Saúde nas Escolas, novo foco da vacinação infantil
Programa é relançado, com novidade de carteira de vacinação digital. Também levará às crianças e adolescentes ações de educação em saúde, como controle de arboviroses. Meta, ousada mas factível, é imunizar 90% do público alvo
Publicado 15/04/2025 às 12:16 - Atualizado 15/04/2025 às 13:31

Na quarta-feira (10), o novo ministro Alexandre Padilha fincou sua primeira bandeira na chefia da Saúde brasileira, através do anúncio da nova edição do Programa Saúde nas Escolas — uma campanha de vacinação para jovens até 15 anos.
“Fico feliz de ver recordes de adesão das escolas e dos municípios, o que mostra a importância da estratégia da escola como espaço de produção da saúde. Apostamos nas crianças como divulgadores, que falam de vacinas, alimentação, consultas, e isso pode criar uma verdadeira corrente nas comunidades”, afirmou o ministro.
O Saúde nas Escolas já existe há 18 anos, mas sua nova temporada traz a novidade da digitalização das informações de saúde de crianças e adolescentes, permitida pela criação do Meu SUS Digital.
“Além da digitalização das carteiras de vacinação, o aplicativo traz conteúdos atuais, como cuidados com bebês prematuros e proteção de crianças frente a telas. É uma conquista do SUS que facilita a vida de cuidadores de crianças”, comemorou Ana Estela Haddad, secretária de Saúde Digital, que teve sua fala inserida em vídeo em meio à entrevista coletiva que apresentou o programa. No evento, Ana Estela também explicou que as informações em saúde dos jovens ficarão no aplicativo de um adulto responsável.
Realizada em parceria com o Ministério da Educação, a vacinação em massa nas escolas terá duração de duas semanas e estabeleceu meta de atingir 90% dos 27,9 milhões de estudantes das redes pública e privada (que também pode aderir ao programa). As imunizações serão feitas por profissionais da saúde do SUS que já trabalham nas Equipes de Saúde da Família dos territórios.
“Não é apenas vacinação, mas uma gama de ações, principalmente educação em saúde, como saúde ambiental e controle de arboviroses. Queremos ampliar a cobertura, reduzir as doenças imunopreveníveis e combater a desinformação, cada vez mais frequente e que impacta nos territórios (ainda que as campanhas tenham melhorado os resultados)”, sintetizou Ana Luiza Caldas, nova secretária de Atenção Primária à Saúde.
Em relação à vacinação, o governo visa atualizar o calendário de imunizações de cinco tipos de vacina: entre crianças de 6 meses a 5 anos, a febre amarela, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), DTP (tríplice bacteriana); entre o público de 6 a 15 anos, a meningocóciga ACWY e HPV.
Mais que isso, o programa absorve algumas mudanças pelas quais passou a sociedade nos últimos anos e tenta ir além da simples aplicação de injeções. Ações ligadas à saúde mental — assunto que explodiu nos últimos anos, com alta de atendimentos no SUS entre o público escolar –, saúde bucal, educação científica e nutricional também entraram no escopo, como mencionou Padilha.
Além disso, o próprio Programa Nacional de Imunizações se tornou mais complexo, com mais doenças combatidas em sua carteira. Por fim, e descontado o negacionismo que criou uma ampla hesitação vacinal na população, há mudanças na vida social e econômica que trouxeram barreiras mesmo àqueles que desejam se vacinar.
“O adolescente nunca vai acordar de manhã com vontade de se vacinar; se chegar até ele é muito mais provável. Segunda coisa, na escola você tem a oportunidade de educar, de informar, maior oportunidade de informação e combate à desinformação. É bom que os profissionais da saúde estejam preparados para responder perguntas, anseios, dúvidas desses adolescentes e dos pais”, explicou Mônica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ao Outra Saúde.
Sua observação é corroborada por membros do governo, que a despeito de reiterarem as críticas à gestão de Bolsonaro, militares e médicos negacionistas na Saúde, reconheceram as mudanças no cotidiano da população, em especial a mais pobre.
“A parceria com a educação é fundamental. É um programa amplo, não só de vacinas, também importante porque os imunizantes dobraram nos últimos 10 anos. E é um alívio para os pais ter seus filhos vacinados, num contexto onde saem cada vez mais para o trabalho e muitas vezes não têm tempo de realizar a vacinação. Além disso, seus próprios filhos se tornam agentes de educação científica e podem levá-los a atualizar suas vacinações”, explicou Mauro Junqueira, presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde.
Dessa forma, compreende-se a importância da estrutura escolar do país, mais ainda num contexto onde uma nova lei que proíbe uso de celulares acaba de entrar em vigor e temas relativos à saúde mental se assentaram na ordem do dia.
“O aumento da adesão a vacinas nos dois anos de Nísia Trindade foi muito expressivo e reforçou a conscientização da saúde mental, tema que mais cresceu nas conversas com as próprias pessoas. Também tivemos crescimento do contraturno, mais escolas em tempo integral, o que dá mais oportunidade para educadores e equipes multiprofissionais oferecerem essa atenção”, acrescentou Padilha.
Outra política que o Saúde nas Escolas visa reforçar é a saúde bucal, “verdadeira obsessão de Lula”, nas palavras de Padilha. Quanto às metas, parecem ambiciosas, mas tanto o governo como a presidente da SBIm consideram alcançáveis.
“Temos 80% de cobertura vacinal nas meninas e 60% entre meninos. Esses jovens são um público que frequenta menos as unidades de saúde, mas vamos atrás da meta de 90%”, disse Padilha, que ainda refutou a desinformação sobre vacinas de HPV, parte da agenda moralista da extrema-direita, em sua equivocada teorização de que seria um incentivo à sexualização precoce.
“Nas grandes epidemias de meningite das décadas de 70 e 90, todo mundo aparecia na escola para se vacinar. Agora exige-se autorização, o próprio calendário vacinal é maior e a intenção não é fazer uma campanha pontual de uma coisa só; é atualizar tudo que ficou para trás, portanto, agora o programa tem uma complexidade maior. Mas a meta de 90% é viável, sem dúvidas”, analisou Mônica Levi.
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