São Paulo: de que servem as “comunidades terapêuticas”?

• Em SP, as comunidades terapêuticas sem terapia • Fogo no Pantanal e problemas de saúde em indígenas • Má conectividade afeta saúde de populações do Norte • Planos privados negam reembolso a clientes • Poliomielite em Gaza •

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Um relatório do Hub de Cuidados em Álcool e Outras Drogas, principal serviço do governo do estado de São Paulo para tratar dependentes químicos, aponta que 36% dos pacientes encaminhados a comunidades terapêuticas e hospitais psiquiátricos são internados mais de uma vez. Essa repetição sugere uma lógica de “porta giratória” na gestão do serviço, sugerem ex-funcionários ouvidos por matéria da Folha. Eles criticam a ausência de um projeto terapêutico eficaz e denunciam internações recorrentes e indiscriminadas, sem suporte social adequado. A maioria dos pacientes é formada por pessoas em situação de rua, especialmente da “cracolândia”. O relatório também destaca uma média de 285 encaminhamentos mensais para comunidades terapêuticas e 585 para hospitais especializados. Há cerca de 28 internações involuntárias por mês. Além disso, há falta de fiscalização nas comunidades terapêuticas. Especialistas que falaram à reportagem defendem o fortalecimento de políticas de redução de danos e atendimento mais próximo das necessidades dos pacientes. Mas é preciso lembrar: a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é a política de cuidado de pessoas em sofrimento mental estabelecida pelo SUS.

Pantanal: o fogo em aldeias indígenas

As queimadas em Mato Grosso, agravadas pela baixa umidade do ar, têm causado um aumento significativo nos atendimentos médicos por problemas respiratórios em comunidades indígenas, especialmente no Pantanal. Profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena de Cuiabá relatam casos frequentes de falta de ar, tosse e desidratação. Além disso, muitos indígenas precisam de encaminhamento médico devido à intensa exposição à fumaça. Trinta terras indígenas foram afetadas na semana passada – com 2.011 focos de calor registrados, concentrando 17,5% das queimadas no país. A Fepoimt solicitou apoio dos governos para conter as queimadas, que já atingiram casas, nascentes, e áreas ao redor das aldeias. Especialistas alertam para os riscos de doenças respiratórias graves, como pneumonias, causadas pela inalação de micropartículas de fumaça. Brigadas voluntárias indígenas, apesar de atuarem na linha de frente, enfrentam falta de investimentos e equipamentos adequados, agravando a situação.

Internet precária afeta as UBSs – e a saúde – no Norte

Embora tenham ocorrido avanços, a região Norte do Brasil ainda enfrenta sérios desafios no acesso à saúde devido à falta de conexão à internet e energia elétrica, especialmente em comunidades indígenas e ribeirinhas isoladas. Mesmo diagnósticos simples, como diabetes ou hipertensão, podem levar meses para serem feitos por falta de infraestrutura. Em 2020, 81% dos domicílios no Norte possuíam internet, mas a qualidade da conexão é desigual, o que prejudica o atendimento nas UBSs, dificultando o acesso ao prontuário digital e o registro no sistema de vacinas. O governo federal, por meio da Secretaria de Informação e Saúde Digital, busca ampliar a telessaúde e a conectividade com o projeto InfoSUS, que já iniciou a construção de infovias na Amazônia. Até agora, 24 polos de telessaúde foram entregues e 715 conexões de internet foram ativadas, beneficiando áreas de saúde indígena. No entanto, a complexidade geográfica e a falta de infraestrutura ainda representam desafios significativos para a expansão dos serviços de saúde digital na região.

Seguros de saúde negam reembolso, mesmo após decisão da ANS

Mesmo após mais de um ano da decisão da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) que proíbe operadoras de saúde de exigir o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) para reembolsos de consultas, terapias e tratamentos, convênios continuam desrespeitando a norma. Pacientes relatam dificuldades frequentes para obter reembolso de despesas médicas, especialmente em casos de psicoterapia e fisioterapia. A exigência do CNES, que não deveria ser um requisito para reembolso, continua sendo utilizada por algumas operadoras, gerando frustração e entraves para os usuários. A ANS reafirma que a exigência do CNES para reembolso é indevida e que as operadoras que adotam essa prática estão sujeitas a penalidades, incluindo multas. Especialistas em direito à saúde recomendam que os consumidores registrem reclamações junto ao plano, ANS e Procon, e, se necessário, acionem a justiça para garantir seus direitos. Apesar disso, muitos pacientes continuam enfrentando desafios para receber seus reembolsos de forma justa, o que evidencia a persistência do problema.

Gaza: ONU pede pausa no genocídio para vacinação contra pólio

O primeiro caso de poliomielite em 25 anos foi confirmado em um bebê de 10 meses na Faixa de Gaza – sinal gravíssimo da urgência de uma resposta rápida para conter a disseminação do vírus. Em resposta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou por duas pausas de sete dias nos ataques do exército israelense em Gaza para vacinar mais de 640 mil crianças contra a poliomielite, detectada recentemente em águas residuais do território. As agências de saúde da ONU têm planos para iniciar a vacinação ainda este mês, mas dependem de cessar-fogo para garantir a segurança das crianças e suas famílias. A OMS e o Unicef planejam campanhas com duas doses da nova vacina oral contra a pólio tipo 2 para crianças menores de 10 anos. O ressurgimento da poliomielite, após 25 anos de erradicação, representa mais uma enorme ameaça à saúde pública em Gaza e nos países vizinhos.

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