Fogo em Ribeirão Preto traz impactos imediatos à saúde

• Queimadas em SP levam milhares às UPAs • CEIS: novo investimento em fábrica para remédios contra diabetes • Butanvac, contra covid, será interrompida • Estudar esgoto pode aprimorar vacina da gripe • Mais Médicos é preenchido por brasileiros •

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Os incêndios no interior paulista, agravados pela baixa umidade do ar, causaram um aumento significativo nos problemas respiratórios e na procura por atendimento nas unidades de saúde. Em Ribeirão Preto, as quatro UPAs registraram um aumento de 60% nos atendimentos, com expectativa de 3.200 atendimentos neste sábado, comparado a uma média de 2.000 em dias normais. O índice de qualidade do ar (PM2,5) chegou a 14 vezes o limite recomendado pela OMS, resultando em infecções respiratórias como tosse seca, dificuldade para respirar, rinites e dermatites. A umidade do ar na cidade, no fim de semana, esteve abaixo de 20% – enquanto o ideal é entre 50% e 60%. Em entrevista à Folha, o pneumologista Luiz Renato Alves alerta para o risco de doenças inflamatórias graves devido à combinação de estiagem e poluição, afetando especialmente crianças, idosos e pessoas com problemas alérgicos. A prefeitura de Ribeirão reforçou as equipes médicas e estoques de insumos, e passou a recomendar o uso de máscaras, hidratação constante e evitar a exposição ao ar externo. O secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, foi à região para avaliar a situação e planejar uma resposta coordenada.

Governo investe em fábrica privada de medicamentos para diabetes

Com investimento de R$ 60 milhões do governo federal, a farmacêutica brasileira EMS inaugurou, em Hortolândia (SP), a primeira fábrica de polipeptídeo sintético do país, com foco na produção de tratamentos para diabetes. A planta produzirá substâncias que reduzem efeitos colaterais e custos para os pacientes: liraglutida e semaglutida – esta, princípio ativo dos remédios patenteados arrasa-quarteirão Ozempic e Wegovy. O investimento faz parte dos trabalhos para construir um Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis) no Brasil. A cerimônia de inauguração da nova fábrica contou com a presença da ministra da Saúde, Nísia Trindade, do presidente Lula e de outras autoridades, como a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que destacou a importância dos investimentos para a autonomia do país na área farmacêutica. O Governo Federal anunciou um crédito de R$ 57,4 bilhões até 2026 para fortalecer a produção nacional de insumos essenciais ao SUS e reduzir a dependência do Brasil de produtos de saúde estrangeiros. Lula ressaltou a capacidade da fábrica de competir globalmente em tecnologia e inovação, e Luciana Santos alertou sobre os riscos da inovação e o papel do Estado em apoiá-la.

Vacina contra covid do Butantan não irá adiante

Faz parte do processo de produção de novos fármacos a possibilidade de falha. É o que aconteceu com a Butanvac, vacina contra covid que estava sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan no Brasil. O seu desenvolvimento foi suspenso após resultados insatisfatórios nos ensaios clínicos de fase 2, que mostraram uma imunogenicidade inferior à da Pfizer. O estudo envolveu 400 voluntários no Brasil, comparando a  eficácia da Butanvac com o reforço da farmacêutica estadunidense, mas não atingiu o critério de não-inferioridade. Com base nesses resultados, o Butantan decidiu encerrar o projeto e comunicou à Anvisa sua decisão. O Instituto continuará explorando outras rotas de desenvolvimento de vacinas, incluindo tecnologias mais promissoras, como as vacinas de mRNA. O Ministério da Saúde apoiará esses novos esforços com um investimento de R$ 386 milhões para a nova plataforma de mRNA e para a produção de soros liofilizados.

Pesquisadores estudarão vírus da gripe em esgoto de SP

Um grupo de pesquisa do Institut Pasteur de São Paulo, que trabalhará por cerca de cinco anos, está analisando amostras de esgoto na capital paulista para identificar fragmentos de RNA do vírus influenza. O objetivo é desenvolver uma prova de conceito, ou seja, um protótipo de vacina mais eficaz contra o vírus. Liderado pelo virologista Rúbens Alves, o estudo visa entender a dinâmica do influenza, o que pode ser crucial para prevenir futuras pandemias. Financiado pelo Institut Pasteur de Paris e pela Fapesp, a análise do material genético no esgoto pode identificar o vírus antes da manifestação de sintomas. A pesquisa é considerada essencial para traçar eventuais ameaças pandêmicas e planejar ações eficazes no combate à gripe. Além disso, o monitoramento das cepas em circulação pode permitir o desenvolvimento de vacinas mais adaptadas e seguras para a população. Entre janeiro e julho de 2024, São Paulo registrou um aumento de 65% nos casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) por influenza. Foram 4.143 casos e 487 mortes. A vacinação contra a gripe continua em todo o estado, mas a cobertura vacinal está abaixo da meta de 90% estabelecida pelo Ministério da Saúde, alcançando apenas 45% até o momento. A campanha de vacinação segue por tempo indeterminado, enquanto durarem os estoques.

Números da nova fase do Mais Médicos

O novo edital do Programa Mais Médicos preencheu 99,9% das 3.177 vagas oferecidas, com 95% ocupadas por médicos brasileiros formados no país e 5% por formados no exterior. Apenas uma vaga em São Jerônimo (RS) ficou desocupada. Este 38° ciclo mostrou um aumento na participação de médicos com CRM, que agora representam 95% das alocações, em contraste com 84,7% no 28º ciclo. Pela primeira vez, o programa utilizou cotas étnico-raciais, contratando 425 profissionais (13,3%) por essa modalidade, incluindo negros, indígenas e quilombolas. Além disso, 4% dos alocados são pessoas com deficiência. As alocações foram majoritariamente no Nordeste (34,7%), seguido pelo Sudeste (26,9%). O governo federal retomou o programa em 2023 para garantir atendimento em regiões carentes e qualificar os profissionais. Desde o início do governo Lula, o número de médicos ativos no programa aumentou 93,83%, totalizando 24.894 em junho de 2024.

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