Crônica: Condenado ao ustracismo!

Afinal, qual a razão do ato destrambelhado de Bolsonaro? A prisão domiciliar é má companhia, claro. E o aparelho de vigilância conversava com ele! Primeiro, mensagens do maquiador de sua esposa. Depois, de seu herói-mor, oráculo dos Quintos, que previa seu futuro a partir dali…

Uma montagem divertida de Jair Bolsonaro em sua tentativa de violar a tornozeleira eletrônica. Fonte: Blog do Esmael
.

Tirante o frufru do vaivém usual dos fantasmas da pandemia, a noite de 21 de novembro, sexta, aniversário do Voltaire, estava calma na Quadra II do Solar de Brasília no Jardim Botânico. Seu Jair, entrementes, quer dizer, nas saliências do cérebro, estava com os nervos em pandarecos. Ouvia vozes saindo da tornozeleira, e supunha que isso fosse mais uma maldade do Xandão para desestabilizá-lo.

– Quem tá falando aí?

– Agustín Fernandez, Don Jair. Doña Mitchelle pregunta si está todo bien.

– Bem, o caralho! Cadê essa baranga dos infernos que não para em casa?

– Pero, Don Jair… Usted ya sabe que ella está acá en mi casa en vigilia de oración…

– Oração, oração, eu quero é meu passaporte pra ir pra Telavive, Budapeste ou até pra Casa do Caralho. Quando é que vai rolar a promessa do Versículo 32 do Capítulo 8?

– Cróin… beuerrrr…. brauuuu… Vruuuuum…

– Michelle? Falando em línguas outra vez?

Não era a Michelle. Era um jamming pavoroso interrompendo a comunicação. Seu Jair deu um tapa na tornozeleira, a coisa parou de chiar, e logo depois surgiu nova voz ainda mais esganiçada que a do maquiador uruguaio:

– Capitão, aqui é o Ustra!

– Mestre, bato continência!

– Ok, Ok, eu preciso lhe transmitir um recado urgente do meu superior, o marechal Malacoda, aqui dos Quintos.

– Perfeito, coronel! Sou todo ouvidos!

– Diz aqui o marechal que está na hora de você desistir. É o fim das quatro linhas. Você acaba de ser condenado ao ostracismo!

– Ustracismo? Mas essa condenação é uma subida honra para mim, coronel!

– Interprete como quiser, capitão! (Entredentes: “Ah, estúpida criatura… Onde fui amarrar minha mula, meu Santo Olavo!”)

– Valeu, meu guru!

– Afffff!

A ligação caiu, o aparelho emudeceu, lá fora caía uma chuva fininha de molhar bobo. Minutos depois a geringonça passou a emitir guinchos, estrilos e soídos. Seu Jair não conseguia compreender mais nada. Ficou jururu, sorumbático e meditabundo. A seguir, eufórico, alvoroçado. “Um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar.”

Curioso, correu até uma gaveta, pegou um ferro de solda e passou a atacar a tornozeleira, arriscando botar fogo na perna.

Meia hora depois chegou a agente da PF Rita Gaio para substituir o dispositivo. O resto da história todo mundo viu na televisão.

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