"Mudamos a bússola para a periferia"

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Ao abrir a 4ª Mostra de Arte da Cooperifa, em São Paulo, Sérgio Vaz afirma: “Classe média teve seu momento mágico nos anos 60. Agora, é o nosso”. Apresentações vão até 23 de outubro

Uma série de shows artísticos e uma fala emocionada de Sérgio Vaz, um dos grandes articuladores do que se chama hoje “cultura das periferias”, abriram na última sexta-feira (14/10) a 4° Mostra de Cultural da Cooperifa. A atividade estende-se até 23 de outubro, domingo. Desdobra-se em uma vasta sequência de apresentações literárias, musicais, teatrais, de dança, cinema e outras expressões artísticas. Articula debates e festas (veja programação completa). Tem como palcos escolas da Zona Sul de São Paulo, CEU’s e a Casa de Cultura de M’Boi Mirim. Celebra os dez anos de ação ininterrupta da Cooperifa. “As pessoas já estão nesses ambientes, só levamos o artista até eles” destaca Sérgio Vaz, curador da mostra e um dos idealizadores da Cooaperifa.

O CEU Casa Blanca foi escolhido para a abertura da Mostra e nele também acontecerão diversos debates e atrações culturais. Quem adentrava o anfiteatro era recepcionado por um lanterninha, vestido a caráter. Ele é uma das atrações do projeto Cinema na Laje, que acontece quinzenalmente na laje do bar do Zé Batidão, sede da Cooperifa. Quinze minutos antes de iniciar a festa, as Mcs Rose e Vivi ensaiavam as palavras que seriam dirigidas ao público. Percebia-se o nervosismo delas, diante dos 10 anos da Cooperifa. Enquanto isso a equipe e Sérgio Vaz faziam ajustes finais.

A proposta da noite era apresentar um panorama dos 10 anos de atividades culturais da Cooperifa. A primeira destacada foi o Ajoelhaço, um evento que acontece há quatro anos. Na sessão do Sarau da Cooperifa que coincide com a quarta-feira de cinzas, todos os homens presentes ajoelham-se e pedem perdão às mulheres. Em seguida, falou-se sobre os projetos Cinema na Laje, Chuva de Livros e Poesia no ar.

Às 19h50, as portas se abriram e atrás das cortinas ouviam-se gritos empolgados: “HU COOPERIFA, HU COOPERIFA”. Já com o teatro cheio, foi feita uma roda por toda equipe e começaram assovios e gritos emocionantes. O momento chegara: “HU COOPERIFA, HU COOPERIFA, HU COOPERIFA, HU COOPERIFA”.

As Mcs narraram a história do projeto e, em seguida, contaram como será a mostra. Em seguida subiu ao palco Dona Edith. Figura poética maternal da Cooperifa, ela recitou um poema energeticamente vibrante. Enquanto falava suas mãos balançavam de cima para baixo, como se tivesse acalentando um filho.

Diferente do que alguns esperavam, quando Sérgio Vaz subiu ao palco não declamou poesia. Chamou a equipe, abraçaram-se e ele começou a discorrer retrospectivamente sobre os 10 anos. O discurso foi tocante. Vaz falou sobre as dificuldades: “as pessoas sabem como é difícil completar 10 anos da vida, dez anos de poesia é um marco”; sobre o protagonismo periférico “mudamos a bússola para periferia, nada contra o centro, pois na Cooperifa todos são bem vindos, mas hoje a periferia é o centro.” Abordou com ênfase a “arrogância” da periferia: “somos arrogantes, sim, pois quando éramos humildes tiraram de nós a universidade, o trabalho digno, a boa educação e a cultura. Agora queremos tudo. A classe média teve um momento mágico na década de 60. Usufruíram de arte, cultura e educação. Agora o momento é da periferia”. Para finalizar, com palavras engasgadas perante muitas emoções, ele ressaltou: “a Cooperifa não é um lugar: é um sentimento”.

Apresentações culturais

A primeira apresentação artística da noite ficou por conta do grupo Ballet Afro Kuteban. Tambores soavam em ritmo poético. A escuridão do teatro transportava todos para uma noite tribal. O ritmo frenético do som fazia a plateia fixar os olhos, corpo, pensamento e a alma nas mãos dos tocadores e nos pés coreografados das bailarinas. Não era necessário fazer o exercício de fechar os olhos para se sentir diante de uma tribo, numa noite na África. Todos estavam perante uma. O desempenho do grupo foi recebido por olhos concentrados e ouvidos freneticamente atentos. Não tinha como ser diferente: gritos, assovios e a plateia aplaudiu de pé.

Na performance do grupo UMOJA, que também trabalha com música afro, a plateia foi chamada para o palco e participou intensamente, no ritmo do maracatu.  Era só uma prévia do que eles vão fazer nos shows no decorrer da mostra.

O grupo Rap Versão Popular fechou as apresentações. Cantou enquanto o público se dispersava, contaminado pela poesia.

Confira a programação da 4° MOSTRA CULTURAL DA COOPERIFA

De 14 a 23 de outubro

http://catracalivre.folha.uol.com.br/2011/09/iv-mostra-cultural-da-cooperifa/

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