Michael Parenti: por trás do fascismo, o grande capital

Ascensão de Mussolini e Hitler. Golpes no pós-guerra. Privatização selvagem nos anos 90. O que têm em comum? Em livro recém-traduzido aponta: super-ricos financiam a ultradireita, que serve seus interesses. Sortearemos 2 exemplares

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Nos últimos anos, as ideias de um certo Michael Parenti têm ganhado popularidade entre jovens de esquerda. Após toda uma vida nadando contra a corrente, o historiador radical norte-americano encontrou um público que valoriza suas sempre contundentes intervenções orais e escritas. Vídeos de suas principais palestras – com temas como “o intervencionismo dos EUA e o Terceiro Mundo”, “os mitos do Império” e “o mito do capitalismo” –  acumulam centenas de milhares de visualizações na internet.

Nossos parceiros da Autonomia Literária, assim como o prefaciador Jones Manoel, se engajaram num esforço pioneiro de difusão do pensamento de Parenti para o Brasil, que se materializa agora na primeira edição em vinte anos de um livro seu no país. Em Os camisas negras e a esquerda radical – o fascismo racional e a derrubada do comunismo, recém-publicado em português, o autor tece a seguinte: para entender de verdade as motivações da extrema-direita, é preciso olhar sempre para os interesses do grande capital.

Isso porque quem paga a banda escolhe a música. E Michael Parenti demonstra que, das primeiras manifestações do fascismo nos anos 20 a seu renascimento contemporâneo, industriais, banqueiros e comerciantes foram decisivos para a arrecadação dos recursos que financiaram suas ações criminosas. 

As formações paramilitares do Partido Fascista de Mussolini, demonstra o historiador, surgiram com dinheiro da Confederação Industrial Italiana, com orientação direta para usar suas armas para a dispersão de manifestações e greves. A Marcha sobre Roma de 1922 foi realizada com 20 milhões de liras doadas por empresários. Um processo similar gerou as SA de Hitler. 

A experiência histórica de nosso país mostra que não somos uma exceção a essa regra. A Operação Bandeirante (Oban), ação repressiva da ditadura militar que matou Marighella e torturou Frei Tito, era financiada ilegalmente por uma caixinha que o executivo Henning Boilesen – posteriormente justiçado pela ALN – angariava junto ao empresariado paulista.

Mais recentemente, o golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016 e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 foram garantidos pela ascensão de movimentos protofascistas nas ruas e nas redes e intervenções autoritárias de militares de direita na política. E quem foi o grande beneficiário disso tudo? O grande empresariado, que bateu palmas para a retirada de direitos trabalhistas, o congelamento do salário mínimo e todas as outras medidas neoliberais implementadas nos últimos anos.

Parenti questiona também a tese de que a derrubada dos Estados socialistas do Leste Europeu atendeu a razões “democráticas” e “humanitárias”. É possível dizer que o bem-estar dos russos cresceu nos anos 90 com a “terapia de choque” promovida por Yeltsin, que privatizou e desregulamentou praticamente todos os serviços? É possível dizer que esses países ficaram mais democráticos, agora que vemos a consolidação de regimes de extrema-direita na Hungria, na Polônia e na Ucrânia?

No fundo, o que aconteceu foi a colonização dos ex-países socialistas por capitais estrangeiros, que se apossaram a preço de banana de todos os segmentos da economia. Sob orientação dos Estados Unidos, os governos locais utilizaram força bruta para calar os que se opunham à venda de sociedades inteiras para o mercado – na maior parte das vezes, jogando os comunistas na ilegalidade e empregando figuras como Aleksandr Lebed, admirador confesso de Pinochet (que, aliás, é outro ponto de conexão entre liberais e fascistas, lembra Parenti).

Outras Palavras e Autonomia Literária sortearão dois exemplares de Os camisas negras e a esquerda radical, de Michael Parenti, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima quinta-feira, 2/2, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem 25% de desconto no site da editora.

No âmbito teórico, Parenti polemiza com visões que considera idealistas do fascismo. São bastante populares as leituras que, ao analisarem o fenômeno fascista, se concentram em seu aspecto “irracional”. A mobilização do inconsciente, dos desejos reprimidos, das fantasias arraigadas nos imaginários que se confrontam com as inseguranças causadas pelas mudanças sociais em curso. Parenti é conhecido por ser afeito ao embate duro, e não se acanha em afirmar que os teóricos que assim pensam não estão percebendo as características centrais do fascismo – e não vão conseguir propor saídas efetivas para combatê-lo.

Suas preocupações remetem ao que considera uma interdição do conceito de classe nas discussões dos meios intelectuais. Quando muito, análises saem diluídas, inofensivas, bem ao gosto do academicismo estéril. Michael Parenti insiste numa lógica diferente do pensar: levanta a bandeira da perspectiva classista com a intenção clara de unir as ideias à ação. 

A publicação deste livro inédito no Brasil é uma grande contribuição da Autonomia Literária para os debates da esquerda brasileira. Uma análise concreta do fascismo (e de que interesses o trazem à tona) está na ordem do dia para sabermos como efetivamente extirpá-lo da vida política nacional agora que o fascio-presidente saiu de cena. Parenti nos ajudará nessa tarefa. Que mais livros seus cheguem às nossas estantes.

Em parceria com a Autonomia Literária, sortearemos dois exemplares de Os camisas negras e a esquerda radical – o fascismo racional e a derrubada do comunismo, de Michael Parenti, entre os apoiadores do nosso jornalismo.

Para participar, acesse apoia.se/outraspalavras/ e inscreva-se em nosso financiamento coletivo. Quem colabora com o trabalho de Outras Palavras receberá por e-mail o formulário de participação no sorteio – que ficará aberto até a próxima quinta-feira, 2/2, às 14h.

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