Países desenvolvidos?

Devemos guardar distância deles e de suas políticas hegemônicas. A construção dos BRICS, se prosseguir com êxito, pode ajudar. Mas no Brasil precisamos fazer nossa parte, em cada ato de governar, de legislar, de manifestar solidariedade, de cuidar uns dos outros

1945: EUA e Reino Unido bombardeiam a cidade histórica de Dresden, com a Alemanha já vencida. 25 mil pessoas são mortas. Oitenta anos depois, em Gaza, Israel triplicou o número de assassinatos
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Em participação recente numa banca de uma aluna de doutorado sob minha orientação, um dos componentes da banca me escreveu um “bilhete” informando que não gostava do termo “Países Desenvolvidos”, que havia sido proferido, durante a arguição, para comparar condições de trabalho no Brasil com as do Norte Ocidental e assemelhados do Leste, como Israel, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Me chamou atenção o comentário e adicionei concordância.

No critério utilizado para ser considerado do clube dos desenvolvidos tem peso máximo o PIB per capta, o genérico desenvolvimento econômico. Com os fatores sociais, culturais, de desigualdades da renda e do patrimônio, no trato das populações migrantes (por empobrecidas pelas ações dos países imperialistas), de solidariedade, pouco ou nada considerados. O já limitado IDH entra como pinguim de geladeira.

São desenvolvidos os países que promoveram por séculos e ainda persistem em políticas colonialistas?

São desenvolvidos os países que promoveram centenas de guerras nos últimos 120 anos, como a 1ª e 2ª guerras mundiais?

Podemos considerar desenvolvido um país, responsável pela morte de seis milhões de judeus, apesar de dotado de renomadas universidades, das fina música clássica e filosofia?

São desenvolvidos os países que promoveram a invasão de países como México, China, Vietnã, Cuba, Laos, Camboja, República Dominicana, Nicarágua, Panamá, Haiti, Iraque, Afeganistão, Iugoslávia, Líbia, Síria, Yemen, Palestina, Líbano, Irã?

São desenvolvidos os países (Reino Unido e EUA) que bombardearam a cidade alemã de Dresden, em fevereiro de 1945 (Alemanha já batida) apenas como exemplo de vingança, matando cerca de 25 mil civis? Como, aliás, Israel vem fazendo com Gaza, de forma ampliada, onde os assassinatos já superam em três vezes o que aconteceu em Dresden?

Podemos considerar desenvolvido um país que foi capaz de explodir duas bombas atômicas, em agosto de 1945, matando centenas de milhares de civis em Hiroshima e Nagasaki, num Japão já batido e com a Alemanha capitulada, apenas para demonstração de força global?

São desenvolvidos países que apoiaram golpes e ditaduras mundo afora, como o golpe no Irã em 1953, que depôs o governo nacionalista liderado pelo primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, e que promoveram dezenas de golpes na América Latina?

São desenvolvidos os países que realizam e/ou compactuam com a destruição dos palestinos?

São desenvolvidos os países que decidem aumentar para 5% do PIB os gastos em armamentos, com a redução progressiva dos direitos dos trabalhadores de seus países?

São desenvolvidos os países que mantém bases militares espalhadas, várias ao arrepio dos interesses dos países, como em Cuba e Colômbia?

Pode ser considerado desenvolvido um país, o de maior PIB do planeta, que exclui do direito à assistência à saúde 30-40 milhões de cidadãos, como ocorre com os EUA?

Interessante registrar, que os chamados desenvolvidos possuem boas universidades, produção de ciência avançada, de invenção tecnológica sofisticada, criatividade cultural, mas são sociedades que vivem apartadas (inclusive o mundo acadêmico) do sentido do bem comum, numa evidência do tipo de sistema que os governam, o capitalismo em sua fase máxima de exploração, que captura e submete suas populações.

Devemos guardar distância desses países “desenvolvidos”, de suas políticas hegemônicas. Construir um outro modo de sociedade, de vida, onde os interesses dos povos e da natureza não sejam submetidos à sanha do lucro e de poder imperial.

A construção dos BRICS, se prosseguir com êxito, pode ajudar nesta direção. Mas, no Brasil, precisamos fazer nossa parte, em cada ato de governar, de legislar, de manifestar solidariedade, de cuidar uns dos outros. Nos liberarmos das amarras e armadilhas que o liberalismo vem nos impondo, a ponto de ganhar mentes e corações em boa parte de nossa sociedade. E a tarefa é urgente, exige pressa, pois como disse JM Keynes: “a longo prazo estaremos todos mortos. ”

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