Por que as aposentadorias eletrocutam neoliberais

Bolsonaro quer retomar, já no início do ano, uma contra-reforma da Previdência — agora, ainda mais extremada. Pode sofrer enorme derrota, desde que a oposição finalmente desperte…

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Por Artur Araújo

A metáfora do “terceiro trilho de metrô”, aquele que frita quem o toca, é muito adequada para se compreender as enormes dificuldades para a realização do sonho liberal de deformar e até mesmo destruir a previdência estatal no Brasil. É passivo, está lá quietinho, mas ai de quem mexe nele.

Mesmo sem a presença nas ruas de movimentos de protesto em massa, Temer embatucou e não conseguiu do Congresso – sempre de olho no voto – a aprovação de qualquer deforma. J. Messias, sob pressão selvagem de Homer Cado e de seus porta-vozes travestidos de jornalistas, agora se defronta com a mesma armadilha metroviária.

Se a oposição passar os olhos em artigo publicado no Valor de hoje (10), assinado por Fabio Graner, terá em poucos parágrafos uma ótima pista de por onde religar-se a multidões e seus interesses diretos, inclusive milhões de votantes no 17.

Os governos atual e futuro certamente sabem do potencial mortífero do que ali se descreve e que copio abaixo:

“Pelas contas apresentadas no ‘Informe de Previdência’ de junho, sem o pagamento de aposentadorias e pensões pelo INSS, quase 93 milhões de brasileiros estariam na pobreza (ante os 62 milhões efetivamente verificados em 2017). Isso foi ignorado no material da semana passada [balanço da gestão Temer], bem como nos discursos econômicos realizados nos últimos dois anos.

Em grande medida, é por esse impacto gigantesco sobre a vida real de dezenas de milhões de brasileiros que esse tema é alvo de tanta resistência e temor dos políticos – sem ignorar a ação dos poderosos lobbies de servidores contrários à perda de privilégios.

Ao enfatizar que apenas 3% da Previdência beneficia os 20% mais pobres, a Fazenda, talvez sem perceber, contribui também para a desconfiança em torno da ideia de reforma. A renda média do brasileiro é muito baixa, pouco acima de um salário mínimo, e a vasta maioria da população (mais de 80%) tem renda inferior a R$ 3 mil. Para economistas do governo, isso pode até ser considerado rico, mas certamente não é como se percebe a maioria das pessoas que, com suas aposentadorias e pensões, fecha com muito custo suas contas do mês.

A falta dessa sensibilidade ajuda a entender por que, além do fator Joesley Batista, o atual governo fracassou em aprovar seu projeto no Congresso, que na versão saída da Comissão Especial da Câmara já estava com um formato bastante razoável.”

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