Cinema: Guia para um Brasil à mostra

Um vampiro que vaga pelos becos paulistanos. A vida de cinco domésticas – inclusive, da mãe da diretora. O mistério no set de um filme B cearense. E, claro, o premiado O Agente Secreto. Veja dez dicas de títulos brasileiros para assistir na 49ª Mostra Internacional de SP

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Por José Geraldo Couto, no Blog do IMS

Entre os mais de trezentos títulos programados pela 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa nesta quinta-feira, algumas dezenas de filmes brasileiros inéditos atestam o vigor e a diversidade da nossa nova safra.

Vimos uma porção deles, que comentamos brevemente a seguir, como um esboço de guia seguro para quem vai navegar pelo mar de atrações da mostra.

O agente secreto, de Kleber Mendonça Filho. O novo filme do diretor de Aquarius Bacurau levou os prêmios de direção e ator (Wagner Moura) em Cannes. É um empolgante thriller político com toques de comédia e fantástico ambientado no Recife na época da ditadura. O protagonista é um especialista em tecnologia visto como suspeito de subversão pelos órgãos repressivos.

Futuro futuro, de Davi Pretto. Vencedor do recente Festival de Brasília, é uma ficção distópica ambientada num futuro próximo, em que a realidade virtual invadiu o cotidiano e a sociedade está radicalmente dividida entre o mundo dos ricos e o dos pobres.

Nosferatu, de Cristiano Burlan. Nessa apropriação antropofágica do mito, filmada em belo preto e branco, o vampiro (Rodrigo Sanches) chega de navio ao porto de Santos e vaga solitário por becos de São Paulo, à procura de uma atriz. Referências à tradição iconográfica do gênero se intercalam com performances teatrais, shows de punk-rock, citações de Shakespeare e de música popular. Participações muito especiais de Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez. Uma viagem desconcertante.

Morte e vida Madalena, de Guto Parente. A produtora Madalena (Noá Bonoba), grávida de oito meses, vê o caos se instalar no set de um filme B cearense de ficção científica quando o diretor desaparece. Entre desastres, invenções e improvisos, a mistura de drama e comédia acaba por configurar uma declaração de amor e humor ao cinema.

Aqui não entra luz, de Karol Maia. Contundente documentário em que a diretora retrata a vivência de cinco empregadas domésticas (entre elas sua própria mãe) em várias regiões do país, mostrando os resquícios da escravidão na figura da trabalhadora doméstica e em seu cantinho na casa: o quarto de empregada “onde não entra luz”.

Eclipse, de Djin Sganzerla. Em seu segundo longa como diretora, Djin encarna uma astrônoma grávida que reencontra sua meia-irmã indígena e, ao mesmo tempo, descobre casualmente na deep web uma vida paralela e sombria do marido. Vêm à tona violências antigas e perversões contemporâneas, colocando em xeque nossa arraigada tradição patriarcal.

Assalto à brasileira, de José Eduardo Belmonte. A partir de um fato verídico – o assalto ao Banestado no centro de Londrina, nos anos 1980 – o filme constrói uma movimentada, tensa e divertida crônica social e política do país nos anos Sarney. É uma versão brasileira e popular dos filmes e séries de assaltos tornados eventos de mídia, como Um dia de cão e La casa de papel.

Para Vigo me voy, de Karen Harley e Lírio Ferreira. Uma imersão na obra essencial de Cacá Diegues (1940-2025) e em sua busca por uma expressão cinematográfica genuinamente brasileira. Em torno de um longo depoimento do diretor e de uma reunião de amigos em sua casa, revisitamos seus principais filmes, bastidores de produção, entrevistas antigas, etc. Essencial para quem se interessa pela cultura brasileira dos últimos sessenta anos.

Sérgio Mamberti – Memórias do Brasil, de Evaldo Mocarzel. Com rico material de arquivo (home movies, cenas de bastidores, trechos de filmes e de montagens teatrais) amarrado por um destemido depoimento em áudio do retratado, o documentário mostra as várias facetas de Mamberti e seu papel fundamental no teatro, no cinema, na televisão, no comportamento e na política do país.

Aventuras de Makunáima, de Chico Faganello. Programado para a Mostrinha e narrado por uma criança indígena, conta as várias metamorfoses (gente, bicho, planta, rio) do mítico Makunáima de acordo com os povos originários da região do monte Roraima. Os vários episódios são recriados em teatro, dança e música por crianças indígenas, num espetáculo ao mesmo tempo informativo e encantador.

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