Sobre o silêncio
Este é um convite ao silêncio. Necessário. Para se atravessar os labirintos. E entender as necessidades da alma. Na coluna “Outro lugar”
Publicado 03/10/2013 às 18:42 - Atualizado 15/01/2019 às 17:40
Este é um convite ao silêncio. Necessário. Para se atravessar os labirintos. E entender as necessidades da alma
Por Mariana Caldas, na coluna Outro Lugar
“A viagem não começa quando se percorrem distâncias,
mas quando as atravessam
as nossas próprias fronteiras interiores”
Mia Couto
“Outro Lugar” é uma viagem que começa. Sem se importar onde vai chegar. Preocupada mais em viver o que vier pela estrada, no devagar depressa dos tempos, dos caminhos, dos encontros. Se embrenhando pelo labirinto místico da alma e dos mundos que se misturam, dentro e fora. Na busca pelo sentido, através de imagens que involuntariamente saem do coração.
É também um manifesto pela pausa. Para ver, rever, sentir, viver. Pela presença da alma, no agora, esse lugar, o melhor do mundo. Pelo sossego da paisagem, que faz nenhuma coisa pedir urgência. Por mais tempos de respiro nessa vida que passa e não dá nem tempo de viver.
Este é um convite ao silêncio. Necessário. Para se atravessar os labirintos. E entender as necessidades da alma.
Aprendendo sobre o silêncio.
é o silêncio q propicia o deslumbramento. as palavras e imagens compartilhadas aqui são a prova disso.
“Todo silêncio é grávido de som”
Mariana, você me fez imaginar que o silêncio guarda, em tempos ruidosos, o oculto, o reprimido. O silêncio de Mariana me fez pensar em como nos esquecemos de ouvir a alma.
Na dança o silêncio é tão importante para definir a próxima intenção de movimento, de encontro com o pedido do corpo.
Moro também numa aldeia, no interior da Bahia, não fotografei o silêncio pois não tenho uma máquina.
Ouço, contudo, escuto um vento leve que refresca folhas de um dendezeiro e ele canta uma música linda ao lado de minha alcova.
Penso igualmente na existência dele. Danço esse som suave em noite fresca, desnudo.
Minha pele respira o silêncio e entende o registro do (in)audível e entendo que o fundo das imagens de Mariana carecem ser feitas de silêncio para que as imagens do Rio de Janeiro, tão belas, por ela fotografadas, ergam-se no imaginário da busca do tempo.
Mariana, certamente você conhece esta poesia do Manoel de Barros, mas não resisti em enviar. Lindo seu trabalho.
“Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal”