estranhíssima venda da segunda maior refinaria do petróleo do Brasil a um fundo árabe, em 2021. A operação se deu depois de duas visitas de Bolsonaro aos Emirados Árabes Unidos. O então presidente voltou carregado. Recebeu joias, esculturas e relógios feitos em ouro e cravejados com diamantes e outras pedras preciosas. Meses depois, o país vendia a histórica Refinaria Landulpho Alves, no Recôncavo Baiano, para a Mubdala Investment Company, controlada pelos monarcas presenteadores. A Controladoria Geral da União acaba de apontar, em relatório, que a operação foi feita a preço extraordinariamente baixo, em momento inadequado – pois a pandemia povoava de incertezas o futuro da indústria petroleira.
A propina é provável e precisa ser investigada e punida. Mas está em jogo muito mais que um agrado bem recompensado. Como mostrou uma série de textos de Outras Palavras (1 2 3 4), é possível reverter o desmonte da Petrobras. Nos governos Temer e Bolsonaro, a maior empresa brasileira foi amputada de tudo o que as corporações de seu setor mais valorizam. Desfez-se de R$ 244 bilhões em ativos preciosos. Vendeu a BR, distribuidora de combustíveis, por uma ninharia. Abandonou os gasodutos. Deixou de produzir fertilizantes. Esteve a ponto de vender a Brasken, seu braço petroquímico. Seus investimentos desabaram. Sua preocupação principal era gerar lucros descomunais aos acionistas (em sua maior parte, grandes investidores estrangeiros). Como admitiu o então presidente, depená-la era parte de uma estratégia para privatizá-la.
Tudo isso pode ser revertido, mostrou à época, em entrevista, o jurista Gilberto Bercovici, titular da cadeira de Direito Econômico no Largo São Francisco. A Petrobras pode transformar-se numa empresa de energia e ser central num projeto de investimentos públicos para reconstruir o país em novas bases, argumenta o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Antes tarde do que nunca. Oxalá a investigação anunciada por Jean Paul Prates seja um começo.