Paris reage aos SUVs e à ditadura do automóvel

Plebiscito aprova triplicar o preço do estacionamento. Outras cidades ensaiam recuperar as ruas para a vida social

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Uma consulta popular aprovou, neste domingo: a tarifa para estacionar uma SUV (sigla em inglês para “veículo utilitário esportivo”) em Paris triplicará, passando a custar 18 euros por hora, ou cerca de R$ 100. A decisão, adotada por 54,55% dos votantes, ainda passará pelo legislativo local, mas reflete uma interessante contradição. Os possuidores de automóveis optam de forma crescente por este tipo de veículo. Originários dos EUA, eles já representam 46% da venda de carros novos na França. No entanto, as sociedades reagem – inclusive devido à emissão de gases poluentes (ao menos 20% maior) e aos riscos aos pedestres. Um vasto estudo nos EUA revelou que a possibilidade de morte, num atropelamento, cresce cerca de 45%, quando se trata de um auto peso-pesado. Matéria publicada em dezembro passado, pelo no jornal londrino The Guardian, resenha as diferentes medidas em curso, em diversos países europeus, para restringir a circulação geral de veículos. Em alguns lugares, elas têm alcançado êxito visível. Na própria Paris, o uso do automóvel caiu 45%, comparado aos anos 90. No mesmo período, a participação do transporte público cresceu 30% e a das bicicletas multiplicou por dez. O texto chama atenção para o fato de o uso maciço do automóvel ter transformado o próprio desenho das cidades. Por séculos, as ruas foram espaço de múltiplas formas de socialização humana: trabalhar, comerciar, brincar, por exemplo – além de caminhar, é claro. Os deslocamentos não-pedestres eram raros. Tudo se transformou a partir dos anos 1950. As restrições atuais podem ser um sinal de autocrítica coletiva.

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