Amazon: ajude um bilionário a destruir pequenas livrarias

Editora independente explica como, ao vender livros com descontos descomunais, a gigante estadunidense inviabiliza o comércio local e, em alguns anos, poderá tornar-se um perigoso monopólio

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Por Tadeu Breda, da Editora Elefante

Nesta semana nos deparamos com um exemplo prático de como a Amazon destrói livrarias utilizando-se de seu gigantesco poder financeiro. Não fornecemos diretamente para a Amazon. Ela consegue títulos da Editora Elefante através de distribuidoras com as quais trabalhamos, e que fornecem para livrarias de todo o país — inclusive para a Amazon.

Os preços que a Amazon pratica, porém, são inviáveis para qualquer um, até mesmo para nós, que produzimos o livro e fazemos a venda direta, sem passar por intermediários. Ainda assim, ela comercializa Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, cujo preço de capa é R$ 60, por R$ 43,80 e Olhares negros, de bell hooks, que custa R$ 50, por R$ 36,50. 0.

Mesmo as livrarias on-line que vendem mais barato usando a plataforma da Amazon não conseguem chegar a tal patamar. Como estamos dos dois lados do balcão, sabemos que ninguém consegue sustentar-se vendendo livros com tamanho “desconto” (que não é desconto, é dumping, e alguns países vêm tomando medidas contra essa prática). Fica claro, assim, que a Amazon — ao contrário das pequenas livrarias — não se mantém com a venda de livros.

O que eles fazem, sobretudo nos casos de livros de boa vendagem, como Calibã e a bruxa e Olhares negros, é atrair compradores com preços obscenos, desbancar a concorrência que nem em seus maiores sonhos conseguiria igualar tais preços, e usar os dados dos clientes para, com seus robôs e algoritmos de última geração, continuar bombardeando e vendendo de tudo — inclusive mais livros —, até que um dia não haja mais concorrência e eles possam aumentar os preços tranquilamente, potencializando seus lucros.

Sabemos que os livros não são baratos no Brasil. Mas, sobretudo no caso de editoras independentes, e certamente no caso da Editora Elefante, não se trata abuso: fazemos as contas com a corda no pescoço para que o livro saia de nossos depósitos com o valor mais baixo possível, em uma cadeia que vai distribuir renda entre todos os nossos colaboradores — e entre os pequenos livreiros e seus colaboradores.

Se você compra pela Amazon, estará enriquecendo ainda mais Jeff Bezos e aumentando sua fortuna, estimada em noventa bilhões de dólares: um homem que tem tanto dinheiro que agora quer conquistar o espaço — enquanto isso, muitos de seus trabalhadores não conseguem pagar as contas.

Nós aqui temos asco de tamanha concentração de riqueza. E apostamos pela humanidade. Comprando em pequenas livrarias, você estará lidando com seres humanos como você, com suas virtudes e seus defeitos. A escolha é sua. Já fizemos a nossa.

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