Crescente abuso no consumo de álcool pede abordagem mais humana

Mulheres e mais jovens lideram entre pessoas com maior riscos de dependência alcoólica. Como encarar aumento no abuso de substância?

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Cerca de 13% dos usuários que realizaram a triagem para identificar o padrão de consumo de álcool na plataforma Modera SP apresentam risco grande ou possível de dependência alcoólica. A ferramenta faz parte de uma estratégia ampla da Secretaria de Saúde da Cidade de São Paulo (SMS) para estimular a reflexão sobre o consumo abusivo de álcool, o que surgiu da necessidade de oferecer cuidados à saúde física e mental de pessoas que apresentem riscos de dependência alcoólica.

Thiago Mendes, assessor técnico da coordenadoria de atenção básica da SMS, explica que, ao fim do teste, o assistente virtual sugere um plano de mudança personalizado, em que o usuário pode escolher reduzir o consumo, parar de beber ou controlar episódios de uso excessivo por meio de um diário. Isso parte da ideia de que traçar o próprio plano de mudança ajuda a garantir a eficácia da reabilitação. No caso de riscos muito altos e que indiquem possível dependência, a unidade de saúde é automaticamente notificada para iniciar uma abordagem clínica, que pode incluir desde atendimento individual até o encaminhamento para um Caps Álcool e Drogas.

O interessante é que, entre os que utilizaram a plataforma, mulheres e jovens de 18 a 29 anos são os que mais demonstraram interesse em conhecer seu padrão de consumo de álcool. Na divisão por gênero, as mulheres são também as que mais adoecem e morrem devido ao consumo abusivo da substância. De 2006 a 2023, houve um aumento de quase 100% no consumo excessivo pelo grupo – e a tendência segue crescendo. Ainda assim, não há políticas públicas que visem mitigar a dependência da substância entre o público feminino no Brasil.

Neste cenário, como bem lembrou a psicóloga clínica Carla Linarelli, especialista em dependência química, é necessário, além de identificar o padrão de consumo, compreender o contexto individual do usuário em uma perspectiva mais ampla e humana. “O uso do álcool é mais complexo e costuma ser um sintoma de questões mais profundas. A abordagem precisa ir além do tratamento do sintoma e buscar identificar e atuar nas causas subjacentes – como situações de violência, desemprego e pressão social”, diz ela.

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