A crise do Ocidente e o desafio dos Brics
Declínio da ordem eurocêntrica é político, econômico e ético. E mesmo heterogêneo, o novo bloco tem algo decisivo em comum: rejeitar o domínio colonial. Por isso, irrita Trump. Por isso, é preciso cultivá-lo e caminhar com ele
Publicado 07/07/2025 às 18:09 - Atualizado 07/07/2025 às 19:24

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O texto a seguir é o prólogo do dossiê BRICS+ e o futuro soberano do Sul Global, produzido pela Rede Brasileira pela Integração dos povos – Rebrip. A obra é composta de dez artigos, que tratam de temas como Cooperação em Saúde Global; Comércio, Investimento e Finanças; Mudança do Clima; Governança da Inteligência Artificial e Estrutura e Coesão dos BRICS. Pode ser baixada, na íntegra, aqui.
Por Graciela Rodriguez | Imagem: Luis Zerbini, A primeira missa (2014)
Em evento recente, no âmbito do G20 no Rio de Janeiro, o professor Ha-Joon Chang, autor do famoso livro Chutando a escada1, comentou com surpresa que estava o tempo todo ouvindo os expositores e outras pessoas falando em crise; na crise civilizatória, econômica, climática, alimentar, de saúde, e mais. “Se vocês fossem ao Oriente e perguntassem às pessoas sobre a crise, elas diriam, ‘de que crise você está falando?’”
Em todo caso, é o chamado Ocidente Coletivo – nome informal dado aos países que foram aliados dos EUA durante a Guerra Fria, entre 1947 e 1991, principalmente da Europa – que está submerso numa crise profunda, que vai além das cíclicas crises a que o capitalismo nos têm acostumado.
Na verdade, a ordem mundial atual, surgida depois da Segunda Guerra Mundial, está-se desmoronando, e o deterioro provoca o caos que sentimos na região, que por sua vez impacta o conjunto do planeta de diversas formas, dada a importância hegemônica do Ocidente, tanto econômica quanto militar.
As instâncias institucionais multilaterais como o FMI, o Banco Mundial, a OMC e outras estão deslegitimadas, junto com princípios tais como o respeito pelas fronteiras dos países, a igualdade e autonomia dos estados, o princípio de não ingerência, o direito de autodeterminação dos povos. Todas, premissas basilares do sistema normativo e do direito internacional, princípios que sustentariam o funcionamento considerado pacífico do mundo, ou dito de outro modo, que impediriam uma terceira guerra mundial. Isto considerado de um modo geral, apesar das “guerras eternas” promovidas pela potência hegemônica em diversos países, quase sempre em cada um isoladamente, na velha lógica do “dividir para conquistar”. De fato, nas últimas décadas, os EUA foram se transformando na “polícia do mundo”, especialmente a partir da queda da União Soviética e do fim da Guerra Fria, consolidando esse papel a partir de 2001 e sua “guerra ao terrorismo”.
Por sua vez, a globalização corporativa veio desde os anos 1980 impondo a hegemonia econômica norte-americana e a lógica do livre comercio e do estado mínimo, promovendo também o pensamento único e o “fim da história” a partir do modelo neoliberal.
Entretanto, todas essas receitas deram resultados muito diversos aos prometidos pela globalização produtiva e acabaram provocando fortes alterações na geopolítica global, multiplicando as crises financeiras a partir de meados dos anos 90, especialmente a partir dos avanços sem regras do sistema financeiro internacional. Concomitantemente, o desmonte do sistema produtivo ocidental pela deslocalização das empresas em busca do barateamento do emprego, e da entrada do hegemón em guerras destrutivas em busca de territórios e recursos, ampliou e aprofundou as crises, especialmente em 2008, quando a explosão do sistema financeiro norte-americano fez a crise se espalhar pelas bolsas do mundo inteiro. No meio desse turbilhão surge o BRIC em 2009, depois de ter contribuído com as reservas dos países-membros para superar a crise, e já formando o G20 como parte dos países convidados pelo G7, diante da ingovernabilidade do sistema econômico internacional.
Porém, o BRIC (posteriormente BRICS, com a incorporação da África do Sul) irá além desse primeiro momento de intervenção para contribuir com a saída da crise, colocando desde o começo o desafio de superar o sistema hegemônico unipolar, mostrando sua vocação de multilaterização do cenário mundial e de promoção da integração multipolar.
A começar porque eles, desde o início, reconheceram a importância de empenhar esforços conjuntos para o avanço da diplomacia multilateral e um “sistema econômico justo e equilibrado”2 reforçando a necessidade de resolução pacífica de conflitos e reafirmando a importância do diálogo em matéria de segurança e paz mundiais, como também a cooperação Sul-Sul.3
Contexto no Norte Global
Por se tratar de um resumo apertado, para prologar este dossiê organizado pela REBRIP, vamos tentar comentar aqui a nossa perspectiva sobre o BRICS e sua atual importância no contexto da ordem internacional neoliberal, que desde 2009 só vem mantendo uma crise profunda e com evidências notórias de declínio.
Em 2025, encontramos os EUA em crise e com uma dívida ingovernável de mais de 120% do seu PIB, provocando incerteza político-económica no próprio país e no mundo. A chegada de Trump à Casa Branca só tem tornado a situação ainda mais conflituosa, acrescentando novos elementos à guerra tarifária que os EUA vêm promovendo com a China há anos. Algumas de suas propostas remetem à quebra de pilares do convívio internacional assentados no ultimo século – de respeito à integridade dos países e suas autonomias –, como no caso da anexação da Groenlândia, do Canal do Panamá e do vizinho Canadá, exemplos de como vem-se provocando uma grande turbulência global.
Já na Europa, a situação também mostra enorme instabilidade, e a perspectiva de continuidade da guerra na Ucrânia, apesar das tortas tentativas de Trump de levar à frente um cessar fogo, só multiplicam a situação de crise e fragilidade da região. Uma Europa que tomou para si uma guerra por representação dos interesses norte-americanos do governo Biden, de avançar na fronteira leste europeia com a Rússia, apesar dos alertas e até dos acordos assinados4 desde 2014, dos conflitos no Maidan, e da perspectiva de entrada da Ucrânia na OTAN. Ou seja, uma guerra impossível de ser vencida pela Ucrânia, e que deixou milhares de mortos e feridos. Uma tragédia com consequências gravíssimas para a economia e bem-estar europeus, que segue porque não se reconhece que é uma guerra perdida, e pela arrogância da dirigência europeia em continuar um conflito completamente rejeitado por sua população, com um custo de 800 bilhões de euros para a criação de um parque armamentício próprio, que possa substituir o fim da colaboração norte-americana para a OTAN enfrentar a continuidade dessa guerra.
Tudo isso somado à crise instalada na indústria europeia, à fragilização do sistema energético e às inúmeras consequências sociais e climáticas dessas escolhas. Sem falar no legado da destruição na Ucrânia: maltrato aos migrantes nas fronteiras da “Europa fortaleza” com o afrouxamento da defesa dos direitos humanos e até o abandono dos ideais humanitários explicitado no apoio a Israel, autor do genocídio ainda em curso em Gaza.
Em síntese, um Norte global que tem demonstrado a incapacidade do multilateralismo ocidental em lidar com as crises sistémicas do planeta: de saúde, económica, social e ambiental, levando-nos à atual descrença de muitas populações na política e num futuro melhor.
Importância do BRICS
Por outro lado, nos últimos 15 anos, vimos crescer simultaneamente outro processo: o do avanço do BRICS, agora um bloco se expandindo de forma significativa, com a entrada de mais 6 países5, formando o chamado BRICS+, com 11 países e uma longa fila de solicitações de adesão. Isso, no contexto de surgimento e ascensão do chamado “Sul Global”, sendo este um conceito em debate que inclui características como o princípio de cooperação com benefícios mútuos, que dá fundamento a uma perspectiva socioeconómico diversa da hegemônica, um espaço de resistência aos projetos coloniais. Um construto alternativo, que questiona as dinâmicas de poder existentes, buscando promover uma ordem internacional mais justa. Essas características do que agora chamamos Sul Global já se encontraram de formas similares na história recente com outros nomes, como países não alinhados, ou Terceiro Mundo, trazendo sempre a lógica de quem sofreu situações coloniais.
O BRICS constitui-se nesse contexto, mas agora enquanto “países emergentes”, com a perspectiva de se transformarem nas principais economias do mundo até 2050, com grandes populações e áreas territoriais extensas, somada a uma presença de peso em seus continentes. Isto evidentemente traz novos desafios, chances e caminhos para seu funcionamento e desempenho.
O crescimento acelerado da China nesses poucos anos tornou o país uma potência econômica e tecnológica, que tem inclusive arrastado diversos países do sudeste asiático numa trilha de multiplicação das opções produtivas locais e regionais e de avanço nas tecnologias digitais. A Índia, com enormes diferenças políticas com seu grande vizinho do norte, tem caminhado numa perspectiva de convívio pacifico, que o diálogo político no BRICS vem ajudando até o momento a manter. Por sua parte, a parceria estratégica da Rússia com seu sócio mais importante, a China, tem-se traduzido em acordos de interação estratégica e associações de interesse mútuo, que ajudaram a suportar as milhares de sanções econômicas recebidas dos EUA.
Já África do Sul e Brasil, apesar de serem sócios menores, têm tido um papel qualitativo fundamental para criar as bases democráticas de processos importantes, como a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Acordo de Reservas Contingentes (CRA), além de aproximar amplas regiões, África e América Latina, onde são, respectivamente, polos continentais.
Entretanto, não só as transformações das condições econômicas desses países foram importantes para o surgimento em 2009 desse novo bloco internacional. Mas também as condições políticas criadas pelas repetidas crises econômico-financeiras, com foco inicial no ocidente, e pelo declínio político e ético do Ocidente Coletivo – EUA e seus aliados na OTAN – com as inúmeras guerras acontecidas no Sul Global, e que perduram até hoje, (escalando em truculência com o genocídio em Gaza). Ambas as causas, econômicas como também as razões ético-políticas, se entrelaçam condicionando-se mutuamente.
Condições geopolíticas da crise sistêmica
Esse é o momento complexo que vivenciamos atualmente, acirrado com a eleição de Trump e o avanço da ultradireita neoliberal.
De fato, o novo presidente norte-americano tem-se mostrado bastante disruptivo. Entretanto, sua verborreia não consegue ocultar que as propostas de aumento seletivo das tarifas de importação seguem uma linha de guerra comercial já desenhada por governos anteriores, e também que há continuidade no processo de fragilização das instituições multilaterais (Castilho, 2025). Mas possivelmente, a maneira de fazer os anúncios traga o estilo shock com o propósito de acelerar a “reciclagem global” como conceituado por Varoufakis6.
A essência deste mecanismo de reciclagem global é simples: desde a década de 1970, os deficits dos Estados Unidos proporcionaram a Alemanha, Japão e posteriormente, China, a demanda por produtos de suas fábricas. Em troca, a União Europeia, Japão e, posteriormente, China enviaram seus lucros acumulados para Wall Street e seu subalterno, a City de Londres, para que fossem reciclados no setor rentista estadounidense: dívida privada e pública, financeirização parasitária com investimentos em ações e bens imobiliários.
Esse mecanismo, que tem gerado deficits comerciais crescentes e uma gigantesca dívida nos EUA, ao mesmo tempo tem permitido o acumulo de renda na Europa do norte e no Leste asiático. E agora parece que o limite chegou, e Trump não tem feito mais que escancarar a perspectiva das elites americanas a seus principais aliados no mundo, abandonando seus sócios, que parecem agora atordoados e oscilando entre a condenação e a permanência ao lado de seus algozes.
Acreditamos que o importante agora é perceber que isso está possibilitando uma janela de oportunidade para nos repensar enquanto parte do Sul Global, procurar recuperar a economia produtiva do ponto de vista das cadeias de produção que precisam ser reorganizadas e realizar a pendente tarefa da industrialização, com inovação e bem-estar, envolvendo a região, como fez a China com seus vizinhos.
O Brasil no BRICS, na reciprocidade
Quando se tem pela frente um cenário global com tanta incerteza e turbulências, ter clareza sobre o rumo a seguir, em relação ao modelo produtivo e de país que se constrói, permite contar com um alicerce firme a partir do qual é possível reagir frente aos desafios e oportunidades. Diante da quebra das cadeias produtivas explicitada após a pandemia, o atual rearranjo global da produção se impõe, e permite vislumbrar oportunidades para a retomada a médio e longo prazo da reindustrialização brasileira, acompanhando o avanço tecnológico e a urgente necessidade da transição para uma economia de baixo carbono. No caso do Brasil, o atual contexto interno parece ainda insuficiente para nos permitir aproveitar essa oportunidade externa que se apresenta, a menos que o país tome as decisões políticas que se requerem neste momento.
O BRICS faz parte dessa oportunidade que permite vislumbrar uma perspectiva de mudança nos rumos da atual e desigual divisão internacional do trabalho, que nos empurra necessariamente ao modelo primário exportador, ambientalmente insustentável, com escassa criação de empregos e concentração da renda, e sua consequente desigual distribuição social da riqueza. Temos agora a possibilidade de negociar no BRICS um lugar de trocas de inovação e tecnologia que nos permita caminhar para uma matriz produtiva com valor agregado, apoiando as pequenas e medias empresas com maiores condições de criar emprego, e ampliando o enorme potencial da bioeconomia e das fontes de energia renováveis.
E essa oportunidade que vem do BRICS aparece tanto por razões geopolíticas, de construir um mundo multipolar, anti-hegemonista e que permita avançar numa distribuição do poder global a partir de múltiplos atores, como também a partir das possibilidades de facilitação das transferências de tecnologia e de investimentos capazes de alavancar a sustentabilidade do crescimento e a capacidade de superação das enormes desigualdades brasileiras e da região. Essa chance depende do diálogo construtivo e do peso da história de povos que vêm buscando superar as experiências coloniais e o “choque de civilizações” promovido pelo ocidente.
A democracia liberal e o multilateralismo ocidental têm fracassado na sua tarefa de promover a paz e a prosperidade. Por isso é preciso caminhar para a coexistência civilizacional da humanidade, o que inclui a aceitação das diferenças e da autodeterminação dos povos.
O BRICS, agora aumentando o número de países e seu alcance global, é um grupo com visões e perspectivas políticas, culturais e civilizacionais muito diversas, mas empenhadas em trabalhar juntas na diversidade, em prol da melhoria da prosperidade global.
Apontamentos para a construção de futuros possíveis do BRICS+
Apesar de certas visões críticas e resistentes às mudanças no cenário internacional, que querem ver um antiocidentalismo no BRICS+, o bloco vem-se firmando como um farol que busca iluminar um mundo multipolar, de respeito às diferenças históricas, políticas, econômicas e culturais que nos desafiam no mundo globalizado.
Por isso, temos aqui questões fundamentais a serem refletidas.
– Em primeiro lugar, o BRICS é uma construção do Sul Global, e portanto, podemos dizer que, em essência, está formado por países que foram colonizados, “não ocidentais” na sua maioria, mas nem por isso antiocidentais. Entretanto, é necessário superar a narrativa anti-Brics, pelos muitos clichés e preconceitos que a rodeiam. Pelo contrário, o BRICS vem sendo construído com uma estratégia não confrontacional, como expressado diversas vezes pelo embaixador Celso Amorim e outros líderes, aceitando as diferentes visões e buscando um mundo de paz e mais justo, e que fortaleça o desenvolvimento do Sul Global, superando o subdesenvolvimento, “herança maldita” do colonialismo.
Um multilateralismo que também permita o funcionamento das instituições multilaterais necessárias – existentes e novas – que possam ser reformadas e atualizadas a partir de regras de convivência internacional, que condenem a fome, a pobreza, o racismo, o genocídio, e todas as formas de neo-colonialidade, desigualdades e discriminações. Destacamos inclusive que a luta pela autodeterminação Palestina em Gaza e Cisjordânia, fazendo frente ao brutal genocídio praticado por Israel com o explícito apoio do Ocidente, tem que se tornar bandeira simbólica da própria luta do Sul Global.
Esse é, talvez, o maior desafio, e por isso para nós, sociedade civil brasileira, é da ordem do essencial buscar o convívio harmonioso entre civilizações milenares, prevalecendo como prática permanente o combate e superação das desigualdades e mazelas que resistem em todas as nossas sociedades. A proximidade cultural com EUA e Europa, tem de fato nos prejudicado, pois ela ajudou a perpetuar o colonialismo político e cultural que foi a patina hegemónica da submissão econômica de América Latina e outras regiões aos países do Norte Global.
Assim, e apesar de fortemente moldada pelo ocidente, nossa rica e milenar cultura indo-americana conseguiu (e ainda consegue) enriquecer-se com as contribuições das culturas africanas, e posteriormente de outros povos migrantes, e também fez e pode continuar a fazê-lo com as culturas asiáticas. Só o maior conhecimento recíproco e as trocas culturais poderão frutificar na necessária cooperação internacional de benefícios mútuos, para construir um mundo civilizado que, pela primeira vez, experimenta com a comunicação online a maior aproximação global até agora conhecida.
– Em segundo lugar, acreditamos que o BRICS precisaria ter como objetivo harmonizar as relações entre os países do Sul Global, utilizando a cooperação multidimensional e a “conectividade económica” com recursos naturais, financeiros, tecnológicos e com liderança estatal, fatores que lhe proporcionam a autonomia necessária para o desenvolvimento com equidade e justiça ambiental, superando a crise da qual falávamos e que surpreendia ao professor Ha-Joon Chang.
Existe no Sul uma desconfiança no sistema económico hegemonizado pelo Norte Global, especialmente pelo desequilíbrio dos EUA e as respostas tarifárias exageradas impostas por Trump, que até extemporaneamente decretou “a morte do BRICS”. Alguns analistas enxergam nos EUA um certo declínio agressivo que se evidencia no uso de mecanismos de punição coercitivas – como as inúmeras sanções impostas à Rússia, mas também a outros estados –, utilizados como armas econômicas para impedir o crescimento de países rivais, avivando esse clima de desconfiança, e criando fortes turbulências.
Daí que a perspectiva de resposta do BRICS tenha-se fortalecido no questionamento ao sistema monetário hegemônico, buscando alternativas e soluções tais como o uso de moedas nacionais mútuas nas transações comerciais, acordos de cooperação em inovação e tecnologia (para enfrentamento das mudanças climáticas, de combate à fome e de iniciativas em saúde global e local), trocas em processos industriais e de transição energética e nas áreas de comunicação, dentre outras.
– Em terceiro lugar, tem sido levantada a questão da organização do BRICS, e de aperfeiçoamento de sua institucionalidade. Até agora, o bloco tem funcionado sem secretariado nem estrutura permanente, como uma rede descentralizada.
Entretanto, e apesar de certa necessidade de institucionalização e ao menos de centralização da informação, consideramos que
num espaço multilateral, resulta mais atraente esse formato flexível que não exija uma mesma medida para todos. Nem regras rígidas que busquem avançar ideias como a moeda única, que acabaria sendo centrada na China pela maior força e tamanho e à qual a Índia provavelmente se oporia, ou utilizar um sistema de pagamentos no qual alguns países se sentiriam presos.7
Justamente daí surge parte da efetividade do BRICS, desse formato mais flexível, que tem permitido os 15 anos de andamento e do forte interesse de adesão de um grande número de países. O que aliás, já significa um sucesso do BRICS por seu valor simbólico de aglutinação dos anseios de multilateralismo existentes no Sul Global.
Finalmente, para concluir com esta introdução ao dossiê, queremos enfatizar a necessidade de o governo brasileiro comprometer-se com o aprofundamento e ampliação da participação social no Conselho Civil do BRICS, e de fato em todo âmbito negociador da PEB – Política Externa Brasileira. Nesse sentido, a REBRIP demanda a criação do CONPEB – Conselho Nacional de Política Externa Brasileira, de caráter consultivo e inclusivo da diversidade da sociedade brasileira em seu conjunto, para dar maior solidez às ações domésticas e internacionais, e ser o canalizador dos processos participativos, a partir da autonomia da sociedade civil, e com respeito à política externa como política pública nacional.
Maio, 2025
1 CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada – a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica. São Paulo: UNESP, 2004.
2 Declaração de Ecaterimburgo. www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/
3 INESC/REBRIP. Os BRICS e a participação social sob a perspectiva de organizações da sociedade civil.2013.
4 Acordos de MInsk e negociações em torno ao conflito no Maidan. 2024-2015 em Kiev e Ucrânia.
5 Países que passaram a ser membros do BRICS inicial; Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e mais recentemente, Indonésia.
6 VAROUFAKIS,Yanis. Disponível em: https://x.com/yanisvaroufakis/status/1919498798461542465?t=O61JyU_YOcSfhn27MS2Vaw&s=08
7 DIESEN, G. BRICS versus Unipolar World Order. 2025. Disponível em: https://x.com/Glenn_Diesen/status/1895940275064992067
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