Um socialista em Nova York?

Como Henri George, seu antecessor elogiado por Engels, Zohran Mamdan desafia a ordem, na “capital do capital”. Aparentemente modesto, seu programa exige o que o sistema não cede – e mobiliza multidões. Mas até onde ele poderá chegar, se vencer as eleições?

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Por Alexander Zevin, na New Left Review| Tradução: Antonio Martins

A política de Nova York pode parecer profundamente local. Mas, ocasionalmente, algo que acontece aqui cativa o mundo. Em 1886, a insurgente campanha de Henry George para prefeito pareceu abalar os alicerces do poder na cidade, derrotando os republicanos e chegando perto de superar a poderosa máquina democrata. O fato de George ter feito isso à frente do recém-criado Partido Unido do Trabalho inspirou Friedrich Engels a saudar a criatividade das massas norte-americanas – que, neste “dia marcante”, disputaram a eleição como uma força política independente. Parecia claro que os grandes capitalistas comerciais e industriais da cidade só haviam prevalecido por meio de subornos, fraudes eleitorais e outras formas de trapaça descarada. Apesar de suas ressalvas sobre o programa “confuso” e “deficiente” de George, centrado em um “imposto único”, Engels estava bastante esperançoso: “Onde a burguesia trava a luta com tais métodos, ela se decide rapidamente, e se nós na Europa não nos apressarmos, os norte-americanos logo nos deixarão para trás.”

A campanha de Zohran Mamdani para prefeito representa o desafio mais organizado de um outsider à ordem dominante da cidade desde então. É um sinal tanto da longa história da busca por uma alternativa socialista ao duopólio partidário — que remonta à transferência da Primeira Internacional para Nova York, em 1872 — quanto da raridade dos momentos em que ela conseguiu algum tipo de avanço no cenário político tradicional. Diferentemente de George, Mamdani utilizou a estrutura partidária existente. Como muitos membros da DSA (Socialistas Democráticos da América), ele contou com o Working Families Party (Partido das Famílias Trabalhadoras), fundado em 1998 por ativistas democratas desiludidos e organizadores sindicais e do terceiro setor, para concorrer nas primárias democratas.Mas a ameaça potencial que ele representa remonta ao seu predecessor da Era Dourada – assim como seu foco tático no custo de vida. Quando os preços da vida urbana passaram a polarizar a disputa, os candidatos que se apresentavam como progressistas tradicionais patinaram, e a disputa reduziu-se a um confronto direto entre a esquerda e a direita do partido. Isso surpreendeu até mesmo o WFP, cuja ambição inicial era apenas que Mamdani pressionasse sua opção mais tradicional e experiente — o controlador Brad Lander — a se mover para a esquerda.

Henry George entrou na corrida eleitoral como o célebre autor de Progresso e Pobreza (1879), um tratado radical que argumentava que o primeiro andava de mãos dadas com o segundo devido à monopolização da terra – cujos proprietários colhiam a maior parte dos frutos do progresso na forma de valorização imobiliária. Sustentando uma mensagem semelhante sobre desigualdade, em uma cidade com disparidades de riqueza ainda mais obscenas, Mamdani talvez esteja tão distante do candidato típico a prefeito de Nova York quanto George. Nascido em Uganda em 1991, filho de pais indianos, mudou-se com eles para o Upper West Side aos sete anos, quando seu pai foi contratado para ensinar estudos pós-coloniais em Antropologia na Universidade de Columbia. Sua mãe é a cineasta Mira Nair.Moldado por esse perfil intelectual de diáspora de elite, ele fundou um capítulo do Students for Justice in Palestine (Estudantes pela Justiça na Palestina) em Bowdoin, no Maine, antes de retornar à cidade para trabalhar como conselheiro de habitação.Filiou-se à DSA em 2017. Trabalhou em várias campanhas eleitorais, concorrendo ele mesmo ao Legislativo estadual por Astoria em 2020. Usou seu mandato para fortalecer o ativismo e a organização das bases locais – entrando em greve de fome em 2021 para pressionar por redução de dívidas para taxistas – enquanto apresentava propostas de lei sobre energias renováveis, despejos por “justa causa” e transporte público.

Cinco anos atrás, o processo das primárias democratas na cidade funcionou mais ou menos como planejado. A baixa participação eleitoral e uma centro-esquerda fragmentada fortaleceram os caciques e articuladores locais, que conseguiram direcionar apoio para um dos seus na direita: o presidente do bairro do Brooklyn, policial e monstre sacré Eric Adams. Desta vez, mobilizando um exército de cerca de 50 mil voluntários, Mamdani organizou uma operação de arrecadação, porta-a-porta e mobilização eleitoral mais parecida com as campanhas presidenciais de Bernie Sanders do que com uma primária municipal – que ele efetivamente dominou. Acompanhado por uma campanha ágil nas redes sociais, o candidato apareceu percorrendo com desenvoltura e simpatia os cinco distritos da cidade – a pé, no transporte público ou em táxis amarelos. Antes do dia da eleição, Mamdani atravessou Manhattan caminhando – um eco da ‘monster parade’ da campanha de George, quando 30 mil trabalhadores marcharam dias antes da abertura das urnas.

Enquanto isso, Andrew Cuomo, seu principal oponente, entrou na corrida envolto em um manto de favoritismo sombrio. Chamado de “retorno” pela imprensa, havia mais que um ar de “plano B” em sua busca por um cargo que ele persistentemente tentou diminuir durante seus onze anos como governador. Seus atritos com o então-prefeito Bill de Blasio, apresentados como rixa pessoal, na verdade giravam em torno do controle dos recursos da cidade – que Cuomo tentou restringir através de acordos no Senado estadual. Isso teve consequências reais para os serviços municipais, com cortes no Medicaid, escolas públicas, transporte público e implementação do pré-escola universal. Seu desdém pelas realidades sórdidas da metrópole, que ele governou a distância segura, desde Albany, transparecia em suas aparições: quase sempre em igrejas, sedes sindicais e da Legião Americana, sem perguntas da imprensa.

Cuomo não apenas encarna uma espécie de santíssima trindade da elite do Partido Democrata: como herdeiro de uma dinastia política (filho do ex-governador Mario), casou-se turbulentamente com outra através de sua primeira esposa Kerry Kennedy, antes de se tornar protegido de uma terceira como o membro mais jovem do gabinete de Bill Clinton. Ele também personifica o cinismo e a podridão dos gestores e financiadores do partido. Segundo levantamento, quase metade dos políticos que o endossaram exigira sua cabeça quatro anos antes, por acusações de assédio sexual e por encobrir mortes em asilos durante a Covid (cujo suposto manejo habilidoso lhe rendeu um adiantamento de US$ 5 milhões por um livro escrito por seus assessores). Esta gárgula com pés de barro foi a escolha clara de Wall Street: Bloomberg, Ackman, Griffin, Loeb e uma dúzia de outros bilionários, segundo a Forbes, injetaram ao menos US$ 25 milhões em sua campanha, apenas por meio de um dos canais de irrigação – os PACs.

Foi necessário muita vontade política para escapar do inevitável e uma campanha real para expor a estranha farsa liderada pelo ex-governador. Aqui, apesar de sua polidez tranquilizadora, Mamdani mostrou fibra ao atacar com precisão o histórico de seu rival; um esforço paralelo, apoiado por outros candidatos, simplesmente instruía os nova-iorquinos a não votarem em Cuomo. Mamdani também registrou uma conquista mais significativa, ainda que provisória: até agora, demonstrou capacidade de resistir à acusação de antissemitismo – arma principal usada no Ocidente para desqualificar a esquerda como inepta ao cargo sempre que ousa defender justiça para os palestinos. Nesta cidade que é um centro da vida judaica, que testemunhou o maior cerceamento ao discurso pró-Palestina nos EUA, usar essa arma contra um muçulmano praticante parecia uma aposta segura. Tal lógica guiou os cálculos de todo o establishment democrata – desde a “investigação” legal do governador sobre antissemitismo na Universidade da Cidade de Nova York até a conduta vergonhosa do prefeito Adams, que pressionou a policia a invadir o acampamento na Universidade de Columbia e ordenou que agências municipais cooperassem com agentes da perseguição aos imigrantes, que posteriormente sequestraram um de seus líderes, Mahmoud Khalil.

O estilo de Mamdani – engajamento sincero mesclado com intransigência em pontos essenciais – parece ter funcionado para amortecer o ataque. Por um lado, ele ofereceu garantias constantes de que “protegeria” e “ouviria” os judeus e agiria contra o antissemitismo. Por outro, elaborou respostas diretas (com algumas evasivas) às perguntas insistentes sobre se Israel tinha “direito à existência”: sim, disse ele, como um “Estado com direitos iguais”, que obedece “ao direito internacional”; reiterou apoio à campanha BDS (por Boicote, Desinvestimento e Sanções), sem dizer se o aplicaria; e manteve sua caracterização do apartheid e genocídio israelenses. Essas respostas expuseram a hipocrisia dos interrogadores e a conformidade decerebrada de seus oponentes. Perguntados em um debate ao vivo sobre seu primeiro destino internacional como prefeito, a maioria correu para garantir que estaria no próximo voo da El Al [empresa aérea israelense] que saísse do aeroporto JFK; Mamdani disse que ficaria em Nova York para trabalhar nos problemas da cidade.

Porém, o manejo astuto dessa questão por Mamdani provavelmente teve importância secundária. É difícil ignorar a impressão de que o principal motivo pelo qual os ataques falharam foi o fato de os eleitores democratas (70% dos quais agora têm uma “visão desfavorável” de Israel) terem sido, de fato, consultados. Dada a chance, escolheram o defensor claro e consistente dos direitos palestinos – incluindo judeus, que mostraram ser mais do que alvo de bajulação. Cuomo venceu com 30% dos votos deles na primeira rodada, liderando entre os hassídicos sionistas ultraconservadores e ortodoxos, além de redutos no aristocrático Upper East Side; mas Mamdani ficou em segundo com 20%.

Os efeitos dessa campanha incomum – ao mesmo tempo mais ideológica e muito bem-organizada, com base voluntária – eram visíveis bem antes do dia da eleição. A participação no voto antecipado dobrou em relação a 2021, chegando a 400 mil eleitores. Na reta final, várias pesquisas que mostravam Mamdani ganhando terreno sobre Cuomo culminaram em uma última que o via vencendo, por 52% a 48%. No fim, a vantagem de Mamdani – quase oito pontos – foi tão ampla que ele pôde declarar vitória por volta da meia-noite, como primeira escolha de quase 44% dos eleitores. O que as pesquisas claramente subestimaram foi o engajamento dos jovens. Os três maiores grupos eleitorais foram os de 25-29, 30-34 e 35-39 anos (a participação dos de 18-24 não ficou muito atrás). Nas áreas da cidade onde muitos ainda conseguem – por pouco – morar, eles garantiram a Mamdani margens expressivas: em Williamsburg (+27), Bedford-Stuyvesant (+43), Astoria (+52) e Bushwick (+66), contra margens geralmente menores para Cuomo em seus redutos.

Além dessa clara dinâmica geracional, surgiu um debate sobre o caráter de classe, racial e étnico da coalizão de Mamdani. Comentaristas do establishment enfatizaram sua afluência, com uma implícita repreensão aos esquerdistas intelectualizados, supostamente desconectados da realidade dos negros mais pobres e demais não-brancos. É verdade que Mamdani não conquistou eleitores negros mais velhos em bairros como Canarsie, enquanto venceu em distritos com maioria de graduados universitários e rendas familiares médias e altas, em áreas arborizadas como Fort Greene ou Clinton Hill. Mas isso ignora o essencial: ao contrário de progressistas do passado, seu apelo não se limitou a essas camadas. Mamdani venceu entre jovens de todas as raças e etnias, com desempenho ainda mais forte entre minorias do que entre brancos. Ele mobilizou sul-asiáticos em Jamaica e Kensington, venceu nas Chinatowns de Flushing e do baixo Manhattan, na hispânica Washington Heights e onde essas populações se misturam, em Jackson Heights e Sunset Park. Essas e outras áreas conquistadas por Mamdani representam a Nova York trabalhadora: lar de chefs e ajudantes de cozinha, entregadores, trabalhadores da construção civil, de hotéis e aeroportos; imigrantes e seus filhos que mantêm em pé a economia dominada pelo setor de serviços. A dependência do transporte público e do aluguel pareceu definir preferências eleitorais melhor do que a educação; Mamdani venceu por 14 pontos em distritos com maioria de inquilinos, numa cidade onde um terço deles destina metade do salário a aluguel e metade é classificada como “sobrecarregada pelo aluguel”.

A ênfase de Mamdani em uma cidade menos cara e em serviços públicos uniu zonas mais brancas e em gentrificação com enclaves étnicos. Segundo uma análise de regressão, não houve “gradiente de classe significativo” em sua votação, mas uma correlação negativa com rendas acima de US$ 100 mil. Numa cidade onde a renda familiar média é de US$ 76 mil, ele conquistou grandes parcelas das classes baixa e “média baixa”. Seu apelo transversal só ficou mais evidente quando as preferências rankeadas foram reveladas: Mamdani recebeu votos de segunda ou terceira opção de outros candidatos, inclusive do aliado Brad Lander, e ampliou sua vantagem sobre Cuomo para 12 pontos.

Quais as perspectivas para que este socialista democrático assuma o poder em novembro e implemente seu programa se eleito? Em termos de difamações – que variaram do virulento ao ridículo: panfletos pró-Cuomo, que alongavam, a barba de Mamdani, foram um pouco dos dois – as primárias foram claramente um ensaio geral. A classe dominante dos EUA está agora focada como um laser em Mamdani. Nova York é uma cidadela de seu poder financeiro e midiático; eles a usarão para tentar prejudicá-lo. Espere esforços redobrados para mesclar a retórica anti-muçulmana dos anos da guerra ao terror com caças às bruxas, truques sujos e acusações de antissemitismo. Kirsten Gillibrand, uma marionete do lobby do tabaco em Albany, elevada inicialmente à posição de senadora por Nova York, antecipou uma linha de ataque da liderança democrata – recusando-se a apoiar Mamdani devido a suas “referências à jihad global”. Rudy Giuliani, o ex-prefeito falido do campo MAGA, ofereceu outra em reunião do novo Conselho Consultivo de Segurança Interna de Trump – com ameaças de prender essa “combinação de extremista islâmico e comunista” se ele bloquear o acesso da polícia antiimigração à cidade.

O limite objetivo para os oponentes de Mamdani é a estrutura da eleição geral em si: todos os prazos para registro já passaram. Cuomo poderia concorrer como independente, mas sua derrota em junho foi tão decisiva que até agora ele descartou a possibilidade. Em demonstração de seu instinto de sobrevivência – sem vergonha até o fim – Eric Adams planejava concorrer com uma plataforma de “Combate ao Antissemitismo”. Mas seu mandato está tão atolado em corrupção e escândalos – a acusação federal contra ele por suborno, conspiração e fraude eletrônica, só interrompida por uma troca de favores com Trump – que apoiá-lo seria um movimento arriscado para o mainstream democrata.

Mamdani enfatizou durante a campanha os elementos mais chamativos de sua plataforma: ônibus gratuitos e rápidos; congelamento de aluguéis para inquilinos, com controle de preços; um programa piloto de cinco mercados municipais para combater a especulação de preços e a perseguição a sindicatos pelos grandes conglomerados; creches universais; e um imposto de 2% sobre a renda dos ricos (a partir de US$ 1 milhão) para financiar a maior parte disso. Seu plano habitacional prevê a construção de 200 mil unidades acessíveis em dez anos. Embora prometa colocar “o setor público no comando”, a proposta consiste principalmente em ajustes a ferramentas existentes de zoneamento, revisão urbanística, subsídios, incentivos e regras para construção em terrenos públicos. Comparado aos mandatos de La Guardia, Wagner ou mesmo Lindsay, a visão de Mamdani é bastante modesta. Se seu feito é em muitos aspectos mais impressionante que o de George – ocorrendo em um refluxo do movimento sindical, não no meio da Grande Agitação que impulsionou o último –, o socialismo democrático que ele imagina também reflete esse contexto alterado. A decisão de concorrer como – e não contra – os democratas foi pragmática; inevitavelmente, implica compromisso com os limites atuais do partido. Nesta nova Era Dourada, o empresariado age com ainda maior senso de privilégio sobre a cidade que em grande parte possui, e não está acostumado a desafios nessa escala a suas prerrogativas.

Há provavelmente dois motivos para a moderação relativa de Mamdani. O primeiro pode ser estratégico: adiar o confronto aberto com os interesses capitalistas mais organizados e poderosos da cidade – o setor imobiliário, representado pela Association for a Better New York, o Real Estate Board e a Apartment Association. O segundo é que grande parte dessa agenda depende do governo estadual que o supervisiona. O poder do prefeito de Nova York é mais restrito do que o de qualquer outra grande cidade dos EUA. Com um orçamento de US$ 115 bilhões (maior que o de quase todos os estados), Mamdani poderá financiar parte de seus planos realocando verbas internas. Mas o prefeito e a câmara controlam pouquíssimos dos impostos que geram receita. O imposto predial representa cerca de um terço da arrecadação – mas mesmo esse só pode ser aumentado com base em fórmulas definidas por leis estaduais. A governadora Kathy Hochul já se opôs à base do programa de Mamdani – um modesto imposto sobre milionários e aumento de tributos corporativos – alegando que Nova York não pode perder mais cidadãos ricos para Palm Beach. Em outras palavras, as cenas de de Blasio mendigando no legislativo estadual em dias de “copo de estanho” não foram uma anomalia dos anos Cuomo. Sob Mamdani, elas certamente se repetirão. Pois este é, na verdade, o mecanismo central para conter as demandas sociais dos residentes da “capital do capital” americana – cuja rebeldia (ou seja, sua capacidade potencial de responsabilizar os poderosos localmente) há muito preocupa os titãs enjaulados de Wall Street.

Até meados do século XX, o setor financeiro dividia a ponta de Manhattan com os cais mais movimentados do mundo, que abrigavam a maior concentração de trabalhadores industriais dos EUA – um quarto deles sindicalizados. Em seu instigante livro Fear City, Kim Phillips-Fein descreve o declínio dessa força como pano de fundo para a crise de falência de 1975, quando o governo estadual interveio para intermediar acordos com bancos e reativar o mercado de títulos municipais, consolidando uma tomada de poder que deixou a cidade em uma espécie de tutela permanente. A narrativa que justifica esse arranjo retrata uma metrópole pródiga e mal administrada, cuja sede por serviços públicos seria tão insaciável que estaria sempre à beira do desastre. O objetivo por trás disso é impedir o ressurgimento da “versão de social-democracia que tornou a vida em Nova York única nos EUA” em meados do século. O governo estadual está lá, a 240 km de distância, para evitar recaídas. Se eleito em novembro, Mamdani enfrentará sua força total. Na verdade, dada a dificuldade de encontrar um alternativa para detê-lo, os democratas e seus doadores podem ser mais astutos em esperar: deixar Mamdani cruzar a linha de chegada, para então bloquear sua agenda no cargo – via governadora e legislativo – desiludindo seus apoiadores e desacreditando seu programa, num golpe contra toda a pretensão do socialismo municipal.


Essas são as apostas, independentemente do que a vitória de Mamdani signifique para a política norte-americana. Mas isso não é um aviso de desespero. Mamdani e a DSA podem responder politizando a relação entre ricos e pobres como não se vê há meio século. Não se trata apenas de construir coalizões institucionais, como Mamdani prometeu fazer. Uma nova carta constitucional municipal e uma convenção para reformar a Constituição estadual seriam complementos naturais ao plano urbano abrangente que Mamdani espera realizar – e de que Nova York sempre precisou. Isso também é um resquício dos dias de Tammany Hall e das campanhas de Henry George, quando o grito de políticos locais exasperados, inspirados pelos irlandeses, ecoava como Home Rule for New York (Autogoverno para Nova York).

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