Photofagia: Sin café no hay mañana
Cotidiano dos pequenos produtores do grão, em Honduras. Cooperativismo é alternativa crescente, diante da manipulação de preços praticada por multinacionais
Publicado 20/07/2013 às 00:03 - Atualizado 15/01/2019 às 17:40
Cotidiano e trabalho dos pequenos produtores do grão, em Honduras. Cooperativismo é alternativa crescente, diante da manipulação de preços praticada por multinacionais
Fotos e texto: Letícia Freire
O café cresce em mais de 50 países na linha do Equador e oferece um meio de subsistência para mais de 20 milhões de pequenos produtores ao redor do mundo. Carro-chefe das exportações em doze países, ele é o sétimo produto agrícola mais comercializado do mundo.
No total, mais de 100 milhões de pessoas ao redor do planeta estão envolvidas com a plantação, processo e revenda e comercialização do café. Da árvore às prateleiras do supermercado estima-se que o grão pode trocar de mãos mais de 150 vezes. O preço final de um cafezinho absorverá os custos de seguro, impostos, transportes, processo, empacotamento, marketing, estoque e muito mais.
Contudo, do preço cobrado por um simples expresso, o pequeno produtor terá sorte em receber centavos pelo seu trabalho. Escondido atrás dessa longa e complicada jornada está o colapso do preço do café no mercado internacional, por pressão das multinacionais envolvidas com a posse da terra e o controle da produção.
Quando o preço do grão cai nas operações financeiras, produtores sofrem uma redução imediata de renda, mesmo que tal reflexo não seja sentido pelos consumidores no preço final da cadeia. Em uma das pontas, os grandes exportadores do mercado aumentam suas margens de lucro graças ao preço baixo do produto. Na outra, pequenos produtores sentem na pele essa oscilação. Em segundos, milhares de pessoas podem não ter como custear a própria subsistência, levando famílias a abandonarem suas origens e costumes.
Honduras, um entre os diversos países da América Latina que enfrenta os desafios de uma nação em desenvolvimento, é extremamente dependente da economia do café. A subsistência de aproximadamente 25% da população está de alguma forma ligada à venda ou comercialização do produto.
De acordo com as Nações Unidas, em março de 2002 os efeitos da redução do preço do café, combinados com uma forte seca, deixou mais de 30 mil hondurenhos a mercê da sorte.
Honduras é apenas um exemplo que traduziu a agonia de pequenos produtores agrícolas frente aos grandes players do cenário alimentício atual.
Em países que enfrentam significativos desafios no sentido de minimizar o quadro das desigualdades sociais, o cooperativismo pode ser alternativa. Estratégia mundial para a diminuição da pobreza e para o fortalecimento do desenvolvimento sustentável, o comércio justo também oferece oportunidades para produtores que não desejam sujeitar-se às manipulações das multinacionais.
Diferente de assistencialismo, o cooperativismo gera renda, emprego e fonte de investimento para os envolvidos no processo, e pode ter importância vital dentro da construção de uma sociedade com bases econômicas menos injustas.
Em Honduras, por exemplo, pequenos produtores de café estão se organizando para vender seu produto a nichos alternativos (e conscientes) de mercado. Atualmente, as cooperativas já ocupam 4% dos resultados operacionais no país.
Entendendo a importância do café no sistema de cooperativas em Honduras, esse ensaio convida a conhecer a vida cotidiana de pequenos produtores hondurenhos. Graças a esforços múltiplos e incansáveis, esses personagens colhem os frutos do trabalho em busca de um tempo melhor em sua turbulenta história.
Sejam bem vindos aos campos hondurenhos. Aqui, sin café no hay mañana.
O que fazer além de apoiar a ideia, encontrar saídas alternativas, colaborar e difundir o consumo de produtos que vem dos pequenos produtores, mediante de uma política internacional em conjunto com os Estados que também não demonstram terem forças de se opor ao mercado concentrador de lucros?
Porém, Mauro pondera que, por enquanto, essa alta não beneficiou a maioria dos produtores de café de sua cidade, que são pequenos e médios. “O pequeno e médio produtor de café estava endividado e já havia vendido seu café, não tendo mais produto para comercializar em bons preços e o dinheiro que obteve pagou dívidas e não foi gasto em consumo”, descreveu.
O comércio justo é definido pela News! (a rede europeia de lojas de comércio justo) como “uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentável. O comércio justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. Sua missão é promover a equidade social, a proteção do ambiente e a segurança econômica através do comércio e da promoção de campanhas de conscientização”.
lindo ensaio, Letícia Freire. parabéns!