O Efeito Wyborowa e o bolsonarismo

De olho nas eleições de 2020, ultradireita polonesa subiu salários e aposentadorias e lançou planos de reestatização. Exemplo, se seguido por Bolsonaro, poderia recuperar sua popularidade e ocupar vácuo deixado pela oposição

Dia da Independência da Polônia, promovido pelos ultraconservadores (Kacper Pempel / Reuters)
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A partir de 2015, os governos de um partido decidiram enfrentar um cenário em que, só no Reino Unido, vivem 800 mil cidadãos desse país de 38 milhões de habitantes, dos quais 1,3 milhão em sua capital.

O que fizeram?

Elevaram os gastos sociais; passaram a estimular o consumo interno e o aumento dos salários; lançaram planos de (re)estatização, inclusive bancária, e de suporte às empresas estatais; implantaram um programa de renda que paga às famílias mais de R$ 500 por filho, o que expandiu o consumo nacional em 3%; cidadãos não pagam imposto de renda enquanto não completam 26 anos; serão executados aumentos nas aposentadorias e aumentos salariais reais de 15% nos próximos quatro anos; a taxa de desemprego é de 3,8% e a de inflação, inferior a 3%.

O partido é o ultradireitista e überconservador PIL.
Governa a Polônia, é “referência teórica” do bolsonarismo e “modelo” propagandeado por Steve Bannon e sua claque.

As oposições brasileiras, deliberadamente, têm deixado um extenso vácuo. Perderam empatia e não são mais solidárias à maioria do povo.

Ignoram seus dramas maiores – desemprego e subemprego, baixos salários (com o salário mínimo sob forte ameaça), dívidas com custos escorchantes, serviços públicos em colapso acelerado – e dançam à beira do abismo ao nem falar desses temas, o que dirá propor saídas emergenciais e organizar multidões para exigir sua imediata adoção.

As marcas atuais das oposições são a algaravia, o umbiguismo e uma doentia fascinação pelo circo superestrutural.

O governo de J. Messias vem sendo corroído por crescentes insatisfação, desilusão e irritação exatamente porque não move uma palha nem para a atenuação do horror crescente que assola a maioria dos cidadãos brasileiros.

Mesmo com oposições ineficazes, entra cada vez mais em área de risco.

Se as oposições se mantiverem no Olimpo das lateralidades (como o PT, que prepara um ótimo Plano Emergencial de Emprego e Renda, o PEER, e faz todos os esforços para não divulgá-lo, não buscar parceiros e não organizar pessoas em sua defesa e reivindicação) e o desgaste do governo permanecer ou se acentuar, algum pensador da direita pode ter um lapso de genialidade e propor ao bolsonarismo uma reorientação, mesmo que momentânea e cosmética.

Um efeito Wyborowa, ainda que consubstanciado em mero voo de galinha para enfrentar as eleições de 2020, gerará uma ressaca devastadora no campo oposicionista.

Principalmente porque são oposições de porre, que se recusam a dialogar com o povo sobre os dramas reais do povo e a propor caminhos de saída do inferno cotidiano.

Mantido o vácuo crescente que as oposições criam, crescem as possibilidades de sua ocupação por generosas doses de vodka Messias.

Aos que argumentarão dizendo que a opção ultraliberal na economia veta um “corredor polonês”, sugiro que se lembrem da trajetória político-ideológica do capitão e do profundo pragmatismo da turma do dinheiro, especialistas em entregar um mero anel (que sempre pode ser tomado de volta, passada a dificuldade) para garantir seus dez gordos dedos.

Todas as informações sobre a Polônia vêm de duas matérias do Valor: essa e essa.

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