Xavier Giannoli extrai do clássico balzaquiano aquilo que fala mais fundo à nossa época: a sistemática destruição de valores no cotidiano da imprensa, o jogo sujo das elites políticas, a gênese das fake news – e a demolição de reputações
Com sarcasmo e crítica feroz ao neoliberalismo, Má sorte no sexo é um mosaico dos absurdos do mundo contemporâneo. No centro, uma professora em julgamento kafkiano. O crime: ter feito sexo livre e subversivo, cujo vídeo vazou na internet
Filme de Rincón Gille mostra jornada de pescador em busca dos corpos de seus filhos, assassinados por paramilitares de ultradireita. Entre a fluidez do rio e a dureza das margens, sua travessia desafia a loucura homicida que a guerra torna cotidiana
Na casa de praia, a instalação duma piscina pré-fabricada, a vida doméstica, aventuras represadas e a imensidão do mar. A felicidade das coisas, de Thais Fujinaga, extrai encanto nos lugares à margem, onde menos se espera encontrá-lo
Arthur Rambo é um vibrante retrato da era digital: jovem franco-argelino, promessa literária, desce ao inferno após seus tuítes abjetos virem a público. A praga, filme de José Mojica perdido por décadas, é exibido na reabertura da Cinemateca
Em documentário sem concessões, Maryna Gorbach retrata o conflito entre separatistas pró-Rússia e nacionalistas na Ucrânia – e como a vida privada é devastada pela história coletiva. Paira uma imobilidade kafkiana: não há para onde correr
Ricaço malvado, donzela destemida, herói varonil e o fortão idiota. Poderia ser só mais uma típica aventura hollywoodiana, mas filme aposta na autoironia para oferecer entretenimento sagaz frente a estes ásperos tempos
Entre a alegoria e o melodrama, Lázaro Ramos toca no nervo do racismo estrutural no Brasil: num futuro próximo, negros serão forçados a voltar para a África. Porém, como filme-manifesto, perde força ao sobrepor militância à criação
Baseado em fatos reais, O traidor vai do tom sutil ao operístico, retomando a tradição do cinema policial italiano. Com guerras no seio da Máfia, o gangster Buscetta e o juiz Falcone iniciam insólita cooperação, entre paranoias e conchavos políticos
A mulher de um espião poderia ser definido como a mescla de thriller político e drama amoroso. Mas vai além: num país tomado pelo fascismo, escancara o terreno movediço da fidelidade: ao país, a uma pessoa ou à humanidade?