Cartas da Guanabara: O Parque Guinle
“Repare, parece Brasília”. “Parece mesmo”… “Prédios de 6 andares, pilotis, modernista. E foi construído antes: fim dos anos 40”. “Bora tomar uma cerveja”?
Publicado 19/02/2016 às 19:02 - Atualizado 15/01/2019 às 17:36
“Repare, aqui parece Brasília”. “Parece mesmo”… “Prédios de 6 andares, pilotis, parque de criança, jardim, modernista. E foi construído antes: fim dos anos 40”. “Bora tomar uma cerveja”?
Por Daniel Cariello
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Durante anos, o escritor e publicitário Daniel Cariello enriqueceu “Outras Palavras” (e, antes, a edição brasileira do “Le Monde Diplomatique”) com suas crônicas semanais, denominadas “Chéri à Paris“. Emigrado à França, como centenas de milhares de brasileiros, durante as “décadas perdidas”, não perdeu a oportunidade de enxergar o país estrangeiro com ironia terna. Voltou ao Brasil nos tempos de recuperação da auto-estima nacional. Viveu em Brasília e no Rio. É um prazer tê-lo de novo no site, agora com as “Cartas da Guanabara“. Esperamos que aqui permaneça, apesar dos tempos ásperos. Precisamos de sua irreverência esperançosa. (A.M.)
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– O parque Guinle foi projetado
– Pierre, rentre!
– Pelo Lúcio Costa.
– Aquele de Brasília?
– Isso, o urbanista. E os jardins pelo Burle
– On mange!
– Marx.
– Aquele de Brasília?
– O paisagista, o próprio. Repare, aqui parece a capital.
– Parece mesmo…
– Prédios de 6 andares, pilotis, parque de criança, jardim, modernista.
– Allez, monte! Le déjeuner est prêt!
– Como uma superquadra.
– Exato! Mas foi construído antes, fim dos anos 40.
– É bonito.
– E sabe onde o Lúcio Costa nasceu?
– Onde?
– Em Toulon, na França.
– Mais je crois pas!
– E daí?
– Você não reparou no tanto de gente falando francês aqui?
– É mesmo. Acabei de ver três garotinhas brincando na língua de Voltaire. Mas, me diga uma coisa: você é de Brasília, né?
– Oui, c’est toi! Vite!
– Sou.
– E viveu em Paris?
– Vivi.
– Por esse motivo que veio morar na porta do parque Guinle?
– Não tinha pensado nisso…
– Encontrou um cantinho que é o Rio, é Paris e é Brasília. Tudo junto.
– É possível que você tenha razão.
– Mais c’est pas possible, Pierre!
– Olha, não sei você, mas estou morrendo de calor. Bora continuar esse papo tomando uma cerveja.
– Pode ser vinho branco?
– Vinho? Que tal uma caipirinha? Soube que faz sucesso na França.
– Caipirinha é bom.
– C’est bon, maman. Je monte!
– Então, desce duas.
Muchas gracias Jorge!
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