Folia de Reis, mambembe e comovente
Num ensaio fotográfico, as cores de uma festa popular brasileira na Serra da Canastra, onde Minas assume seu lado rural
Publicado 12/07/2012 às 21:42
Por Márcio Ramos, editor de Habitar o Mundo
Certa vez fui à Serra da Canastra na cidade de São José do Barreiro. Acordava cedo para fotografar e logo conheci em pouco tempo a população local. A cidade na época possuía meia dúzia de ruas de terra batida aonde a hospitalidade e o queijo de minas era tudo o que eu queria.
Folia de Reis nas comunidades do município de São José do Barreiro.
Aproveitando a hospitalidade para afinar os instrumentos e bater um papo.
Moradora com o estandarte da Folia de Reis.
O palhaço da Folia de Reis.
Conversa vai conversa vem me convidaram para participar da Folia de Reis quando perceberam que a minha fissura era a fotografia. Assim no terceiro dia de viagem, logo após o início do ano acompanhei a Folia de Reis pelas pequenas propriedades vizinhas da cidade. A Folia era composta de quatro violeiros, um sanfoneiro, dois palhaços, o motorista da caminhonete, o percursionista com a zabumba, mais duas pessoas que carregavam o estandarte com a imagem do menino Jesus, a santa virgem Maria e São José, o carpinteiro. De carro íamos até a porteira das propriedades rurais. Assim que descíamos do carro e em fila a ladainha começava, o estandarte á frente, os músicos atrás, os palhaços dançando e eu procurando o melhor ângulo para fotografar sem atrapalhar a festa.
As crianças acompanham os adultos e participam ativamente da Folia de Reis.
Grupo de Folia de Reis e a Serra da Canastra ao fundo.
A Serra da Canastra vista de dentro da Igreja local.
Caminhávamos até a porta das casas e éramos recebidos pelos proprietários. Neste momento havia uma cantoria de chegada e os devidos cumprimentos. Logo após entravamos na sala que era o primeiro cômodo das pequenas casas e todos desfiavam uma ladainha como uma prece em frente ao pequeno altar quase sempre com um quadro com uma imagem religiosa na parede. Nas propriedades mais humildes cantávamos e aceitávamos um café, uma água e nas propriedades mais abastadas comíamos a vontade. Naquela primeira semana de janeiro almocei finas iguarias, cada dia em uma casa, foi fantástico. Fartura aqui penúria ali, mas a comunidade se ajudava. Logo após a acolhedora receptividade saíamos em fila conversando para a próxima parada e isso só terminava a noite. A folia passava nas casas e pedia uma prenda para os proprietários que cediam conforme sua condição econômica – uma galinha, um móvel, um boi – para no dia seis de janeiro ser dividido com as pessoas mais pobres da comunidade após a missa católica na simpática Igreja local.
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> Edições anteriores da coluna:
Abandono: ensaio poético-fotográfico
Fotógrafo envolvido na luta pela reforma urbana retrata sem-teto paulistanos e descobre identidades entre eles e poeta Manoel de Barros
É fantástico como essa tradição de fazer folias é encontrada em quase todo o país: bater de porta em porta, almoçar cada dia em uma casa, o respeito e devoção aos santos… São mto bonitas as festas que temos espalhadas por esse Brasil, espero que meus filhos e netos ainda tenham a oportunidade de conhecê-las.