Que mal acomete os partidos de oposição?

Diante dos serviços públicos em colapso, povo endividado e 13 milhões de desempregados, esquerda deveria propor soluções inteligentes para sair da crise. Mas, inerte, afasta-se de sua base e abre espaço para aventureiros e liberais nutella

Bobby Fabisak/JC Imagem
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Por dois dias seguidos, a matéria principal do caderno de economia da Folha de S.Paulo é sobre o horror do desemprego e do subemprego no Brasil.

Na de hoje (29), vêm do Insper, da FGV, da LCA Consultores, do próprio corpo técnico do IBGE sob o tacão bolsonarista, as interpretações dos dados que fundamentam alertas sobre os riscos do cenário e críticas à política econômica que gera o desemprego e subemprego, os tornando quase estruturais.

Alon Feuerwerker, analista político da empresa de RP e assessoria de imprensa FSB, examinando as relações entre os três poderes da república, escreve:

“Então está tudo bem? Não, tem aquele probleminha: quase 13 milhões de desempregados, fora os subempregados e desalentados em geral. Eis a fenda na represa, fenda que se não for fechada embaralha bem esse jogo. Ninguém vai querer ser sócio do fracasso. Mas enquanto não chega o dia do juízo político o bolsonarismo aproveita o mar de almirante para radicalizar na guerra de posição, inclusive no campo cultural. Já que Gramsci está na moda”

Arthur Cagliari abre a reportagem que assina no jornal dizendo:

“O trabalho informal cresce de maneira persistente, quebrando recorde atrás de recorde. Se por um lado isso indica que há um respiro para quem precisa ganhar a vida, por outro, a lenta retomada do emprego formal, com carteira assinada, sinaliza que uma recuperação robusta no mercado de trabalho tende a demorar.

Mantido o ritmo atual de criação de vagas, a taxa de desemprego deve cair aos níveis pré-crise em 2024, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

Na percepção deles, o aumento contínuo da informalidade em velocidade muito superior à criação de vagas formais indica que ainda há desconfiança dos empresários sobre a retomada econômica, o que trava investimentos e a consequente geração de empregos”

O PT, há mais de um mês, lançou uma proposta de alta qualidade, enorme facilidade de compreensão, fortemente unitária e que responde muito bem aos interesses, necessidades e desejos da maioria dos brasileiros.

Infelizmente, parece ter de fato lançado o Plano Emergencial de Emprego e Renda (PEER) na proverbial sexta gaveta, pois dele não fala, não procura adesões, não o coloca no centro de sua atuação política.

PEER? Ninguém sabe, ninguém viu.

De PSOL, PCdoB, PDT, PSB, PCB, PSTU, nem isso.

Impera, nos partidos de oposição, o silêncio dos nada inocentes, sob o disfarce de um espetáculo de som e luz sobre tudo e mais um tanto, uma algaravia sem centro e sem norte.

Fala-se de qualquer coisa, menos sobre serviços públicos em colapso, sobre o endividamento escorchante das famílias e sobre desalento, subutilização, subemprego e desemprego.

Já a insperiana Juliana Inhasz fala do que vê e sabe:

“Investidores e empresas ainda não estão confiantes em relação à retomada. Então, ninguém quer dar um passo forte e contratar de maneira formal”, diz Juliana Inhasz, economista do Insper.

“Se não há perspectiva de crescimento duradouro, já que as reformas demoram para sair e os sinais estão trocados da economia, o mercado acaba apostando em uma contratação ‘com menos compromisso’.”

Narra a FSP:

“Para Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, a conjuntura do país tem forçado pessoas que não trabalhavam (seja porque estudavam, tinha alguma renda guardada ou por não precisar) a procurar emprego, engrossando o total de desocupados no país.

Na sua avaliação, esse cenário deve persistir ainda por muito tempo e isso vai fazer com que a queda do desemprego ocorra de forma lenta e gradual. ‘Projetamos que essa taxa só vai cair na média anual abaixo de 10% em 2024’, diz”.

É o mesmo Cosmo quem recomenda:

“(…) cautela com a ideia de que a informalidade é um fenômeno do mundo moderno que ganha espaço no Brasil. Em parte, diz ele, é verdade que há novas modalidades de atuação profissional, mas o fenômeno ocorre de maneira forçada e ainda pouco estruturado no país.

‘A crise lá atrás pode até ter antecipado um movimento estrutural de mudanças no mercado de trabalho, mas por ser seguida de uma retomada lenta está gerando uma debilidade na oferta de emprego de mais qualidade’”

De volta à FSP:

“Mas não é apenas a falta de emprego que indica que o mercado está demorando para reagir. Tanto os trabalhos formais quanto os informais emitem sinais sobre a dificuldade de retomada.

Adriana Beringuy, analista da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, diz que isso é nítido na média dos salários. ‘Mesmo com mais pessoas trabalhando, esse crescimento não foi suficiente para aumentar a massa de rendimentos da economia, porque as pessoas estão se inserindo com salários mais baixos’.

No caso das vagas celetistas, os empregos que abrem são justamente aqueles que pagam de um a dois salários mínimos e exigem menos qualificação.

De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em agosto foram abertas 42,4 mil postos formais com salários de até um salário mínimo. Outras 99,8 mil vagas aberta naquele mês ofereceram salário de até dois salários mínimos. Ao mesmo tempo, os saldos de vagas com rendimentos superiores ficaram negativos”

Enquanto isso, tramita na Câmara Federal a nova legislação sobre salário mínimo, para o qual a proposta de Paulo Ipiranga é que não acompanhe nem a inflação, e Centrais Sindicais e partidos de oposição dedicam zero atenção ao assunto.

Afinal, de que mal estão acometidos os partidos de oposição? Umbiguismo? Tendência ao suicídio? Personalidade sociopata que impede até empatia com o drama cotidiano de seus apoiadores e eleitores? Perda de sinapses ativas?

A política segue a natureza em pelo menos uma coisa, a tendência inexorável ao preenchimento do vácuo.

Ou os partidos antiliberais se lançam no comando da demanda por soluções imediatas para o quadro de horror que é do desemprego, do subemprego, da subutilização e do desalento, ou muito rapidamente aventureiros liberais, da linha “nutella”, ocuparão inteligentemente o vazio criado por nós.

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