Políticas públicas: para cidades menos dependentes do automóvel
Publicado 20/09/2011 às 14:14
“Uma rede ampliada de trens e metrôs também absorverá mão de obra, isso sem falar na construção da infraestrutura necessária para que locomotivas e vagões possam circular”
Por Tadeu Breda, editor de Latitude Sul
Em SP, a estas alturas, está claro para todos – menos para os governos municipal e estadual – que o modelo automobilístico é insustentável. Quem pegamos ônibus sentimos diariamente o colapso, na pele e nas pernas, porque somos obrigados a viajar de pé, mesmo pagando uma das tarifas mais caras do mundo – de longe, a mais cara da América Latina. A rede de metrô é ridícula, os trens, insuficientes. As ciclovias… que ciclovias?
A mão de obra que ficaria ociosa a partir da adoção de uma necessária política anti-carros poderia muito bem ser revertida e aproveitada pela indústria ferroviária. Em vez de importar vagões da Coreia do Sul, como acaba de fazer o metrô privatizado de SP, o governo poderia começar a estimular a produção nacional de composições. A operação de uma rede ampliada de trens e metrôs também absorverá mão de obra, isso sem falar na construção da infraestrutura necessária para que locomotivas e vagões possam circular.
Até as fábricas de bicicletas podem crescer e abrir vagas de emprego com políticas públicas de incentivo à adoção da magrela. Em SP, muita gente já disputa espaço com os carros aos cotovelos. Imaginem se a prefeitura resolve sair do imobilismo e construir ciclovias? Será uma invasão. Aliás, a tendência é tão grande que o preço das bicicletas disparou.
muito bom!
Oi, Paulo.
Acredito que questionar “nosso” modelo de desenvolvimento é algo mais profundo que combater os carros e o petróleo. Como vc enumerou, o xis da questão está no consumo, na “necessidade” de crescimento infinito. Isso sabe-se lá quando conseguiremos mudar. Porém, concordo que é uma transformação urgente para nossa sobrevivência.
Sobre o desejo quase sexual pelos carrões, permita-me problematizar. Talvez não seja uma questão tão psicológica assim. Afinal, não há país mais aficionado por veículos possantes que a Alemanha. E lá, até onde eu sei, a mobilidade urbana não está baseada no transporte motorizado individual.
Uma política alternativa de transporte, além da necessária consideração de melhorias em meios coletivos ou ciclovias, implica questionar dois aspectos mais profundos. Primeiro, o modelo corrente de economia e desenvolvimento, que em boa parte depende da indústria automobilística e seus satélites, do petróleo, do consumo. Segundo (e talvez mais importante), nosso modelo cultural que só estimula o narcisismo e o sucesso individual – traduzido pela necessidade de ultrapassar ou atropelar os outros para ir atrás de um objetivo difuso que está sempre à frente. Enquanto formos fascinados por automóveis possantes, grandes, famintos de combustível e assessórios, o pensamento alternativo permanecerá alternativo – um luxo distante da maioria que sofre dentro dos ônibus e trens lotados.