A crueldade das bestas
Publicado 06/04/2011 às 17:49
Tentei resistir, mas diante de tantos comentários, rendo-me à necessidade de escrever sobre o assunto. Sob aplausos de praticantes e protestos dos defensores de animais, Pomerode testemunhou domingo, 27, mais uma puxada de cavalos, no Clube Germano Tiedt. Os oito voluntários que ergueram cartazes e faixas na entrada da localidade conhecida como Ribeirão Souto, não se deixaram intimidar pela multidão aglomerada em torno da prova que impõe equinos a arrastarem até 2 mil quilos numa pista improvisada. Mais uma vez, o grupo de ativistas resistiu aos ataques e denunciou os abusos cometidos contra os animais. O que leva essa “meia dúzia de gatos pingados” a continuar as manifestações, considerando o aval da prefeitura e dos órgãos responsáveis na realização da competição? Esta foi a pergunta que ouvi um radialista de Blumenau fazer a uma das lideranças da Associação dos Melhores Amigos dos Bichos (AMA) Bichos, Rosália Marçal, durante um programa matutino semana passada. A reflexão é responsável pelo estímulo à escrita neste momento e foi respondida ao vivo com veemência por Rosália: “não vamos permitir esse tipo de atrocidade contra os animais”.
Apesar dos organizadores da competição argumentarem dispor de autorização da Polícia Militar e da vistoria dos técnicos da Cidasc e de um veterinário contratado para a competição, os manifestantes não se deixam abater. Eles insistem em tentar mostrar o que a sociedade não quer ver: a puxada é crime! Motivados por essa certeza, travam uma luta sem fim para criar uma lei estadual capaz de proibir a prática. A lei de crimes ambientais já prevê punições para maus-tratos contra animais. Mas a falta de consenso sobre maus-tratos gera todo esse desgaste.
As denúncias de maus-tratos contra os cavalos submetidos à puxada são levantadas pela AMA Bichos desde 2008. Mas somente ano passado, quando o protesto dos manifestantes provocou a agressão por parte dos organizadores da competição, o assunto despertou a atenção estadual. Uma das manifestantes chegou a ser hospitalizada, com o fêmur fraturado. Vídeos e fotos registraram a atitude dos organizadores que, covardemente, atiraram ovos podres e pedaços de paus contra os manifestantes e a imprensa. Uma amiga jornalista que estava no local naquele momento descreveu a cena: “eu me senti num campo de concentração nazista”. Entrevistei os organizadores dias depois do episódio e me surpreendi com a maneira como defendem essa prática como “manifestação cultural”. Recuso-me a admitir esse tipo de crueldade como diversão.
Não é preciso ser especialista em cavalos, apenas humano para perceber o sofrimento dos animais. Veterinários já alertaram: puxar esse peso pode causar distenções musculares e rupturas internas nos cavalos. A luta da AMA Bichos não se resume à batalha pela extinção da puxada. O objetivo da entidade é lutar contra qualquer agressão aos animais, incluindo o uso de cavalos em charretes que levam visitantes e turistas aos sábados e domingos para passear, em frente ao zoológico da cidade conhecida pelo título “mais alemã do Brasil”. Talvez o mesmo radialista que questionou a defensora dos animais sobre o que faz os voluntários permanecerem na luta diante do patrocínio das autoridades competentes à prática devesse perguntar aos adeptos da puxada o que os leva a se reunir em torno de uma prova de resistência que mede a força dos cavalos. O que há de engraçado nisso?
A luta em defesa dos animais exige corações e mentes sensíveis às crueldades humanas. Não se tratam de obrigações apenas com os animais, mas com nossa natureza humana.
Magali Moser – Jornalista
Provas como essa puxada de cavalos , as farras do boi e todos os rodeios têm em comum a crueldade praticada contra vítimas que não podem se defender, os animais, e a crueldade daqueles que se divertem com esses atos violentos, fica a pergunta, quem é o irracional?
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Estas pessoas utilizam os animais para se impor perantes as outras, demonstrando neste caso “seu poder” tendo o “melhor cavalo”.
Isso envergonha tanto quanto aquela farra do boi, também uma “manifestação cultural” deste estado que dizem ser o melhor para viver no Brasil mas, não para os animais.