Ampliação do Butantan fará Brasil fornecedor mundial de vacinas?

O Butantan será ampliado e transformado em um complexo industrial. Esper Kallás, diretor do Instituto, fala sobre projetos e impactos na ciência e na saúde brasileiras

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O Instituto Butantan, localizado em São Paulo, será transformado em um complexo industrial para resposta rápida a novos vírus e bactérias. O Instituto será ampliado e ganhará novos prédios, sendo um deles abrigo para a produção integral das vacinas tríplice bacteriana (também conhecidas como DTP). O objetivo do plano é potencializar a produção de imunizantes e medicamentos, principalmente no caso de novas ameaças, a exemplo do que ocorreu com a pandemia da covid-19. A previsão de funcionamento total está para o segundo semestre de 2025.

Em entrevista à Folha, o diretor do Butantan, Esper Kallás, falou sobre os projetos, destacando o objetivo de estabelecer autossuficiência em produção no Brasil a médio e longo prazos. De acordo com Kallás, com as novas estruturas será possível uma produção integral, o que se dá por duas relações: a com o Ministério da Saúde e a com a farmacêutica multinacional britânica GSK – parceira, inclusive, para a DTP. Acerca da relação entre o Instituto e o Ministério, Kallás disse já haver algumas propostas de parcerias para o desenvolvimento produtivo (PDP) para a fabricação de medicamentos.

O incentivo à produção de imunizantes brasileiros, portanto, é central. No início do ano, o Butantan foi contemplado com a parceria da Pfizer para a produção de milhões de doses anuais da vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), causador da bronquiolite em recém-nascidos. Além disso, o Instituto aguarda aval da Anvisa para iniciar os estudos clínicos para o desenvolvimento da vacina contra a gripe aviária. 

O caso da vacina contra dengue merece menção especial. A Anvisa segue sem dar seu parecer final sobre a Butantan-DV – imunizante de dose única contra a dengue desenvolvido pelo Butantan. Em um cenário preocupante de aumento significativo de infecções por dengue em algumas regiões do Brasil, como Sul e Sudeste, a urgência da disponibilização de outra vacina contra a dengue – além da japonesa Qdenga – é reforçada. Além disso, em entrevista ao Outra Saúde, nos fins de março, o diretor de Assuntos Regulatórios, Controle de Qualidade e Estudos Clínicos da Fundação Butantan, Gustavo Mendes, afirma que tanto a disponibilização da Butantan-DV, quanto a ampliação do Instituto é um dos passos para permitir a autossuficiência do Butantan na produção de insumos e a alta capacidade produtiva para atendimento pleno ao Ministério da Saúde.

Esper Kallás também destacou que as novidades na ciência e na saúde proporcionarão ganho econômico para o Brasil. Segundo ele, “O valor agregado de produtos em biotecnologia é muito alto. Então, a gente não só consegue trazer essa engrenagem econômica para dentro do país como também contrata funcionários brasileiros especializados, melhora a capacidade produtiva, aumenta a nossa massa crítica, melhora o valor agregado dos nossos produtos, fortalece a cadeia de suprimentos”. A maior qualificação do Brasil na ciência e na saúde não só poderá fazer do país fornecedor de vacinas para o mundo como, sobretudo, será uma maneira para alcançar soberania.

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