Fumaça, seca e esgoto em Manaus

Sinais de um sistema terminal. Em meio à exuberância da Amazônia, população sufoca com a fumaça da floresta em chamas, assiste ao declínio do Rio Negroe serve-se de água contaminada, pois à concessionária privada importa apenas o lucro

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Por Sandoval Alves Rocha,SJ

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O Ondas, parceiro editorial de Outras Palavras, produz semanalmente um boletim sobre o Direito à Água e ao Saneamento. Veja, na última edição: O que a privatização das águas tem a ver com as milícias cariocas | Bolsonaro excluiu regiões mais pobres dos recursos para saneamento | Até o ombundsman da Folha aponta defesa acrítica da venda da Sabesp. Situação do Rio Madeira é crítica, diz Agência Nacional de Águas , além de outras notícias e artigos

A Amazônia vive nos últimos meses um drama multifacetado, mostrando as dificuldades das populações diante de desafios de diferentes origens. Vivenciamos um permanente mal-estar, testemunhando omissões, crueldades e falta de compromisso dos poderes públicos. Tragédias anunciadas, resultados de ações mal planejadas, crimes ambientais e inépcia política.

Toda a Região Metropolitana de Manaus sofre com a ingestão de fumaça causada por incêndios criminosos no interior e na capital. A forte presença da fumaça prejudica toda a população, provocando problemas respiratórios e agravando outras doenças. A fumaça também mostra uma cidade abandonada pelos gestores que foram eleitos para cuidar dela, mas se omitem diante dos compromissos assumidos em campanhas eleitorais.

A poluição reduziu a cidade à condição de segunda pior do mundo para respirar, segundo monitoramento do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental da Universidade Estadual do Amazonas. A situação vem afetando todos os setores da sociedade: comércio, turismo e serviços como educação, transporte e saúde. A cidade está sufocando!

Outro aspecto preocupante da crise é a falta de água potável aprofundada atualmente pela ausência de chuvas, que atinge toda a região, deixando centenas de municípios em situação de precária qualidade de vida. Além da falta de água vivida permanentemente nas periferias e outros lugares pobres da cidade, a seca trouxe dificuldades de acesso à água potável até para as populações ribeirinhas, que assistem impotentes o desaparecimento dos peixes e da alimentação em geral.

O caldo engrossa ainda mais pela falta de esgotamento sanitário em todas as áreas da cidade, trazendo à tona dificuldades históricas. Além do castigo da seca, que faz o rio diminuir (ou desaparecer) diante dos olhos do manauara, grandes quantidades de esgotos drenadas para os igarapés e rios da cidade radicalizam a degradação ambiental. A concessionária de água e esgoto – Águas de Manaus – tenta fugir da responsabilidade, sem obter êxito, pois já são mais de duas décadas de privatização e omissão diante do caos.

Moradores das proximidades do Igarapé do Gigante são unânimes em denunciar, por exemplo, a responsabilidade da empresa na poluição do rio Tarumã-Açu. Até a Secretaria do Meio Ambiente do Estado já reconhece a culpa da empresa pela situação em que se encontra o rio. O poder concedente (a prefeitura municipal), no entanto, é omisso. Conivente, a Agência Reguladora – Ageman – não realiza a sua obrigação de fiscalizar e punir a infratora.

Manaus parece mesmo uma cidade sem lei. Acobertados, os grandes criminosos não temem a punição. Bem articulados, garantem a impunidade. Do outro lado, a população sedenta é sufocada e mergulhada no esgoto.

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