Maio amarelo: morte e cinismo nas plataformas

No mês de conscientização da segurança viária, liderança dos entregadores denuncia: a precarização ceifa a vida no asfalto. Corporações fingem aderir à prevenção, mas penalizam atrasos e pagam tão mal que trabalhadores não conseguem fazer manutenção de suas motos

Foto publicada no Correio Brasiliense
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Nota de Repúdio da associação Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR) a participação do iFood no movimento Maio Amarelo

O Maio Amarelo é um movimento internacional de conscientização para redução e prevenção de acidentes de trânsito. Seu objetivo é salvar vidas e alertar a sociedade sobre o alto índice de mortes e feridos nas vias. No entanto, quando uma empresa como o Ifood se envolve nessa campanha, é importante questionar sua legitimidade. O iFood, conhecido por seu serviço de entrega de alimentos, tem uma responsabilidade significativa em relação à segurança dos entregadores. No entanto, há sérias preocupações quanto à forma como a empresa trata essa questão:

CADASTRO INADEQUADO DE ENTREGADORES

O iFood permite que pessoas sem CNH e até menores de idade se cadastrem como entregadores de moto. Isso coloca em risco tanto os próprios entregadores quanto os demais usuários das vias.

FALTA DE CAPACITAÇÃO

A profissão de motofrete é de alto risco e requer treinamento adequado. Infelizmente, muitos entregadores não estão capacitados para exercer essa profissão de risco, resultando em acidentes graves, sequelas e óbitos.

ALGORITMO DE PRESSÃO

O iFood utiliza um algoritmo que incentiva os entregadores a correrem para fazer as entregas rápidas ou serão bloqueados na plataforma. Isso leva a infrações de trânsito constantes, como excesso de velocidade, desrespeito a sinais vermelhos e andar na contramão.

LUCRO ALTO, RISCO MAIOR PARA ENTREGADORES E SOCIEDADE

O iFood cobra até 27% dos pedidos dos restaurantes, mas o repasse para os entregadores é irrisório. Entregadores mal conseguem fazer a manutenção para manter suas motocicletas em condições seguras. Trabalham longas jornadas de muitas vezes 12 horas ou mais. Não têm sequer uma alimentação adequada. A soma é veículo precarizado, mal alimentado, exaustos, correndo, sem capacitação em uma profissão de alto risco. O resultado? Acidentes frequentes que afetam não apenas os entregadores, mas toda a sociedade. Enquanto o aplicativo lucra, quem paga o preço são os entregadores e toda sociedade.

FALTA DE INVESTIMENTO EM SEGURANÇA

Apesar das reuniões com a empresa, o iFood não demonstrou um compromisso significativo com a segurança dos entregadores. Pelo contrário, há evidências de que a empresa faz lobby no Congresso para enfraquecer a lei do motofrete.

Dessa forma, a participação do iFood no Maio Amarelo parece contraditória. Uma empresa que contribui para acidentes de moto, sequelas e óbitos não deveria ser associada a uma campanha que visa justamente a segurança no trânsito. É essencial que o iFood reveja suas práticas e priorize a segurança de seus entregadores, em vez de apenas aderir a campanhas de conscientização apenas com patrocínio, sem ações efetivas.

Edgar Francisco da Silva (Gringo) presidente da AMABR (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil).

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