A arte feminista de Louise Bourgeois

As possibilidades do corpo: ser casa, ser paisagem, se animalizar. Os caminhos da subjetividade: as figuras da “histérica” ou da “mãe”. Pesquisadora explora contornos da obra da artista francesa em livro da Sobinfluencia. Sortearemos 1 exemplar

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A arte de Louise Bourgeois continua a suscitar muitas questões. Francesa radicada em Nova York, a artista trabalhou muito com as abstrações, as representações simbólicas e as imagens que vêm dos pontos mais profundos da consciência – raramente é possível apreender tudo nas primeiras vistas. Em livro desenvolvido a partir de suas investigações de mestrado, a pesquisadora Gabriela de Laurentiis se imergiu na produção artística de Bourgeois.

Louise Bourgeois e modos feministas de criar, lançado pela Sobinfluencia, percorre a obra da artista francesa com a seguinte tese: suas formas de expressão têm uma grande capacidade de se conectar com as experiências concretas de muitas mulheres – e, ao mesmo tempo, se confrontar com as normas tradicionais do que é, ou deve ser, o feminino. Por isso, “mesmo que Louise Bourgeois nunca tenha se declarado feminista, é possível apontar em seus trabalhos uma crítica feminista mordaz”, argumenta a autora.

É uma instigante proposta, sustentada na análise de diversos trabalhos de Bourgeois, situados em diferentes momentos de sua extensa produção. São estudadas tanto as temáticas das obras como também (e, até, principalmente) as formas que as compõem – assim como a combinação desses dois elementos, já que as figuras do mundo de Louise Bourgeois remeteriam a simbolismos de sentimentos e problemáticas de sua vida.

Suavidades arredondadas e paisagens corporais, primeiro capítulo, se concentra no aspecto autobiográfico da obra de Bourgeois. As formas redondas presentes em alguns de seus trabalhos – por exemplo, A destruição do pai (1974) – se ligariam com uma forma de representar o feminino radicalmente oposta aos valores ensinados pelo Ocidente às mulheres, exclusivamente ligados a se tornar mãe, cuidar do lar, etc.). 

Outras Palavras e Sobinfluencia sortearão um exemplar de Louise Bourgeois e modos feministas de criar, de Gabriela de Laurentiis, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima quinta-feira, 16/3, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem 25% de desconto no site da editora.

De Laurentiis recupera a deusa grega Ártemis como uma figura dissidente dessa chave simbólica, explicitando como Bourgeois se aproxima de outras feministas, que reivindicam conceitos como o da “Grande Deusa”, nessa luta em torno da representação do feminino (que, nessa leitura, deve ser sempre “múltiplo e cambiante”). A profusão de arredondamentos em certos trabalhos de Louise Bourgeois se conecta com a imagem clássica da Ártemis de Éfeso, localizada em um importante templo grego.

A segunda parte do livro, Entre a histeria e a maternidade, a arte, a pesquisadora busca os arcos, as espirais e as linhas retorcidas no trabalho da artista. Mais uma vez, o corpo – e, consequentemente, o sexo e a sexualidade, indissociáveis do corpóreo – está no centro da investigação. 

De Laurentiis enfatiza como a obra de Bourgeois relembra que, com certas formas de representação, é possível enquadrar a mulher na esfera da pacífica e submissa “mãe-esposa-dona-de-casa” ou na esfera da louca histérica e desregrada. Por meio de seus traços orgânicos e mesmo grotescos, a autora da Aranha que esteve por 21 anos no Museu de Arte Moderna de São Paulo intentou libertar a figura da mulher desses grilhões historicamente construídos. Um exemplo dessa investigação é a série das Femme-maison, interpretada pela pesquisadora como uma tentativa de emancipar a mulher dos limites da casa.

Por fim, em As felinas e os saltos pela arte de animalizar a si mesma, são exploradas as fusões de mulheres com gatas e panteras que pipocam em algumas ilustrações de Bourgeois. Muitas delas são chamadas de autorretratos da artista. Aqui, caminham para serem abolidas as dicotomias há muito impostas entre natureza e cultura, humano e animal, feminino e masculino, e mesmo entre Eu e Outro. Dessa forma, Louise Bourgeois estaria dando seu passo mais ousado na direção da ampliação das possibilidades de existência da mulher

Louise Bourgeois, falecida há treze anos, deixou um legado artístico que segue desafiando convenções sociais e estéticas – bem como convocando à multiplicação das formas femininas e feministas de expressão. Seguindo Louise Michel e Neel Doff, a artista é nossa terceira homenageada de uma sequência especial de ações do Outros Quinhentos na semana do 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.

Em parceria com a Sobinfluencia, sortearemos 1 exemplar de Louise Bourgeois e modos feministas de criar, de Gabriela de Laurentiis, entre os apoiadores do nosso jornalismo.

O formulário de participação será enviado por e-mail para os leitores que fazem parte do financiamento coletivo de Outras Palavras, hospedado em apoia.se/outraspalavras. Na próxima quinta-feira, 16/3, às 14h, as inscrições serão encerradas – e o nome do vencedor será sorteado.

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