O dia em que Porto Alegre vestiu cores palestinas

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Na abertura do Fórum Social Mundial Palestina Livre, milhares de pessoas apoiam luta pela liberdade e participam de debates e conferências

Por Cláudio Souza

Nessa quarta feira o fórum estava em sua plena capacidade, com os participantes já ambientados em relação aos diversos locais em que haviam atividades e conferências espalhadas pelo centro de Porto Alegre. No segundo andar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aconteceu a conferência “Direito Internacional, Direitos Humanos e julgamento de crimes de guerra”, com a participação de personalidades diretamente ligadas à causa palestina, tais como Nabil Shaat, que abriu os trabalhos da manhã falando em nome do Presidente Mahmoud Abbas. Shaat agradeceu a presença de todos e a imensa solidariedade que o povo palestino sempre recebeu do Brasil e lembrou que esse era um dia histórico, pois nesse momento “o presidente Abbas está falando na ONU em defesa do reconhecimento do Estado Palestino”.

Durante a sua fala, Shaat descreveu diversos crimes de guerra cometidos por Israel passíveis de serem levados às cortes Internacionais e comparou a situação da Palestina com a da África do sul na época do Apartheid. Em relação ao problema da água, Shaat denunciou que cerca 650 mil colonos israelenses ocupam território palestino e consomem oito vezes mais do que os árabes, frisando que a questão não se resume apenas à ocupação da terra, mas também ao uso indiscriminado de seus recursos. Shaat elogiou a capacidade de articulação e liderança do ex-presidente Lula, defendendo o seu nome como interlocutor rumo à construção de um Estado Palestino.

O ex-embaixador Arnaldo Carrilho, que entre outros postos, serviu na Palestina, foi o segundo palestrante da manhã. Com um depoimento pessoal sobre a sua experiência no Itamarati, Carrilho destacou que considera a Palestina uma questão, não regional, mas mundial. Recordou várias passagens de sua experiência na região, tais como assassinatos a poucos metros de seu gabinete e os encontros com Yasser Arafat e Edward Said. Em seguida, tivemos a fala do responsável pela editoria internacional do jornal Hora do Povo Nathaniel Braia e da advogada Sahar Francis, da Associação de Apoio à Causa Palestina Addameer. Ambos destacaram a situação lastimável e desumana em Gaza, frisando novamente a globalidade da causa palestina e a importância do estabelecimento de um Estado que transforme os atos de Israel em invasão de um país soberano ao invés de um território ocupado. Por fim, a canadense Charlote Kades, da Associação Democrática de Advogados Internacionais, lembrou que a violação sistemática das leis internacionais não pode ficar impune e que irá lutar para que Israel seja responsabilizado pelo que aconteceu em Gaza recentemente.

No período da tarde, entre outras tantas atividades oferecidas pelo fórum, destacou-se a conferência “luta de resistência das mulheres palestinas”, promovida por diversos coletivos feministas e que ofereceu um interessante recorte sobre o papel e a luta das mulheres nos territórios ocupados.  O evento iniciou com a projeção de um curta metragem, legendado em espanhol, intitulado “La Fuerza de la Dignidad”. Na obra, as mulheres falam de suas prisões e das dificuldades de conseguir levar uma vida normal, em face da opressão israelense.

Várias palestrantes deram os seus depoimentos apresentando outras facetas concernentes à ocupação israelense, tais como a dificuldade de movimento que enfrentam, por exemplo, os que não possuem o passaporte azul — único documento que dá direito de permanecer em Jerusalém. Isso dificulta a vida de casais e parentes, que enfrentam uma burocracia infernal e uma série de humilhações nos postos de controle sempre que precisam se encontrar, Além disso, destacaram as palestrantes, o exército israelense não tem escrúpulos em barrar ambulâncias com pessoas doentes e mulheres grávidas. Muitas tiveram que dar à luz entre os muros e outras foram assassinadas enquanto amamentavam os seus filhos. Além disso, existe a dor das que perderam seus filhos para a resistência, que tiveram as suas casas demolidas e que sofreram cotidianamente as humilhações dos soldados de Israel. Para essas mulheres, o ideal seria a construção de um Estado palestino laico, com ênfase nas questões feministas e o reconhecimento do papel fundamental das mulheres nesse processo, como mães, esposas e lutadoras em tempo integral.

à tarde, por volta da 16 horas, ocorreu a marcha de abertura do Fórum, com a presença de milhares de pessoas que percorreram as ruas centrais de Porto Alegre, finalizando na Usina do Gasômetro onde houve uma confraternização ao som de músicas e dança típicas palestinas.

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