Assim Israel cava sua própria ruína
Custo do terror não é apenas moral e geopolítico. O genocídio e a agressão ao Irã desgastam economia. Emergem crise na agricultura, risco de colapso de serviços públicos e êxodo de jovens. E impactos ambientais do belicismo são incalculáveis
Publicado 23/06/2025 às 20:06 - Atualizado 23/06/2025 às 20:17

Título original: Genocídio palestino, cumplicidade e autodestruição de Israel
Uma solução pacificadora em dois Estados, nos marcos de 1947, aumentaria as chances de Israel se adaptar ao colapso socioambiental em curso. Ao invés disso, o governo de Netanyahu precipita a ruína de seu país. O abismo moral do genocídio, o declínio econômico, a poluição que emana da destruição de Gaza e as bombas retaliatórias do Irã, tudo isso muito ampliado pelos impactos do rápido aquecimento regional, condenam Israel a se tornar em breve um país onde ninguém quererá ou poderá viver. Hoje, 40% dos israelenses consideram emigrar. A emigração já começou e deve se intensificar nos próximos anos.
A substituição da política pela violência está se ampliando e se intensificando. Em 2024, o Programa de Dados sobre Conflitos da Universidade de Uppsala (UCDP) registrou 61 conflitos ativos no mundo, envolvendo pelo menos um Estado, “um aumento em relação aos 59 do ano anterior e o maior número desde o início das estatísticas em 1946. Onze desses conflitos atingiram o nível de guerra, definido como um conflito que causa pelo menos 1.000 mortes relacionadas a batalhas em um ano”.i Segundo Shaun Davies, analista sênior do UCDP:ii
“Na última década, assistimos a um aumento de conflitos interestatais e 2024 registrou o maior aumento desde 1987. (…) Vivemos em uma nova era com conflitos em maior número, mais intensos e complexos, o que impõe maiores demandas à resolução de conflitos internacionais e à melhor proteção de civis”.
Essa nova era de proliferação de guerras ocorre justamente quando, mais que nunca, a humanidade precisa de muito maior cooperação global para desacelerar o aquecimento e reverter a perda de natureza. Em 2024, o orçamento militar global superou 2,7 trilhões de dólares, um aumento de 9,4% em termos reais (já descontada a inflação) em relação a 2023. É o 10o ano consecutivo de aumento e o maior aumento anual desde os anos 1990. Em 2024, os aumentos mais significativos ocorreram na Europa (+17% em média, sendo +28% na Alemanha) e no Oriente Médio (+15%, sendo +65% em Israel).iii Malgrado a falta de transparência das emissões produzidas pela engrenagem militar, as estimativas são de que ela responde por cerca de 5,5% das emissões globais de gases de efeito estufa. Se essa engrenagem fosse um país, esse “país” seria o quarto mais emissor do mundo, após apenas a China, os Estados Unidos e a Índia.iv Entre os subprodutos dessa epidemia de guerras está a crescente ruptura do Direito Internacional Humanitário e das Convenções de Genebra (1929, 1949 etc.).v Como bem resume Thomas Fletcher, Sub-Secretário-Geral da ONU para Assuntos Humanitários e Coordenador dos Serviços de Socorro de Emergência: “As estruturas construídas no século passado para nos proteger da desumanidade estão ruindo”.vi
1. Sudão e Israel
Nesse contexto de um mundo em rápida regressão civilizacional, avançam impunes os dois maiores genocídios perpetrados neste século, ambos iniciados em 2023. O primeiro está de volta a Darfur, no oeste do Sudão, após o genocídio de 2003-2005. Trata-se agora de uma guerra intestina entre generais que disputam o poder, apoiados, de um lado, pela Arábia Saudita e, de outro, pelos Emirados Árabes Unidos, no âmbito de tensões geopolíticas regionais e do controle dos recursos hídricos, das férteis terras agrícolas e das reservas de petróleo, ouro, cobre, ferro e gás natural do Sudão.vii Esse genocídio visa sobretudo os povos Fur, Zaghawa e Masalit, grupos étnicos não-árabes,viii mas o país como um todo é vitimado. Segundo as últimas estimativas, a guerra e o genocídio mataram 150 mil pessoas, forçaram o deslocamento interno de 8,6 milhões de pessoas e o deslocamento externo de outros quatro milhões. O abandono da agricultura está levando 24,6 milhões de pessoas a um estado de insegurança alimentar aguda, das quais 638 mil estão sofrendo “fome catastrófica”, ou seja, morrendo de fome.ix
O segundo genocídio, foco deste artigo, ocorre desde outubro de 2023 em Israel, sobretudo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e tem por vítimas os palestinos. Trata-se, nesse caso, de um genocídio bem documentado e condenado, em vão, pelo Tribunal Penal Internacional, cometido pelas forças armadas de Israel contra a população civil palestina. Omer Bartov, cidadão israelense e estadunidense, soldado em Israel nos anos 1970 e hoje professor de estudos sobre o Holocausto e genocídio na Brown University (EUA), afirma:x
“O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século XXI. (…) A única comparação possível é com a Nakba, ou seja, a expulsão dos palestinos em 1948. Naquela época, cerca de 750 mil palestinos foram expulsos das áreas que se tornaram o Estado de Israel. E milhares de pessoas morreram. (…) Costumávamos pensar que o que os russos faziam na Chechênia e em Grozni era terrível, mas isso é em uma escala maior. É difícil comparar com qualquer coisa. Para o século XXI, certamente não há precedentes”.
Esse genocídio sem precedentes em nosso século está se consumando com as armas, a logística e o apoio econômico e diplomático dos Estados Unidos e de vários países da Europa, bem como com a cumplicidade explícita da Comissão Europeia. Em março de 2025, em pleno recrudescimento do genocídio, a vice-presidente da Comissão europeia, Kaja Kallas, chegou ao cúmulo de fazer uma visita oficial a Israel, no âmbito da qual declarou: “É claro que somos ótimos parceiros. Em comércio e em investimentos, Israel é um parceiro muito relevante para a União Europeia e também um ator maior no crescente setor de tecnologia”.xi Em “Os últimos dias de Gaza”, Chris Hedges resume o que os “ótimos parceiros” da União Europeia estão cometendo:xii
“O genocídio está quase completo. Quando estiver concluído, terá não apenas dizimado os palestinos, mas terá também exposto a falência moral da civilização ocidental. (…) Dois milhões de pessoas estão acampadas entre os escombros ou ao ar livre. Dezenas são mortas e feridas diariamente por granadas, mísseis, drones, bombas e balas israelenses. Falta-lhes água limpa, remédios e alimentos. Chegaram a um ponto de colapso. Doentes. Feridas. Aterrorizadas. Humilhadas. Abandonadas. Destituídas. Famintas. Sem esperança”.
A essa cumplicidade ocidental, voltarei adiante. Por enquanto, é preciso ter bem presente que, até semanas antes de 7 de outubro de 2023, data do ataque mortífero do Hamas contra militares e civis israelenses, a intenção do governo de Israel nunca foi derrotar essa organização. Ao contrário. Durante anos, Netanyahu tentou usar o Hamas para enfraquecer Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina na Cisjordânia, e seus esforços para o reconhecimento do Estado da Palestina. Como afirma Tal Schneider:xiii
“Na maior parte do tempo, a política israelense consistiu em tratar a Autoridade Palestina como um fardo e o Hamas como um trunfo. (…) De acordo com diversos relatos, em uma reunião de uma facção do Likud no início de 2019, Netanyahu (…) foi citado dizendo que aqueles que se opõem a um Estado palestino deveriam apoiar a transferência de fundos para Gaza, pois manter a separação entre a Autoridade Palestina na Cisjordânia e o Hamas em Gaza impediria o estabelecimento de um Estado palestino”.
Mark Mazzetti e Ronen Bergman confirmam que durante anos, o Qatar enviou milhões de dólares para a Faixa de Gaza, fortalecendo o Hamas, e que “Netanyahu não apenas tolerou esses pagamentos, mas os encorajou”.xiv E isso, repita-se, até setembro de 2023… Netanyahu agora usa o ataque do Hamas como pretexto para pôr em prática sua real intenção: reduzir Gaza a pó,xv exterminar ou expulsar sua população desse território. Essa intenção foi abertamente proclamada por ele em uma declaração ao seu Parlamento: “O único óbvio resultado será que os habitantes de Gaza escolherão emigrar. Mas nosso problema é encontrar países que os aceitem”.xvi Também o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou que “em alguns meses, poderemos dizer que vencemos. Gaza será totalmente destruída”.xvii Em uma mensagem na rede digital “X”, de 19 de março de 2025, um dia após o fim de uma trégua efêmera (19 de janeiro – 18 de março), o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ofereceu aos palestinos a alternativa: “partir ou morrer”. Julian Fernandez e Olivier de Frouville, professores de direito internacional, denunciaram essa intenção explícita de consumar um genocídio:xviii
“Raramente na história se ouviu um alto funcionário do Estado, responsável por operações militares, expressar tão abertamente a intenção de destruir parte de um grupo humano. E nunca, até onde sabemos, tal intenção foi formulada tão claramente como na recente mensagem do ministro da Defesa israelense”.
Conforme apontado por Lawrence Wilkerson, com o genocídio e a destruição de Gaza, Israel pode também se apoderar das jazidas de gás natural no Mediterrâneo.xix Ocorre que, como se verá adiante, os planos de Netanyahu de criar uma “grande Israel” estão redundando na autodestruição de seu país.
2. Genocídio: fatos e números
Até setembro de 2023, a Faixa de Gaza concentrava uma população de cerca de 2,3 milhões de pessoas em um território de 365 km2. Para contexto, essa área equivale a apenas 24% da área do município de São Paulo (1.521 km2) e a densidade demográfica de ambas é (ou era) comparável, sendo a de Gaza, então, de cerca de 6.300 habitantes por km2. Essa população está sendo exterminada. Segundo o Euro-Med Human Rights Monitor, já no primeiro mês dos bombardeios, Israel lançou sobre a Faixa de Gaza mais de 25 mil toneladas de bombas, “o equivalente a duas bombas nucleares”.xx Até abril de 2024, foram lançadas 70 mil toneladas de bombas, mais que a soma das bombas lançadas sobre Londres, Hamburgo e Dresden na Segunda Guerra Mundial.xxi Em outubro do mesmo ano, 85 mil toneladas de bombas haviam arrasado esse território.xxii Segundo a ONU, até 29 de fevereiro de 2024, Israel já havia destruído 35% do patrimônio edificado da Faixa de Gaza e oito meses depois, mais de 66% desse patrimônio havia sido destruído ou danificado.xxiii A Figura 1 mostra que até 11 de janeiro de 2025, nove em cada 10 construções haviam sido destruídas por Israel nas quatro maiores cidades e em áreas circundantes na Faixa de Gaza.

Figura 1 – Cidades e territórios bombardeados ou demolidos por Israel até 11 de janeiro de 2025 na Faixa de Gaza. Fonte: Emma Graham-Harrison et al., “A visual guide to the destruction of Gaza”. The Guardian, 11 jan. 2025.
Israel impôs o deslocamento de mais de dois milhões de pessoas, praticamente a totalidade da população palestina, e muitas delas foram forçadas a se deslocar várias vezes.xxiv Também na Cisjordânia, o exército de Israel arrancou de suas casas e deslocou cerca de 40 mil palestinos, o maior ato de deslocamento de civis nesse território desde a guerra dos seis dias em 1967.
Qual é o balanço provisório e oficial das mortes e feridos desse genocídio? Segundo a ONU, até 18 de junho de 2025, Israel matou 55.297 e feriu 125 mil palestinos, perdendo 1.200 de seus soldados em Gaza.xxv O Escritório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR), que verificou as fatalidades fornecidas por três fontes independentes, estimou que, durante os primeiros seis meses desse massacre, cerca de 70% das vítimas fatais identificadas eram mulheres e crianças, pois as bombas lançadas por Israel atingiam indiscriminadamente áreas muito amplas e densamente habitadas. O relatório concluía que essa ofensiva trazia níveis “sem precedentes” de violações da lei internacional, “crimes de guerra e outras possíveis atrocidades”.xxvi Ainda segundo o OHCHR, entre 18 de março e 9 de abril de 2025 “houve cerca de 224 bombardeios sobre imóveis residenciais e sobre tendas para os deslocados” em Gaza, sendo que as vítimas de 36 deles “eram unicamente mulheres e crianças”.xxvii Ademais, as forças armadas de Israel mataram centenas de agentes internacionais, funcionários da ONU e paramédicos. Em março de 2025, seus soldados mataram e enterraram numa vala comum 14 paramédicos, por estarem se movendo “de modo suspeito”, o que foi desmentido por evidências audiovisuais, conforme o jornal The Washington Post.xxviii A matança inclui jornalistas, igualmente protegidos pela lei internacional. O Committee to Protect Journalists (CPJ) denuncia que até 12 de junho de 2025, os soldados israelenses haviam matado 177 jornalistas palestinos.xxix
Ocorre que o número real de mortes palestinas é, com toda probabilidade, mais de três vezes maior do que as estimativas oficiais. Segundo cálculos de um estudo publicado na revista Lancet, Israel havia feito, até 19 de junho de 2024, mais de 180 mil vítimas fatais:xxx
“Aplicando uma estimativa conservadora de quatro mortes indiretas por cada morte direta às 37.396 mortes notificadas, não é implausível estimar que até 186.000 ou mesmo mais mortes possam ser atribuíveis ao atual conflito em Gaza. Utilizando a estimativa da população da Faixa de Gaza para 2022, de 2.375.259, isso representa a eliminação de 7,9% dessa população”.
A matança continua desde então, sendo que às mortes por bombas e balas, acrescentam-se mortes mais lentas e ainda mais cruéis por desnutrição, doenças e epidemias, dado que Israel continua bloqueando ou dificultando ao máximo qualquer assistência humanitária a essa população. Nils Adler e Farah Najjar relatam que “desde janeiro de 2024, os residentes na parte norte de Gaza têm sido forçados a sobreviver com uma média de 245 calorias por dia”.xxxi Segundo a ONU, as autoridades israelenses nada têm feito para reprimir gangues que roubam os comboios da pouca ajuda humanitária internacional consentida por Israel. Apenas em outubro de 2024, essas gangues roubaram US$ 9,5 milhões em mantimentos.xxxii Avigdor Lieberman, ex-ministro da defesa de Israel, afirmou que Netanyahu “está transferindo armas a grupos de delinquentes e de criminosos que se identificam com o Estado Islâmico”.xxxiii
3. O Estado da Palestina e a cumplicidade da Europa
Em março de 2025, 147 dos 193 Estados e territórios membros da ONU (>75%) reconhecem o Estado da Palestina, estabelecido pela ONU em novembro de 1947. A Figura 2 mostra os Estados que o reconhecem e os que não o reconhecem.

Figura 2 – Mapa dos 147 países que reconhecem o Estado da Palestina (em verde) e dos países que não o reconhecem (em cinza). Fonte: Wikipedia, “International Recognition of Palestine”, baseado em dados da ONU.
A Islândia, Suécia, Noruega, Espanha e Irlanda são exceções numa Europa obediente ao veto dos Estados Unidos ao reconhecimento da Palestina como um membro-pleno da comunidade das nações. Não a reconhecem também o Japão, a Austrália, Nova Zelândia, Mianmar e Camarões.
Esses países afrontam a comunidade internacional e o senso mais elementar de justiça. Desde 1948 e ainda mais em 1967, Israel ocupou militarmente mais e mais territórios além das fronteiras que lhe haviam sido outorgadas pela ONU em 1947, infligindo mortes e humilhação não apenas ao povo palestino, mas também aos povos do Líbano, Síria, Iêmen e Irã. Desde 1967, a Assembleia Geral da ONU adotou mais de 160 Resoluções contra Israel, exigindo seu desarmamento nuclear, o término de sua colaboração com o regime de apartheid da África do Sul e sua retirada dos territórios ocupados, bem como o fim das violações aos direitos dos palestinos.xxxiv Eis algumas delas, relativas à questão palestina:
- 19/XII/1968 (Resolução 2443): estabelece uma “Comissão Especial para Investigar as Práticas Afetando os Direitos Humanos contra o Povo Palestino” nos territórios ocupados por Israel, que negou o acesso dos funcionários da ONU a esses territórios.xxxv Em 11 de dezembro de 1969, a Resolução 2546 condenou Israel por “violações aos direitos humanos e às liberdades fundamentais” nos territórios ocupados.
- 4/XI/1969 e 5 e 15/XII/1970 (Resoluções 2628, 2727 e 2728): pressionam Israel a implementar a Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU (“o respeito pelos direitos dos palestinos é um elemento indiscutível no estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Oriente Médio”).
- 6/XII/1971 (Resolução 194), a partir de um relatório da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), a Assembleia Geral enfatiza mais uma vez “os direitos inalienáveis do povo da Palestina” e conclama Israel a não o confinar em campos de refugiados.
- 10/XI/1975 (Resolução 3379): iguala o sionismo ao racismo.
- 5/XII/1975 (Resolução 3414): convoca sanções econômicas e um embargo de armas a Israel até que garanta os “direitos nacionais inalienáveis” dos palestinos, retirando-se de seus territórios.
- 9/XII/1976 (Resolução 31/61): reitera condenações anteriores e convoca o Conselho de Segurança a tomar “medidas efetivas” contra Israel, requerendo sanções contra o país.
- 14/VII/1979 (Resolução 452) adotada por unanimidade pelo Conselho de Segurança em sua 2.159ª reunião: “apela o governo e o povo de Israel a cessar urgentemente o estabelecimento de colônias em territórios palestinos ocupados desde 1967, incluindo Jerusalém”.
- 14/XII/1979, 5/XII/1980 e 17/XII/1981 (Resoluções 34/136, 35/110 e 36/173): exigindo a soberania permanente dos palestinos sobre os recursos naturais de seus territórios ocupados.
- 19/XII/1983 (Resolução 38/180): apela a todas as nações a suspender ou romper vínculos diplomáticos, econômicos e tecnológicos com Israel
Resoluções de mesmo teor, emanando da Assembleia Geral da ONU, repetem-se até hoje, apelando, em vão, para que o Estado de Israel recue para suas fronteiras anteriores a 1967 e reconheça os direitos dos palestinos à constituição de um Estado nacional soberano. Em 10 de maio de 2024, em uma sessão emergencial, uma Resolução dessa Assembleia exortou o Conselho de Segurança a dar uma “consideração favorável” à admissão do Estado palestino como membro pleno da ONU. E em 18 de setembro de 2024, a mesma Assembleia “votou esmagadoramente” (124 países a favor, 14 contra e 43 abstenções) uma Resolução, exigindo que Israel “ponha fim sem demora à sua presença ilegal” no Território Palestino Ocupado.xxxvi
No âmbito do ordenamento jurídico internacional, Israel é, portanto, um Estado fora da lei, um Estado pária. A percepção pública global de Israel é hoje francamente negativa. Uma pesquisa de opinião realizada pela Pew Research em 24 países mostra que, em média, apenas 29% das respostas exibiam uma visão favorável ao país, sendo que nos 10 países europeus pesquisados ela caía em média para 25%.xxxvii Uma pesquisa do YouGov em seis países da Europa ocidental (Alemanha, Dinamarca, Espanha, França, Itália e Reino Unido) mostra que em 2025 a opinião pública em relação a Israel atingiu seu ponto mais baixo desde 2022.xxxviii Na Alemanha, uma sondagem da empresa Forsa mostra que três quartos da população são contrários à exportação de armas a Israel.xxxix Gigantescas e reiteradas manifestações populares em vários países europeus demonstram solidariedade com os palestinos e indignação contra Israel. Mas seus governos, que se proclamam democracias atentas à opinião pública, observantes do ordenamento jurídico internacional e dos direitos humanos, continuam submetidos ao Diktat dos Estados Unidos. Em maio de 2025, “o Parlamento italiano votou mais uma vez contra o reconhecimento da Palestina e contra o compromisso de tomar medidas práticas para pôr fim ao genocídio em Gaza”.xl De seu lado, o presidente da França, Emmanuel Macron, realizou a façanha de bater o próprio recorde de hipocrisia, ao afirmar que “a criação de um Estado da Palestina é não apenas simplesmente um dever moral, mas uma exigência política”. Como condições para tanto, todavia, impôs a desmilitarização do Hamas e sua “não participação” a um futuro governo palestino. Como se a França pudesse se arrogar o direito de determinar quem pode ou não pode governar ou participar de um governo de outro país.xli Enfim, em inícios de março de 2025, dias antes de sua atribulada posse como primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz convidou Netanyahu a visitar seu país,xlii afrontando assim o Tribunal Penal Internacional, que o condenara por “crimes de guerra de fome como método de guerra e de direcionar intencionalmente um ataque contra a população civil; e pelos crimes contra a humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos desde pelo menos 8 de outubro de 2023 até pelo menos 20 de maio de 2024”.xliii Até 2024, a Alemanha só aumentou suas exportações de armas a Israel, como mostra a Figura 3.

Figura 3 – Principais fornecedores de armas a Israel em porcentagens, entre 2016 e 2024. Fonte: Matthew Ward Agius, “Quem são os grandes fornecedores de armas de Israel?” DW, 30 maio 2025.
Os Estados Unidos lideram o belicismo global, com um orçamento militar de US$ 997 bilhões em 2024 (+5,7% em relação a 2023), correspondente a 36,7% do orçamento militar global. Em 2016, o país se comprometeu a fornecer US$ 3,8 bilhões por ano em ajuda financeira militar a Israel entre 2019 e 2028, com parte desses recursos sendo embolsados pelo complexo industrial-militar dos próprios Estados Unidos.xliv A França e o Reino Unido são igualmente cúmplices do genocídio. Embora afirme exportar “apenas” componentes desse arsenal,xlv o governo francês foi desmascarado por um dossiê da ONG Progressive International, produzido em cooperação com outras ONGs (Palestinian Youth Movement, French Jewish Union for Peace, BDS France e Stop Arming Israel France). Segundo esse dossiê:xlvi
“A França desempenhou e continua a desempenhar um papel central no tráfico de armas para Israel, não para fins defensivos, mas para serem usadas contra o povo de Gaza e dos territórios ocupados da Cisjordânia. (…) Elas incluem mais de 15 milhões de bombas, granadas, torpedos, minas, mísseis e outras munições de guerra no valor de mais de US$ 8 milhões, bem como 1.868 peças e acessórios para lançadores de foguetes, granadas, lança-chamas, artilharia, rifles militares e rifles de caça no valor de mais de US$ 2 milhões”.
Também as empresas do Reino Unido continuam a vender a Israel tanques de guerra, bombas, granadas, torpedos, minas e mísseis, mesmo após o governo britânico suspender licenças de exportação a esse país em setembro de 2024. Segundo John MacDonald, do Labour Party:xlvii
“O governo tem mantido em segredo seu fornecimento de armas a Israel. Ele precisa finalmente se declarar em resposta a essas evidências extremamente preocupantes e suspender todas as exportações de armas britânicas para Israel, a fim de garantir que nenhuma arma de fabricação britânica seja usada nos novos e aterrorizantes planos de Netanyahu de anexar a Faixa de Gaza e realizar uma limpeza étnica no território”.
4. A cumplicidade tácita do Brasil
Nesse contexto, a hipocrisia do governo brasileiro salta aos olhos. De um lado, o Brasil reconhece desde 2010 o Estado Palestino e Lula tem sido certeiro em suas palavras:xlviii
“O que nós estamos vendo não é uma guerra entre dois exércitos preparados, em um campo de batalha, com as mesmas armas… Não! O que estamos vendo é um exército altamente profissionalizado matando mulheres e crianças indefesas na Faixa de Gaza. Isso não é uma guerra, é um genocídio”.
Os atos não acompanham essas belas palavras. O Brasil encomendou à Elbit Systems de Israel 36 veículos blindados de combate, no valor de um bilhão de reais, um contrato de importação obstado por parlamentares do PT, PDT, PCdoB, Psol e pelo embaixador Celso Amorim, assessor internacional do presidente Lula.xlix Além disso, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em 2024 o Brasil exportou US$ 725 milhões a Israel, quase 10% a mais do que em 2023. O Brasil foi responsável pelo fornecimento de 9% do petróleo bruto importado por Israel nos primeiros nove meses dos bombardeios sobre a Faixa de Gaza.l O Brasil pode não exportar armas para Israel, mas, através da Villares Metais S/A, exporta barras de aço para a indústria bélica israelense. Em 2024, o aço foi o décimo produto mais vendido do Brasil para Israel, com valor total de quase US$ 10 milhões. Como lembra Vinícius Konchinski, “toda exportação é feita com autorização do governo federal. Basta, portanto, uma ordem de Lula para que determinados negócios sejam proibidos”.li
As universidades e a ciência não estão acima da ética. Em 6 de agosto de 2024, o Conselho Universitário da Unicamp assumiu sua parte de responsabilidade no genocídio palestino e no regime de apartheid de Israel, ao rejeitar a proposta de 160 docentes de suspensão de um convênio de cooperação com a Technion, contendo cláusulas de confidencialidade.lii A Technion se define como a “coluna dorsal” da tecnologia militar de Israel e “tem se ligado inexoravelmente à segurança do Estado desde a sua criação”.liii Infelizmente, a Unicamp não está sozinha. Também a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Technion celebraram um Acordo de Cooperação em setembro de 2024, quase um ano após o início do genocídio.liv Além disso, “o governo federal brasileiro, a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) possuem 15 convênios e acordos científicos com universidades israelenses”, sendo que sete deles são mantidos pela USP e três, pela UFMG.lv
5. “Efeito bumerangue”, crises ambientais e emigração: a inviabilização de Israel
Chegamos aqui ao núcleo duro deste artigo. Dominado pelo sionismo de extrema-direita, pelo nacionalismo suprematista, pelo racismo, pelo revanchismo e pela teocracia, o governo de Israel está não apenas matando a riquíssima tradição cultural judaica, mas também a viabilidade mesma dessa sociedade.
Comecemos pelas consequências de uma economia de guerra. Entre 2001 e 2021, a guerra do Afeganistão custou aos Estados Unidos US$ 2 trilhões ou quase US$ 300 milhões por dia. E muitas das consequências econômicas dessa guerra estão ainda por vir.lvi O caso é didático, pois algo bem pior está acontecendo em Israel, cuja economia está em vias de colapsar sob o peso de uma atividade militar insanamente dispendiosa, evoluindo ao mesmo tempo em Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria, Iêmen e agora em mais uma guerra “preventiva” contra o Irã. Não é este o espaço para analisar essa nova guerra suicida de Israel. Limito-me aqui a cinco rápidas observações:
(1) O bombardeio das centrais nucleares iranianas pode causar uma grave contaminação radioativa no Golfo Pérsico.lvii Em resposta a Trump, o Parlamento iraniano votou pelo fechamento do estreito de Ormuz, por onde passam 20 milhões de barris de petróleo por dia.lviii Se efetivado, esse fechamento causará uma crise econômica gigantesca que pode ser o ponto de não retorno de um confronto militar generalizado.
(2) Israel é a grande ameaça nuclear da região. O país não é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, tem hoje ao menos 90 ogivas de plutônio, possui material físsil para mais 100 a 200 ogivas e está aparentemente expandindo seu próprio arsenal nuclear.lix
(3) O Irã, ao contrário, é signatário desse Tratado e em março de 2025, em testemunho ao Congresso dos Estados Unidos, Tulsi Gabbard, diretora da Inteligência Nacional desse país, afirmou que o Irã “não constrói armas nucleares” e que Khamenei “não autorizou o programa de armas nucleares, que ele suspendeu em 2003”. Trata-se, segundo Piotr Smolar, de um consenso entre especialistas, referendado por Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que afirmou não ter provas de um esforço do Irã para a construção de uma bomba atômica .lx
(4) A agressão ao Irã tem, entre suas várias causas, desviar a atenção mundial do genocídio palestino.
(5) O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz (já CEO da BlackStone alemã),lxi afirmou que, ao atacar o Irã, Israel faz “o trabalho sujo por nós”.lxii Para a Europa, a ilegalidade é sempre a dos outros.
Voltemos à economia de guerra de Israel. Segundo o SIPRI, em 2024 seu orçamento militar aumentou 65% em relação a 2023, atingindo US$ 46,5 bilhões, ou seja, 8,8% de seu PIB! Com exceção da Ucrânia, cujo orçamento militar alcança 34% de seu PIB, nenhum país do mundo joga no lixo das guerras uma porcentagem tão alta de seu Produto Interno Bruto. Em 23 de outubro de 2023, Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel, avaliou “os custos diretos da guerra [em Gaza] em aproximadamente 1 bilhão de shekels, o equivalente a US$ 246 milhões, por dia”.lxiii Desde outubro de 2023, essa atividade militar custou à economia e aos cofres públicos de Israel cerca de US$ 85 bilhões.lxiv Mas isso era antes do ataque ao Irã. Segundo o brigadeiro-general Re’em Aminach (reformado), ex-conselheiro financeiro das Forças Armadas de Israel, “os custos dos dois dias iniciais dos combates [contra o Irã] montaram a 5,5 bilhões de shekels (US$ 1,45 bilhão), divididos igualmente entre operações ofensivas e defensivas. Essa estimativa exclui prejuízos às propriedades privadas e consequências econômicas mais amplas”.lxv Já antes do ataque ao Irã, a economia de Israel estava em uma espiral negativa. Entre outubro de 2023 e agosto de 2024, a S&P Global Ratings, a Fitch Ratings e a Moody’s degradaram a confiabilidade de sua dívida soberana.lxvi Em maio de 2025, o Times of Israel intitulou um de seus artigos: “Os custos da guerra colocam os serviços públicos de Israel em risco de colapso”, a partir de uma advertência de Karnit Flug, ex-presidente do Banco de Israel.lxvii Em 2025, o turismo em Israel deve entrar em colapso.lxviii
Incomparavelmente mais grave e irreparável do que a crise econômica, são as perdas em vidas humanas em guerras e, sobretudo, em decorrência da devastadora crise ambiental ecológica, alimentar, sanitária e climática, apenas iniciada. A censura imposta à imprensa pelo governo de Israel impede estimativas sobre o número de vítimas da guerra contra o Irã, que entra em sua segunda semana sem perspectiva de fim.lxix Em 20 de junho, a imprensa reportava números oficiais: 657 mortos e mais de três mil feridos no Irã; 29 mortos e mais de 900 feridos em Israel.lxx Dada a insuficiência da defesa antiaérea de Israel, as vítimas israelenses devem superar em muito esse número. Desde 14 de junho, centenas de mísseis iranianos atingiram edificações militares e civis em Tel Aviv, Jerusalém, Haifa, Tamra, Rishon LeZion, Petah Tikva, Bat Yam e Beersheba, e o Ministério do Interior de Israel já classificou 5.110 israelenses como desprovidos de moradias por causa desse bombardeio retaliatório.lxxi
Isso posto, um saldo incomparavelmente maior de vítimas advirá do que se pode chamar de “efeito bumerangue” do bombardeio israelense sobre o povo palestino. Israel é um país de 21,9 mil km2, o mesmo tamanho de Sergipe e cerca da metade da área do estado do Rio de Janeiro (43,7 mil km2). Distâncias entre 80 e 120 quilômetros separam o Rio Jordão do litoral mediterrâneo. Assim sendo, toda a destruição imposta à Faixa de Gaza e ao Líbano não ficará apenas em Gaza e no Líbano. Cedo ou tarde, ela se voltará contra Israel, pois a poluição dos solos, da água e do ar (inclusive pelos milhares de cadáveres em decomposição sob os escombros dos edifícios destruídos) não conhece fronteiras. Os solos de Gaza e do sul do Líbano estão hoje saturados de metais pesados e dos resíduos de bombas incendiárias à base de fósforo branco, uma arma proibida pelo Protocolo III da Convenção das Nações Unidas sobre Certas Armas Convencionais (CCWC) em regiões com população civil.lxxii Israel, não signatária desse Protocolo III, já usou essas bombas na chamada Operation Cast Lead em Gaza (2008- 2009)lxxiii e, de resto, elas têm sido usadas também pela Ucrânia (Dragon Drone)lxxiv e pela Rússia. O fósforo branco, uma substância altamente tóxica, e os mais de 50 milhões de toneladas de detritos potencialmente tóxicos, inclusive 2,3 milhões de toneladas de amianto lançados à atmosfera até abril de 2024 pelas bombas israelenses em Gaza e no sul do Líbano já atingiram ou atingirão também a água e os solos israelenses, bem como o ar que eles inalam. Como afirma Bill Cookson, diretor do National Centre for Mesothelioma Research em Londres: “os escombros de Gaza criam um ambiente muito, muito tóxico. As pessoas sofrerão intensamente, mas também, a longo prazo, com consequências que as crianças podem carregar por toda a vida”.lxxv O mesotelioma é um tipo de câncer do mesotélio, um tecido que reveste vários órgãos humanos. Sua causa principal é a exposição ao amianto. Nathalie Rozanes reitera esse diagnóstico: “palestinos, israelenses e outros seres vivos na região continuarão a sofrer as consequências pelos anos vindouros”.lxxvi Em fevereiro de 2025, a Oxfam publicou as seguintes denúncias: (a) menos de 7% dos níveis de água pré-conflito são ainda disponíveis para Rafah e o Norte de Gaza; (b) mais de 80% de toda a rede de água e de saneamento básico de Gaza já havia então sido destruída pelas bombas israelenses e (c) das 84 estações de coleta e tratamento de esgoto, 73 haviam sido destruídas.lxxvii Repita-se: o que ocorre em Gaza não fica apenas em Gaza. A infiltração de água poluída nos lençóis freáticos e no mar, e o colapso da gestão de resíduos urbanos, aumentarão os riscos de epidemias por bactérias, vírus, fungos etc. Tudo isso ganhará outra dimensão nos próximos extremos climáticos, pois os coliformes termotolerantes reproduzem-se intensamente à temperatura de 44 °C, recorrentes em Israel. Em sua empresa de extermínio dos palestinos, Netanyahu e os seus estão condenando também os israelenses a morrer ou a adoecer por câncer, intoxicação e infecções sem precedentes.
Também a agricultura de Israel foi atingida, pois os militares tornaram inacessíveis aos agricultores israelenses os territórios próximos à Faixa de Gaza, ao Líbano e à Síria, com impactos crescentes sobre a segurança alimentar no país. Segundo Chen Herzog, economista-chefe da empresa de consultoria BDO Israel, “cerca de 30% das terras agricultáveis encontram-se em áreas de conflito, especificamente perto de Gaza e na fronteira norte. As colheitas foram grandemente impactadas”.lxxviii E é lícito se perguntar o que esses solos contaminados reservam aos futuros agricultores e consumidores israelenses.
No que se refere à emergência climática, Israel fornece um exemplo superlativo do negacionismo contemporâneo. Desde outubro de 2023, a máquina de guerra israelense causou mais de 32 milhões de toneladas de CO2-equivalente (CO2e), um montante superior às emissões anuais de 102 países.lxxix Quase 30% dessas emissões provieram do transporte em aviões e navios das 50 mil toneladas de armas fornecidas a Israel pelos Estados Unidos, armazenadas sobretudo na Europa.lxxx As piores consequências dessas emissões estão ainda por vir, mas o clima atual já tem causado secas e incêndios gravíssimos. “A área de Jerusalém tem sofrido incêndios florestais maiores, o mais grave dos quais em finais de abril [2025], quando uma onda de calor desencadeou incêndios considerados entre os piores da história de Israel”.lxxxi Em 30 de abril, o fogo destruiu cerca de oito mil hectares de florestas, levou aos hospitais 19 vítimas, fechou estradas, causou a evacuação de milhares de pessoas e obrigou o governo a declarar estado de emergência nacional. Eis os números brutais do aquecimento nesse país:
- um aquecimento médio de 1,8 oC no período 2014-2024 e de 2,8 oC nos meses de julho no período 2016-2024, ambas as medidas em relação ao período 1950-1979.lxxxii
- “nos últimos 30 anos, a temperatura em Israel aumentou a uma taxa de cerca de 0,6 oC por década, taxa essa que deve aumentar ao longo do século XXI”.lxxxiii
- “a taxa de aquecimento por década nas últimas três décadas em Israel já é o dobro da taxa de aquecimento médio global”,lxxxiv e “o ritmo do aquecimento médio em Israel triplicou nas últimas décadas”.lxxxv
No próximo decênio, mesmo sem mais aceleração do aquecimento, os israelenses sofrerão picos de calor insuportáveis, pois desde 2019 o país registra temperaturas máximas entre 46,7 oC (na região do Mar da Galileia) e 49,9 oC (nas margens do Mar Morto).lxxxvi Yosef Abramovitz, líder do Fórum Presidencial sobre o Clima, afirmou em 2023 que cerca de 2.000 israelenses morrem anualmente devido a riscos ambientais, vale dizer, “mais mortes do que as ocasionadas pela soma de atos de terrorismo, acidentes de tráfego e violência doméstica”.lxxxvii Além disso, desde 1992 o nível do Mediterrâneo oriental subiu em média 4,7 mm por ano, uma velocidade 40% maior do que a elevação média global.lxxxviii Nos próximos 20 anos, o mar ameaçará cidades, estradas e estações de dessalinização israelenses.lxxxix
O medo, a instabilidade política, a crise econômica e socioambiental, em suma, a percepção da rápida inviabilização dessa sociedade já se reflete na crescente emigração do país. Em outubro de 2024, o Jerusalem Post anunciava: “A Grande Emigração: Israel vê números sem precedentes de emigração”.xc Já em maio de 2024, o The Times of Israel publicava dados impressionantes:xci
“Quase 60.000 israelenses deixaram o país no ano passado e não retornaram – mais do dobro do número registrado em 2023. 81% eram jovens e famílias, geralmente entre 25 e 44 anos (…) E a empresa Ci Marketing descobriu que cerca de 40% dos israelenses que ainda estão aqui estão considerando partir”.
Portanto, quase 90 mil israelenses deixaram o país e não retornaram em 2022 e 2023. Dados do Israeli Population and Immigration Authority mostram que apenas entre 7 de outubro e 7 de dezembro de 2023, 470 mil israelenses deixaram o país e houve uma diminuição de 50% de judeus imigrantes.xcii Em 2023, 59% dos emigrantes haviam nascido fora de Israel (72% dos quais na ex-União Soviética) e 41% em Israel. Além disso, uma pesquisa realizada em março de 2024 pela Hebrew University revelou que 80% dos israelenses que vivem no exterior não pretendem voltar a Israel.xciii Segundo Chris Hedges, esses emigrantes “são, com frequência, as pessoas com mais alto nível de escolaridade, que tendem a ser a parte secular da sociedade”.xciv Em maio de 2024, Eugene Kandel e Ron Tzur alertaram sobre as consequências dessa emigração:xcv
“Há uma probabilidade considerável de que Israel não consiga existir como um Estado judeu soberano nas próximas décadas. (…) A locomotiva do crescimento de Israel é a inovação, e esta é impulsionada por um pequeno grupo de dezenas de milhares de pessoas em um país de 10 milhões. (…) O peso da sua emigração é imenso em comparação com o seu número”.
Enquanto isso, o governo de Israel tenta convencer seus cidadãos de que a ameaça existencial que paira sobre o país advém… dos palestinos e do Irã! Condena, assim, à morte e a sofrimento inaudito seu próprio povo em nome da sacrossanta missão de garantir a conquista final da “Terra prometida”. Já a crítica a um Estado teocrático e genocida que se torna dia a dia mais autodestrutivo é desqualificada como antissemitismo pela engrenagem sionista de difamação.
6. Estados Unidos e Europa, ávidos de guerras
Uma máxima de Antonio Gramsci, escrita em 1921, à sombra da grande catástrofe europeia, vem mais uma vez à mente: “A ilusão é a erva daninha mais tenaz da consciência coletiva: a história ensina, mas não tem alunos”.xcvi Poucos são, de fato, os alunos do que a história ensina: a política é a única via através da qual é possível obter um triunfo (mesmo relativo e provisório) do direito sobre a força; no caso presente, o direito dos judeus e palestinos a viverem em segurança em dois Estados soberanos e respeitosos dos limites geográficos estabelecidos pela ONU em 1947. Como bem sentencia Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre a Síria, “não há solução militar para uma crise política”.xcvii
Pensador de um momento em que ainda predominava o credo de que a dialética do progresso era uma lei da história, Marx afirmava, no rastro de Hegel:xcviii “A violência é a parteira de toda velha sociedade grávida de uma nova”.xcix Em nossas sociedades parturientes de um colapso socioambiental global, essa parteira tem dado à luz apenas monstros que geram monstros ainda mais abomináveis. Ao contrário da física, a história é irredutível a leis. A história é imprevisível e encerra, quando muito, lições sobre probabilidades. Vejamos algumas delas:
(1) a guerra NÃO é “a continuação da política por outros meios”, como pensava Clausewitz, um general prussiano de triste memória. A guerra é a negação da civilização (a palavra civilização deriva da palavra civil), pois implica morticínio e sofrimento indizível de populações indefesas por militares cuja profissão consiste em levar ao paroxismo a agressividade primal ínsita em nossa espécie;
(2) guerras, genocídios e ecocídios tendem a desencadear as próximas guerras, genocídios e ecocídios;
(3) a propaganda estatal e a grande imprensa são exímias em instilar ódio e em repetir a velha mentira de que a paz pode ser alcançada pela guerra. Assim, as vítimas dessa mentira tendem a considerar a “sua” específica guerra como inevitável e defensiva contra um “outro”, reduzido à encarnação de todo Mal.
“A Europa deve adotar uma mentalidade de guerra”, afirmou em 2024, Mark Rutte, secretário-geral da Otan.c Mesmo se evitado o confronto total (e terminal) proposto por Rutte, essa “mentalidade de guerra” apenas acelerará o já perigosíssimo aquecimento constatado na Europa e demais países da Otan.ci O mesmo ocorre com Israel, que, em seu delírio messiânico, aprofunda e acelera seu próprio processo de colapso moral, econômico e socioambiental.
Isso posto, estamos assistindo, ainda que tardiamente, a um sobressalto de ética e de consciência humanitária em muitos países, inclusive no nosso. Milhares de pessoas têm saído às ruas para pressionar o governo Lula a ir além da retórica, endossando na prática o Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS),cii bem como os cinco pontos da pauta proposta pela Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), a Aliança Latinoamericana pelo Desarmamento e Justiça Social, a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e a Comissão Justiça e Paz de São Paulo (CJP –SP): (1) o imediato cessar-fogo e fim da ocupação militar em Gaza e em todos os territórios palestinos; (2) o fim do bloqueio a Gaza e a garantia de acesso irrestrito à ajuda humanitária; (3) o boicote econômico e diplomático a Israel até que cesse a violência e sejam respeitados os direitos do povo palestino; (4) a punição pelo Tribunal Penal Internacional dos responsáveis por crimes de guerra e genocídio e, principalmente, (5) o reconhecimento pleno do Estado da Palestina nas fronteiras determinadas pela ONU.ciii Esses cinco pontos são cruciais para a sobrevivência do povo palestino e, não menos, para a sobrevivência dos próprios israelenses.
Notas:
i Cf. Uppsala Universitet, “UCDP: Sharp increase in conflicts and wars”, 11 jun. 2025: “UCDP recorded 61 active conflicts involving at least one state in 2024, up from 59 the previous year and the highest number since statistics began in 1946. Eleven of these reached the level of war, defined as a conflict causing at least 1,000 battle-related deaths in a year. This is the highest number since 2016”.
ii Cf. Uppsala Universitet (cit.): “Over the past decade, we have seen an increase in the number of interstate conflicts, recording the highest number since 1987 in 2024 (…) We live in a new era with more, and more intense and complex conflicts, which places higher demands on international conflict resolution and better protection of civilians. It is also important to continue documenting what is happening in the world’s conflicts.”
iii Cf. “Unprecedented rise in global military expenditure as European and Middle East spending surges”. Stockholm International Peace Research Programme (SIPRI), 28 abril 2025: “World military expenditure reached $2718 billion in 2024, an increase of 9.4 per cent in real terms from 2023 and the steepest year-on-year rise since at least the end of the cold war. Military spending increased in all world regions, with particularly rapid growth in both Europe and the Middle East”.
iv Cf. Stuart Parkinson & Linsey Cottrell, “Estimating the Military’s Global Greenhouse Gas Emissions”. Scientists for Global Responsability. Conflict and Environment Observatory (CEOBS), nov. 2022: “The total military carbon footprint is approximately 5.5% of global emissions. If the world’s militaries were a country, this figure would mean they have the fourth largest national carbon footprint in the world – greater than that of Russia”.
v Cf. International Committee of the Red Cross, International Humanitarian Law Databases
<https://ihl-databases.icrc.org/en/>.
vi Cf. “International Framework to Protect Civilians during Armed Conflict Unraveling, Speakers Warn Security Council, Urging Enforcement of Existing Laws”. ReliefWeb, 22 maio 2025: “The scaffolding built last century to protect us from inhumanity is crumbling”.
vii Cf. Abigail Kabandula & Federico Donelli, “Drivers of influence of Saudi Arabia and the United Arab Emirates in East Africa: Evidence from Sudan”. South African Journal of International Affairs, 31, 4, 2024; Federico Donelli, “Middle Eastern monarchies in Sudan’s war: what’s driving their interests”. The Conversation, 16 mar. 2025: “Sudan, with its abundant water resources, offers a large amount of fertile land, making it attractive to Gulf companies”.
viii “The Massalit Will Not Come Home”. Human Rights Watch, 9 maio 2024.
ix Cf. “Sudan faces worsening humanitarian catastrophe as famine and conflict escalate: UN experts”. Escritório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR), 14 abril 2025; Eve Sampson, “Disaster by the Numbers: The Crisis in Sudan”. The New York Times, 7 jan. 2025.
x Cf. “’O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século 21′, diz historiador israelense especialista em holocausto”. BBC Brasil, 11 jun. 2025.
xi Cf. “Israel: remarks by High Representative/Vice-President Kaja Kallas at the joint press conference with Minister for Foreign Affairs Gideon Sa’ar”. European Union, 24 mar. 205: “it is clear that we are very good partners. Israel is a very relevant trade and investment partner for the European Union, and also a major player in the growing tech sector”.
xii Cf. Chris Hedges, “The Last Days of Gaza”. The Chris Hedges Report, 9 de jun: “The genocide is almost complete. When it is concluded it will not only have decimated the Palestinians, but will have exposed the moral bankruptcy of Western civilization. (…) Two million people are camped out amongst the rubble or in the open air. Dozens are killed and wounded daily from Israeli shells, missiles, drones, bombs and bullets. They lack clean water, medicine and food. They have reached a point of collapse. Sick. Injured. Terrified. Humiliated. Abandoned. Destitute. Starving. Hopeless”
xiii Cf. Tal Schneider, “For years, Netanyahu propped up Hamas. Now it’s blown up in our faces”. The Times of Israel, 8 out. 2023: “Most of the time, Israeli policy was to treat the Palestinian Authority as a burden and Hamas as an asset. (…) According to various reports, Netanyahu made a similar point at a Likud faction meeting in early 2019, when he was quoted as saying that those who oppose a Palestinian state should support the transfer of funds to Gaza, because maintaining the separation between the Palestinian Authority in the West Bank and Hamas in Gaza would prevent the establishment of a Palestinian state”.
xiv Cf. Mark Mazzetti & Ronen Bergman, “‘Buying Quiet’: Inside the Israeli Plan That Propped Up Hamas”. The New York Times, 10 dez. 2023: “For years, the Qatari government had been sending millions of dollars a month into the Gaza Strip — money that helped prop up the Hamas government there. Prime Minister Benjamin Netanyahu of Israel not only tolerated those payments, he had encouraged them”. Veja-se ainda, no mesmo sentido, Moustafa Bayoumi, “Benjamin Netanyahu must be stopped”. The Guardian, 13 jun. 2025.
xv Cf. Meron Rapoport & Oren Ziv, “Que Gaza vire poeira!”. Outras palavras, 11 jun. 2025 (traduzido de +972 Magazine) <https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/que-gaza-vire-poeira/>.
xvi Cf. “PM said to tell MKs: Israel destroying homes in Gaza, so Palestinians have nowhere else to go but outside the Strip”. Times of Israel, 13 maio 2025: “The only obvious result will be Gazans choosing to emigrate outside of the Strip,” Netanyahu continued. “But our main problem is finding countries to take them in.”
xvii Cf. Jeremy Sharon, “Smotrich says Gaza to be ‘totally destroyed,’ population ‘concentrated’ in small área”. Times of Israel, 6 maio 2025: “Within a few months, we will be able to declare that we have won. Gaza will be totally destroyed”.
xviii Cf. Julian Fernandez & Olivier de Frouville, “Les déclarations du ministre israélien de la défense sont l’expression transparente d’une intention génocidaire à Gaza”. Le Monde, 11 abr. 2025: “Rarement dans l’histoire on aura entendu un haut responsable étatique, chargé des opérations militaires, exprimer aussi ouvertement une intention de destruction d’une partie d’un groupe humain. Et jamais, à notre connaissance, une telle intention n’avait été formulée si clairement que par le message récent du ministre israélien de la défense”.
xix Cf. The Chris Hedges Report (entrevista com o coronel Lawrence Wilkerson), 14 nov. 2024. <https://www.youtube.com/watch?v=xH51O9gPxZ8>.
xx Cf. “Hanna Duggal, Mohammed Hussein and Shakeeb Asrar, “Israel’s attacks on Gaza: The weapons and scale of destruction”. Al Jazeera, 9 nov. 2024: “Israel has dropped more than 25,000 tonnes of explosives on the Gaza Strip since October 7, equivalent to two nuclear bombs”.
xxi Cf. “200 days of military attack on Gaza: A horrific death toll amid intl. failure to stop Israel’s genocide of Palestinians”. Euro-Med Human Rights Monitor, 24 abr. 2024.
xxii Cf. “Israel dropped over 85,000 tons of bombs on Gaza”. Memo. Middle East Monitor, 7 nov. 2024.
xxiii Cf. Jason Burke, “Aid to Gaza falls to lowest level in 11 months despite US ultimatum to Israel”. The Guardian, 11 nov. 2024: “more than two-thirds of buildings have been destroyed or damaged”.
xxiv Cf. Malak A Tantesh & Jason Burke, ‘Bombs buried in Gaza rubble put at risk thousands returning to homes, say experts”. The Guardian, 25 jan. 2025.
xxv Cf. ONU, “Reported impact snapshot. Gaza Strip (4 June 2025)”.
<https://www.ochaopt.org/content/reported-impact-snapshot-gaza-strip-4-june-2025>.
xxvi Cf. Mallory Moench, “Nearly 70% of Gaza war dead verified by UN are women and children”. BBC News, 8 nov. 2024; “The report said it found ‘unprecedented’ levels of international law violations, raising concerns about ‘war crimes and other possible atrocity crimes’”.
xxvii Cf. “Selon le Haut-Commissariat aux droits de l’Homme, l’étude de 36 frappes israéliennes effectuées entre le 18 mars et le 9 avril sur la bande de Gaza a révélé que les victimes étaient uniquement des femmes et des enfants”. France 24, 11 abr. 2025: “Entre le 18 mars et le 9 avril 2025, il y a eu environ 224 frappes israéliennes sur des immeubles résidentiels et des tentes pour déplacés”, a indiqué le Haut-Commissariat aux droits de l’Homme dans un communiqué, ajoutant que pour ‘36 frappes répertoriées et corroborées’ par le Haut-Commissariat, les victimes “étaient uniquement des femmes et des enfants jusqu’à présent”.
xxviii Cf. Miriam Berger et al., “How Palestinian first responders ended up in a mass grave in Gaza”. The Washington Post, 10 abr. 2025.
xxix Cf. Samuel Forey, “Israël renforce la censure des médias dans le cadre de la guerre contre l’Iran”. Le Monde, 21 jun. 2025.
xxx Cf. Rasha Khatib, Martin McKee & Salim Yusuf, “Counting the dead in Gaza: difficult but essential”. The Lancet, 5/VII/2024: “Applying a conservative estimate of four indirect deaths per one direct death to the 37,396 deaths reported, it is not implausible to estimate that up to 186,000 or even more deaths could be attributable to the current conflict in Gaza. Using the 2022 Gaza Strip population estimate of 2,375,259, this would translate to 7·9% of the total population in the Gaza Strip”.
xxxi Cf. Nils Adler & Farah Najjar, “Israel’s war on Gaza live: Death toll from Israeli attacks tops 33,000”. Al Jaazera, 4/IV/2024: “Residents of northern Gaza have been forced to survive on an average of 245 calories a day since January”.
xxxii Cf. David Gauthier-Villars, Nidal Al-Mughrabi & John Davison, “Looting criples food supply in Gaza as Israel neglects pledge to tackle gangs, sources say”. Reuters, 24 dez. 2024; Jean-Pierre Filiu, “Un gang de pillards au service de Israël dans Gaza”. Le Monde, 8 jun. 2025.
xxxiii Cf. Samuel Forey, “A Gaza, Israël promeut des milices anti-Hamas liées à des réseaux criminels”. Le Monde, 7 jun. 2025: “Dans une interview sur une radio publique, il [Avigdor Lieberman] a affirmé, jeudi 5 juin, que le gouvernement “transférait des armes à des groupes de voyous et de criminels qui s’identifient à l’[organisation] Etat islamique”.
xxxiv Cf. “List of United Nations resolutions concerning Israel”. Wikipedia
<https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_United_Nations_resolutions_concerning_Israel>.
xxxv Cf. “Special Committee to Investigate Israeli Practices Affecting the Human Rights of the Palestinian People”. <https://en.wikipedia.org/wiki/Special_Committee_to_Investigate_Israeli_Practices_Affecting_the_Human_Rights_of_the_Palestinian_People>.
xxxvi Cf. Vibhu Mishra, “UN General Assembly demands Israel end ‘unlawful presence’ in Occupied Palestinian Territory”
UN News, 18 set. 2024 <https://news.un.org/en/story/2024/09/1154496>
xxxvii Cf. Laura Silver, “Most people across 24 surveyed countries have negative views of Israel and Netanyahu”. Pew Research, 3 jun. 2025.
xxxviii Cf. John Henley, “Public support for Israel in western Europe at lowest ever recorded by YouGov”. The Guardian, 3 jun. 2025.
xxxix Cf. Elsa Conesa, “En Allemagne, les exportations d’armes vers Israël font débat”. Le Monde, 6 jun. 2025.
xl Cf. Stefano Baudino, “L’Italia ha di nuovo votato contro il riconoscimento dello Stato di Palestina”. L’Independente, 23 maio 2025.
xli Cf. “La reconnaissance d’un Etat palestinien n’est ‘pas simplement un devoir moral, mais une exigence politique’, déclare Emmanuel Macron”. Le Monde, 30 maio 2025.
xlii Cf. Jens Thurau, “Merz convida Netanyahu para a Alemanha apesar do mandado de prisão do TPI”. DW, 1º mar. 2025.
xliii Cf. International Criminal Court, “Netanyahu”. Charges: “Allegedly responsible for the war crimes of starvation as a method of warfare and of intentionally directing an attack against the civilian population; and the crimes against humanity of murder, persecution, and other inhumane acts from at least 8 October 2023 until at least 20 May 2024”.
<https://www.icc-cpi.int/defendant/netanyahu>.
xliv Cf. David McHugh, ‘Israel’s wars are expensive. Paying the bill could force tough choices”. AP, 21 out. 2024.
xlv Cf. Zain Hussain, “How top arms exporters have responded to the war in Gaza”. Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), 3 out. 2024; Sami Hage, “Gaza war: French arms sales to Israel marked by lack of transparency and control”. Middle East Eye, 18 dez. 2024.
xlvi Cf. Elodie Farge, “New report accuses France of ‘continuously’ delivering military equipment to Israel”. Middle East Eye, 11 jun. 2025: “France has played and continues to play a central role in the traffic of arms to Israel not for defensive purposes but to be deployed against the people of Gaza and the occupied territories of the West Bank. (…) They include more than 15 million “bombs, grenades, torpedoes, mines, missiles and other munitions of war” worth more than $8m, as well as 1,868 “parts and accessories for rocket launchers, grenades, flamethrowers, artillery, military rifles and hunting rifles” worth more than $2m”.
xlvii Cf. Patrick Wintour, “UK sent Israel thousands of military items despite export ban, study finds”. The Guardian, 7 maio 2025: “The government has shrouded its arms supplies to Israel in secrecy. They must finally come clean in response to this extremely concerning evidence and halt all British arms exports to Israel to ensure no British-made weapons are used in Netanyahu’s new and terrifying plans to annex the Gaza Strip and ethnically cleanse the land.”
xlviii Cf. Renato Ribeiro, “Lula condena genocídio em Gaza e novos assentamentos na Cisjordânia”. EBC, 1 jun. 2025.
xlix Cf. “Exército brasileiro fecha contrato de R$ 1 bilhão com empresa que lucra com massacre em Gaza”. Brasil de Fato, 30 abril 2024; Caio Junqueira, “Amorim trava blindados de Israel e Defesa propõe produção no RS”. CNN Brasil, 9 ago. 2024; Petrônio Viana, “Pressão do PT barra compra de blindados israelenses por R$ 1 bilhão”. Metrópoles, 18 out. 2024.
l Cf. Leandro Melito, “Apesar de críticas de Lula, Brasil segue vendendo petróleo usado para operações militares de Israel contra palestinos”. Brasil de Fato, 24 ago. 2024.
li Cf. Vinicius Konchinski, “Made in Brazil. Empresa brasileira vende aço para indústria de armas de Israel durante guerra em Gaza”. Intercept Brasil, 29 mai 2025;
lii Cf. Francisco Foot Hardman, “A Unicamp na hora da verdade”. A Terra é redonda, 13 jul. 2024; “Por 26 votos a 20, Conselho Universitário da Unicamp decide manter convênio sigiloso com Technion”. ADUSP, 9 ago. 2024; “Entrevista André Kaysel: a campanha de solidariedade ao povo palestino precisa continuar”. Esquerda Diário, 5 ago. 2024.
liii Cf. “The Technion – Israel Institute of Technology — established a quarter of a century before Israel became an independent nation — has been inexorably linked to the State’s security since its inception’. The Technion: Protecting Israel for 100 Years, 9 ago. 2024 <https://ats.org/our-impact/the-technion-protecting-israel-for-100-years/>.
liv Cf. Acordo de Cooperação Científica ou Tecnológica entre a FAPESP e The Israel Institute Of Technology (Technion)
lv Cf. “Governo e universidades brasileiros mantém relações com universidades israelenses ligadas ao sionismo e Exército de Israel”. A Nova Democracia, 7 maio 2024.
lvi Cf. Christopher Helman & Hans Tucker, “The War In Afghanistan Cost America $300 Million Per Day For 20 Years, With Big Bills Yet To Come”. Forbes, 16 ago. 2021.
lvii Cf. Andrew Macaskill, Federico Maccioni & Pesha Magid, “What are the nuclear contamination risks from Israel’s attacks on Iran?” Reuters, 22 jun. 2025.
lviii “Amid regional conflict, the Strait of Hormuz remains critical oil chokepoint”. US Energy Information Administration (EIA), 16 jun. 2025.
lix Cf. Lara Jakes, “As Israel Targets Iran’s Nuclear Program, It Has a Secret One of Its Own”. The New York Times, 17 jun. 2025; “Fact Sheet: Israel’s Nuclear Inventory”. Center for Arms Control and Non-Proliferation, jun. 2025 <https://armscontrolcenter.org/fact-sheet-israels-nuclear-arsenal/>.
lx Cf. Piotr Smolar, “Conflit Israël-Iran: la tentation d’une intervention militaire américaine sème la discorde dans le camp de Donald Trump”. Le Monde, 18 jun. 2025; Lucas Pordeus Léon, “Chefe da AIEA diz que não tem prova de armas nucleares do Irã”. Agência Brasil, 19 jun. 2025.
lxi Cf. Thomas Fazi, “Can Germany trust Friedrich Merz?”. Unherd, 22 fev. 2025.
lxii Cf. Richard Connor, Timothy Jones & Kate Hairsine, “Germany’s Merz says Israel doing ‘dirty work for us’”. DW, 17 jun. 2025.
lxiii Cf. Zachy Hennessey, “Israel to amend budget, Gaza war direct cost at $246m. daily”. The Jerusalem Post, 25 out. 2023: “The Gaza conflict has taken a toll on Israel’s financial resources, with Smotrich estimating the direct cost of the war to be approximately 1 billion shekels, equivalent to $246 million, per day”.
lxiv “The Israel-Iran war is now a brutal test of staying power”. The Economist, 14 jun. 2025: “Israel’s wars since October 2023 have cost Around $85bn, but this was before the latest stage with Iran”.
lxv Cf. “War with Iran costs Israel nearly $1 billion daily, ex-defense official says”. Ynetnews, 15 jun. 2025: “Brig. Gen. (res.) Re’em Aminach, a former financial adviser to the IDF chief of staff, said the initial two days of fighting amounted to approximately 5.5 billion shekels ($1.45 billion), split evenly between offensive and defensive operations. The estimate excludes damage to civilian property and broader economic fallout”.
lxvi Cf. David McHugh, ‘Israel’s wars are expensive. Paying the bill could force tough choices”. AP, 21 out. 2024.
lxvii Cf. Sharon Wrobel, “War costs put Israel’s public services at risk of collapse, says former central bank head”. Times of Israel, 27 maio 2025: “Since Israel is already paying high interest because of the country’s enlarged debt levels to finance the significant increase in the defense burden and needs to return to more reasonable deficit levels, we expect civilian spending will be cut even further.”
lxviii Cf. Thibault Spirlet, “Israel’s tourism industry is struggling under the weight of the war”. Business Insider, 18 ago. 2024; Navit Zomer, “Israel’s tourism industry remains on brink of collapse despite ceasefire, sector chief warns”. Ynet, 9 jun. 2025.
lxix Cf. Samuel Forey, “Israël renforce la censure des médias dans le cadre de la guerre contre l’Iran”. Le Monde, 21 jun. 2025.
lxx Cf. “Israel-Iran War Death Toll: 657 Killed In Iran, 29 In Israel”.WION, 20 jun. 2025.
<https://www.youtube.com/watch?v=9f_zDSu71m0>.
lxxi Cf. “Bombardment, strikes, deaths in third day of fierce Israel-Iran conflict”. Al Jaazera, 15 jun. 2025: “The hardest hit area was the town of Bat Yam, where more than 60 buildings were damaged”; Samuel Forey, “En Israel, sous le feu des missiles iraniens, un pays à l’arrêt’. Le Monde, 16 jun. 2025; “Conflito Israel-Irã entra no 4º dia sem sinal de cessar-fogo”. DW, 15 jun. 2025.
lxxii Cf. Alan Arms & Marija Ristic, “Israel/OPT: Identifying the Israeli army’s use of white phosphorus in Gaza”. Amnesty International, 13 out. 2023; “Israel: White Phosphorus Used in Gaza, Lebanon”. Human Rights Watch, 12 out. 2023.
lxxiii Cf. Ahmed Asmar, “After Gaza, Israeli forces dropped white phosphorus bombs on southern Lebanon”. AA, 6 maio 2024.
lxxiv Cf. Phil Gayle, “Ukraine unveils new incendiary weapons”. DW, 10 set. 2024: “Ukraine has revealed a range of new incendiary weapons. One of them is a fire-spitting aircraft dubbed the ‘Dragon Drone’”.
lxxv Cf. Tom Bennett, “‘Very, very toxic’: The risk of asbestos in Gaza’s rubble”. BBC News, 24 abril 2025: “The Gaza rubble is a very, very toxic environment,” says Professor Bill Cookson, director of the National Center for Mesothelioma Research in London. “People are going to suffer acutely, but also in the longer term as well, things that children may carry throughout their lives.”
lxxvi Cf. Nathalie Rozanes, “The Gaza war is an environmental catastrophe”. +972 Magazine, 5 set. 2024: “By April, the destruction of buildings throughout the Gaza Strip had produced an estimated 37 million tons of debris. (…) As a result, while Gazans face the most dire health risks, Palestinians, Israelis, and all other living beings in the region will continue to suffer the consequences for years to come”.
lxxvii Cf. “Less than seven percent of pre-conflict water levels available to Rafah and North Gaza, worsening a health catastrophe”. Oxfam, 18 fev. 2025.
lxxviii Cf. Nathan Klabin, “Israel’s Food Crisis Worsens as War Disrupts Agricultural Output”. The Medialine,10 ago. 2024: “Around 30% of Israel’s agricultural land is in conflict areas—specifically near Gaza and the northern border. The ability to harvest has been greatly impacted.”
lxxix Cf. Benjamin Neymark et al., “War on the Climate: A Multitemporal Study of Greenhouse Gas Emissions of the Israel-Gaza Conflict”. SSRN (Social Science Research Network), 30 maio 2025.
lxxx Cf. Nina Lakhani, “Carbon footprint of Israel’s war on Gaza exceeds that of many entire countries”. The Guardian, 30 maio 2025: “Almost 30% of greenhouse gases generated in that period came from the US sending 50,000 tonnes of weapons and other military supplies to Israel, mostly on cargo planes and ships from stockpiles in Europe”.
lxxxi Cf. “Wildfire rages near Jerusalem, leading some residents of Yefe Nof to evacuate homes”. The Times of Israel, 26 maio 2025. “The Jerusalem area has faced several major wildfires in recent weeks, the most severe of which took place in late April, when a heatwave sparked fires thought to be some of the largest in Israel’s history”.
lxxxii Cf. Sue Surkes, “Israel’s July temperatures over past eight years were 2.8°C higher than 1950-1979”. The Times of Israel, 21 abril 2025: “Taub Center reports 1.8 degree jump in year-round average Israeli temperatures for period of 2014 to 2024, compared to 1950 to 1979”.
lxxxiii Cf. “A scorching 2100: Israeli forecasters predict blistering heat in decades to come”. The Times of Israel, 16 jul. 2024: “over the past 30 years, the temperature in Israel has risen at a rate of approximately 0.6 degrees Celsius per decade, a rate it expects to increase as the 21st century continues”.
lxxxiv Cf. Lee Yaron, “Extreme Heat Waves, Floods and Weakened Security: Israel’s Grim Climate Forecast for 2050”. Haaretz, 16/II/2023: “Israel is warming at twice the global average rate, and the government has had this data for years”.
lxxxv Cf. Lee Yaron, “Israel Warming at Triple Rate Than in Recent Decades”. Haaretz, 26/X/2021: “The pace at which average temperatures are rising in Israel has tripled in recent decades”.
lxxxvi Cf. “Israel bakes as temperature climbs to near-record 49.9°C at biblical Sodom”. The Times of Israel, 17 jul. 2019; Steven Ganot, “Israel Records Hottest Summer in History”. The Medialine, 3 set. 2024.
lxxxvii Cf. Maayan Jaffe-Hoffman, “July 2023 could be hottest month in 120,000 years, study finds”. The Jerusalem Post, 27/VII/2023: “More Israelis die every year from air pollution than from terror, traffic accidents and domestic violence combined”.
lxxxviii Cf. Sue Surkes, “The Eastern Mediterranean is heating twice as fast as the global average – report”. The Times of Israel, 28 jan. 2025.
lxxxix Cf. Sue Surkes, “Global sea levels set to rise higher than previously predicted”. The Times of Israel, 20/IX/2022.
xc Cf. Shlomo Maoz, “The great emigration: Israel sees an unprecedented number leave the country”. The Jerusalem Post, 13 out. 2024.
xci Cf. Noa Limone, “40% of Israelis Say They Consider Leaving the Country. This Is What Keeps Them Here”. Haaretz, 12 maio 2025: “Nearly 60,000 Israelis left the country last year and didn’t return – more than twice the number in 2023. A full 81 percent were young people and families, often between 25 and 44 years old, the statistics bureau says. And the company Ci Marketing found that around 40 percent of Israelis still here are considering leaving”.
xcii Cf. “Report: Nearly 0.5m Israelis left Israel after 7 October”. Middle East Monitor, 7 dez. 2023.
xciii “Israel: 80% of citizens living abroad do not intend to return”. Middle East Monitor, 20 mar. 2024.
xciv Cf. The Chris Hedges Report (entrevista com o coronel Lawrence Wilkerson), 14 nov. 2024: “And these are often the best educated, they tend to be the secular part of the society” <https://www.youtube.com/watch?v=xH51O9gPxZ8>.
xcv Cf. Emma Graham-Harrison, “A year of war accelerates ‘silent departure’ of Israel’s elite”. The Guardian, 6 out. 2024: “There is a considerable likelihood that Israel will not be able to exist as a sovereign Jewish state in the coming decades. (…) Israel’s locomotive of growth is innovation, and that is driven by a small group of several tens of thousands of people in a country of 10 million. (…) The weight of their departure from the country is immense in comparison to their number”.
xcvi Cf. Antonio Gramsci, “L’illusione è la gramigna più tenace della coscienza collettiva: la storia insegna, ma non ha scolari”. L’Ordine Nuovo, I, 70, 11 mar. 1921.
xcvii Cf. ONU News, Presidente da Comissão de Inquérito sobre Síria fala sobre efeitos do conflito em Gaza.
xcviii Veja-se, entre outros exemplos dessa ideia em Hegel, Die Vernunft in der Geschichte (1837, póstumo), a partir da tradução inglesa Reason in History, trad. de Robert Hartman, 1953, p. 39: “Trata-se do desenvolvimento do Espírito, sua progressão e ascensão a um conceito cada vez mais elevado de si mesmo. Mas o desenvolvimento está ligado à degradação, à destruição, à aniquilação do modo precedente de realidade ao qual o conceito do Espírito havia evoluído”.
xcix Cf. Marx, Das Kapital (1867), capítulo 24 (Acumulação primitiva): “Die Gewalt ist der Geburtshelfer jeder alten Gesellschaft, die mit einer neuen schwanger geht”.
c Cf. “Europe must adopt ‘wartime mindset’ to stop Putin, says Nato chief”. The Guardian, 13 dez. 2024. Como primeiro-ministro da Holanda, em 2016, Rutte, ex-executivo da Unilever, diminuiu em 15% os impostos sobre distribuição de lucros, cedendo às pressões dos lobbies da Unilever e da Shell. Veja-se Mark Rutte, Wikipedia.
ci Cf. Luiz Marques, “Europa, emergência climática e negacionismo”. Jornal da Unicamp, 13 maio 2024.
cii Cf. Mauro Lopes, “Governo brasileiro precisa romper relações com Israel imediatamente”, Farol Brasil, 2 jun. 2025.
<https://www.youtube.com/watch?v=YVIWRdDgLNU>.
ciii Cf. Daniel Seidel, secretário executivo CBJP:
<https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSc1hVfElbna_1i7FjXV_Von3h-_ehIjBkV4uuOovDsyROCwxw/viewform>
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