Para entender o fenômeno Mamdani
Em fevereiro, tinha 1% das intenções de voto; nove meses depois, foi eleito prefeito da maior cidade dos EUA. Sua marca de campanha: falar com as pessoas nas ruas, vídeos virais, 90 mil voluntários e três pautas populares que reverteram a descrença na política
Publicado 06/11/2025 às 19:39

Por Roberto Andrés, na Piauí
Há pouco mais de um ano, em outubro de 2024, Zohran Mamdani entrou na primeira fase da corrida para a Prefeitura de Nova York. Com 33 anos recém-completos e a experiência institucional de um mandato na Assembleia do Estado de Nova York, ele entrou nas prévias do Partido Democrata apoiado pela Democratic Socialists of America (DSA), uma organização ativista de esquerda. A disputa no partido já tinha outros quatro candidatos, todos mais experientes e que buscavam dialogar com setores progressistas e moderados. Mamdani entrava na contenda como um jovem radical de esquerda – e a primeira pessoa de origem muçulmana a postular o cargo. Na primeira pesquisa eleitoral, em fevereiro, alcançou 1% das intenções de voto. Nove meses depois, foi eleito prefeito da maior cidade dos Estados Unidos com mais de 1 milhão de votos e uma diferença de quase 200 mil votos para o segundo colocado, o ex-governador Andrew Cuomo.
Na realidade, Mamdani bateu o adversário duas vezes em 2025 – nas primárias do Partido Democrata, em junho, e nas eleições municipais, em novembro. Andrew Cuomo é uma figura típica da elite partidária. Debutou na política aos 24 anos, quando seu pai, Mario Cuomo, foi eleito governador do estado de Nova York. Assumiu funções na campanha e no mandato do progenitor, e depois atuou em outros governos do Partido Democrata, chegando a secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano da presidência de Bill Clinton. Em 2010, Andrew Cuomo foi eleito governador do estado de Nova York, cargo para o qual se reelegeu duas vezes. Seu governo foi responsável por assinar leis como as que autorizaram o casamento de pessoas do mesmo sexo e o uso recreativo da cannabis no estado. Também foi marcado por uma gestão errática durante a pandemia, que possivelmente levou ao aumento de casos de Covid em lares de idosos, subnotificados pelo governo; e por uma série de denúncias de assédio sexual, que fizeram com que o governador renunciasse em 2021.
Quando entrou nas prévias do Partido Democrata para a prefeitura de Nova York, Cuomo logo despontou como favorito. Nas pesquisas do início de 2025, pontuou acima de 30% das intenções de voto, enquanto seus adversários não chegavam a dois dígitos. Sua vitória parecia inevitável – até que Zohran Mamdani começou a escalar a montanha. De 1% de intenções de votos em fevereiro, saltou para 10% em março, 22% em maio e 32% em junho, segundo pesquisas do Emerson College Polling. A disputa era de Davi contra Golias, já que o poderio político e econômico de Cuomo era de outra magnitude. De seu lado, Mandani tinha carisma, um bom uso das redes sociais, capacidade de mobilização e muito engajamento dos apoiadores. Como acontece vez ou outra, Davi venceu – o jovem socialista teve 576 mil votos, a maior votação em primárias da história da cidade.
Escolhido pelo Partido Democrata, Mamdani iria enfrentar Curtis Sliwa, do Partido Republicano. Mas a legislação permite que o derrotado nas prévias dispute as eleições como candidato independente. E Andrew Cuomo entrou mais uma vez no ringue, utilizando de uma coalizão endinheirada para impulsionar sua campanha. Os fundos independentes de apoio ao candidato arrecadaram 41,7 milhões de dólares, enquanto os que apoiavam Mamdani tiveram sete vezes menos recursos. Dentre os doadores de Cuomo estão alguns bilionários conhecidos, como Joe Gebbia, cofundador do Airbnb, e Bill Ackman, diretor de um fundo de investimentos. Ambos são apoiadores próximos do presidente Donald Trump. Preocupado com a vitória de um socialista em sua cidade natal, Trump referiu-se a Mamdani como um “comunista lunático”, que “nunca trabalhou na vida”, que vai “desfinanciar a polícia” e que odeia judeus. O presidente ameaçou cortar recursos federais e mandar tropas para Nova York caso o socialista vencesse.
Por obter uma vitória em contexto tão árduo, a campanha de Mamdani entrará para a história da política norte-americana. Muita gente credita o resultado à atuação nas redes sociais, onde de fato ele tem uma performance notável. Mas o trabalho foi além disso. Na verdade, o bom uso das redes foi peça de uma engrenagem mais complexa que incluiu escuta ativa de eleitores, formulação de um programa sintético atento às demandas populares e mobilização metódica da base. Os vídeos virais do candidato foram essenciais, mas eles só atingiram seus objetivos porque conectaram as demais peças: vocalizaram repetidamente as três principais propostas da campanha (ônibus gratuitos e mais rápidos, congelamento de aluguéis e creches gratuitas), apresentaram o candidato como uma figura das ruas e ajudaram a organizar o engajamento dos apoiadores.
Quando Donald Trump foi eleito pela segunda vez presidente dos Estados Unidos, em novembro do ano passado, Zohran Mamdani ainda era um desconhecido em Nova York. Recém-ingresso na disputa das prévias, um de seus primeiros atos de campanha foi ir às ruas de bairros que tiveram altas taxas de votação no candidato republicano. A ação rendeu um vídeo, que depois viralizou, em que Mamdani perguntava a moradores sobre seus votos. Boa parte dos entrevistados eram ex-eleitores do Partido Democrata, mas em 2024 votaram em Trump – ou nem foram votar. Dentre as razões para a mudança estava a descrença na política tradicional e a percepção de que Trump falava de problemas econômicos que afetavam a vida cotidiana naqueles bairros. Apareceram também críticas sobre o posicionamento do governo americano na guerra da Ucrânia e em Gaza.
Mamdani já tinha, naquele momento, a síntese de sua plataforma eleitoral, que vinha sendo testada em conversas e entrevistas. Ao final do vídeo, ele perguntou a um homem negro, que carregava um buquê de flores nas mãos, se ele votaria em um candidato que propusesse congelar os aluguéis e oferecer creches e ônibus gratuitos. A resposta é um entusiasmado sim. Mamdani então se apresenta como pré-candidato do Partido Democrata, e recebe elogios do interlocutor. Além de mostrar a conquista de um voto de um eleitor descrente, a peça é a primeira validação daquilo que seria a marca da campanha: falar com as pessoas nas ruas, abordar os problemas cotidianos e apresentar as três propostas da campanha como mantras repetidos à exaustão.
Assim, o candidato foi ganhando espaço entre a classe trabalhadora, para quem o custo de vida é um problema significativo em Nova York. Mas havia ainda um desafio pela frente: conquistar as lideranças dos sindicatos, cujo apoio tem peso relevante nas eleições da cidade. Geralmente, os sindicatos ligados ao Partido Democrata acabam endossando os candidatos com maiores chances de vitória, já que não querem se indispor com quem possivelmente estará com a caneta na mão. Quando Alexandria Ocasio-Cortez disputou as prévias para representante do 14º distrito de Nova York contra o veterano e moderado Joe Crowley, em 2018, ela não conseguiu o endosso de nenhum sindicato. Sua campanha viral foi capaz de superar esse obstáculo, mas para Mamdani seria difícil realizar algo do tipo em uma disputa que abarca toda a cidade. Não por acaso, Andrew Cuomo lançou sua candidatura em março na sede do Sindicato de Carpinteiros, que conta com mais de 20 mil associados.
A estratégia de Mamdani para virar o jogo foi pressionar os sindicatos de baixo pra cima. Com o apoio cada vez mais entusiasmado dos trabalhadores, sua campanha adotou um plano de ação direcionado e bastante eficaz: organizar os sindicalizados para reivindicarem o endosso a sua candidatura. Isso incluiu grande mobilização de trabalhadores para participarem de assembleias e também telefonemas em massa para as diretorias dos sindicatos. Foi assim que o socialista conquistou, em abril, o endosso do DC 37, a maior entidade sindical da cidade, com mais de 150 mil associados e 89 mil aposentados. Laura Pirtle Morand, uma integrante do comitê de endosso eleitoral do sindicato, relatou que seu setor foi “inundado” com telefonemas dos associados pedindo apoio a Mamdani. Em suas palavras, “isso ajudou a garantir que o analisássemos minuciosamente. Me fez ter um segundo olhar sobre ele”.
A pressão nos sindicatos foi parte de uma estratégia mais ampla e muito bem-sucedida de mobilização da base. A campanha de Mamdani foi extremamente eficaz em recrutar, organizar e entusiasmar apoiadores para atuarem nas ruas. Segundo o próprio candidato, que utiliza um sistema online para cadastro e registro de ações, foram mais de 90 mil voluntários inscritos, que realizaram mais de 3,6 milhões de abordagens de porta em porta, segundo a campanha. “Eu moro em Nova York desde 1987, e nunca vi algo do tipo”, me disse Melissa Mark-Viverito, uma mulher de origem porto-riquenha que já foi vereadora na cidade. “Participei da mobilização de rua no último domingo e a energia estava incrível. Há muito entusiasmo. As pessoas se sentem parte da campanha, se sentem escutadas”, ela me relatou em uma conversa por videochamada no dia da eleição.
A impressionante mobilização e gestão de voluntários foi feita de forma casada com o uso das redes sociais. O fluxo pode ser resumido assim: Mamdani publicava um vídeo com alguma notícia de impacto, e ao final chamava as pessoas para se engajarem; quem deixava um comentário no vídeo no Instagram recebia automaticamente uma mensagem inbox chamando para uma ação de rua; o link levava para um site, onde a pessoa se registrava como voluntária; ela passava então a receber comunicações diretas da campanha. De outro lado, o volume de pessoas fazendo campanhas nas ruas gerava imagens que davam força à campanha nas redes, formando uma espiral de retroalimentação.
Essa articulação entre redes e ruas advém do histórico de atuação profissional de Mamdani, que já durante a faculdade começou a trabalhar com aquilo que nos Estados Unidos se chama de “organização” – um campo de trabalho ligado a concepção, planejamento e execução de mobilização social em ONGs, movimentos sociais e partidos políticos. Nos seis anos que se passaram entre a conclusão da faculdade, em 2014, e sua eleição como membro da Assembleia do Estado de Nova York, em 2020, Mamdani atuou em ONGs e campanhas eleitorais, desenvolvendo práticas de organização e mobilização. Em paralelo, desenvolveu sua atuação nas redes sociais, ambiente de comunicação no qual é “nativo” – termo usado para diferenciar os políticos que já iniciaram sua trajetória se comunicando nas redes daqueles que tiveram de se adaptar ao ambiente digital.
Em um relatório feito pelo D-Hub, uma organização dedicada a formas de se contrapor à extrema direita, a campanha de Mamdani foi considerada uma “masterclass em campanha digital e atenção política”, que soube compor diversas táticas para prevalecer no debate eleitoral. O documento chama a atenção para o equilíbrio entre formas de comunicação variadas (vídeos com abordagens das mais diversas, ações de rua, participação de influenciadores) e um grande controle de mensagem, mantendo o assunto sempre focado no custo de vida e nas propostas do socialista. Ainda para os autores do texto, a campanha foi capaz de transformar “voluntariado num status social”, criando uma comunidade de membros que se sentem pertencentes ao movimento pela eleição do candidato. Em resumo, a campanha dominou tudo aquilo que a extrema direita tem feito melhor nos últimos anos.
Aascensão explosiva do jovem socialista aquece o debate sobre as formas de se contrapor à extrema direita. Em resumo, há duas visões em disputa. Uma delas considera as opções políticas como um espectro que vai da esquerda radical à extrema direita, passando pela esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita. Com o pêndulo político indo para a extrema direita, a forma de se contrapor a ela estaria em priorizar candidatos mais próximos ao centro, que atrairiam tanto a esquerda quanto a direita moderada. Nesse sentido, a ala moderada do Partido Democrata, representada por figuras como os ex-presidentes Joe Biden e Barack Obama, além da ex-vice-presidente e candidata à Presidência no último pleito, Kamala Harris, teria mais condições de fazer frente a Donald Trump e seus aliados.
De outro lado, está a ideia de que o voto de boa parte dos eleitores não se orienta pelo espectro político, mas por outras formas de identificação e por questões práticas que envolvem a vida cotidiana. Para esta visão, o establishment do Partido Democrata perdeu contato com os problemas da parte mais empobrecida da população, deixando esses eleitores à mercê das promessas de Trump. Esse raciocínio foi o ponto de partida da campanha de Mamdani, quando ele foi conversar com eleitores de bairros pobres que votaram no republicano. O voto desses eleitores “não é sobre escolher o candidato na sua frente por posição ideológica ou partido”, ele disse em entrevista ao podcast New Yorker Radio Hour. “É sobre você se ver na agenda daquele candidato.”
A abordagem de Mamdani, que no relatório do D-Hub é chamada de “populismo democrático”, tende a funcionar bem no contexto eleitoral norte-americano, onde o voto não é obrigatório e a mobilização dos eleitores é chave para o sucesso. Energizar sua base com propostas ousadas e transformadoras, apresentadas em uma campanha de alta voltagem, demonstrou, nesse caso, ser mais importante do que fazer um discurso moderado para evitar a rejeição de setores intermediários da régua política. Nesse sentido, as propostas de Mamdani foram chave para construir um sentimento de mudança ao mesmo tempo profundo e factível. E elas não foram casuais.
Nova York é a cidade com maior custo de vida dos Estados Unidos – em Manhattan, o valor é mais que o dobro da média nacional. A cidade foi também aquela em que o custo de vida mais cresceu na década entre 2011 e 2022, com um aumento de 68%, segundo um relatório recente. Quando iniciou sua campanha, Zohran Mamdani priorizou abordar os itens que mais pesam no bolso da população e que poderiam ser abordados pela prefeitura: moradia, transporte e educação infantil. Cada um desses três temas recebeu uma proposta bem direta, baseada em uma política factível e com um slogan sintético.
A primeira delas, congelar os aluguéis, não é exatamente o que se pensa à primeira vista. O candidato socialista não pretende baixar uma lei para impedir que proprietários de imóveis aumentem os preços dos aluguéis, como foi feito por Getúlio Vargas no Brasil na década de 1940. A proposta de Mamdani trata dos imóveis de “aluguel estabilizado”, um estoque de cerca de 1 milhão de apartamentos que tem o papel de regular o preço na cidade. O valor do aluguel desses imóveis, que respondem por 44% do total dos disponibilizados para aluguel na cidade, é definido por um conselho ligado à prefeitura. A aposta do candidato é que essa política seria um primeiro passo para frear o aumento do gasto com habitação de forma geral. Alguns especialistas consideram o efeito da medida limitado. De todo modo, esta é a proposta mais simples de ser implementada.
A segunda proposta são ônibus gratuitos e mais rápidos. Mamdani tem apontado que um quarto da população da cidade não consegue acessar o transporte público. “Dependendo da viagem, você gasta 6 dólares para uma viagem de ida e volta – é um valor muito grande”, me disse Melissa Mark-Viverito em nossa conversa. Em seu mandato na Assembleia do Estado, Mamdani conseguiu recursos para projetos piloto de ônibus gratuitos nos bairros de Nova York. O resultado foi positivo, com boa aprovação popular e redução de sinistros durante as viagens. Agora, o candidato pretende implementar Tarifa Zero em todos os ônibus da cidade, o que fará de Nova York a maior cidade do mundo com a política. Sua aposta é que a retirada do pagamento fará também com que os veículos circulem mais rápido, com menos tempo de parada nos pontos.
A terceira proposta são creches gratuitas. Nova York tem um dos maiores gastos do país com creches, o que vem crescendo nos últimos anos. O gasto médio com creches na cidade cresceu 18% entre 2018 e 2023, passando de 12,422 dólares para 14,621 dólares por criança por ano. Esse valor pode representar até 36,6% dos gastos das famílias mais pobres da cidade, apontou um relatório do Departamento de Trabalho do Estado de Nova York. Além desses três temas, Mamdani tem colocado uma quarta proposta: instalar um mercado público em cada uma das cinco regiões da cidade, onde os produtos serão vendidos com preços controlados, a fim de que a população mais pobre tenha maior possibilidade de aquisição de alimentos.
A mais onerosa das propostas é a das creches. Garantir que toda criança de até 5 anos possa acessar gratuitamente uma creche pública pode custar cerca de 6 bilhões de dólares por ano. Já a Tarifa Zero tende a ficar em cerca de 800 milhões de dólares, já que boa parte do sistema de transporte já é subsidiado. A implementação dos mercados públicos está estimada em 60 milhões de dólares. Somadas, as três propostas custarão entre 6 e 7 bilhões de dólares por ano, o que equivale a 5,45% do orçamento da cidade, em torno de 110 bilhões anuais, na média dos últimos cinco anos. Para financiar suas políticas, Mamdani pretende aumentar a tributação sobre milionários, o que precisa ser feito por uma lei estadual.
Oromance A maldição de capistrano foi publicado em 1919 pelo escritor norte-americano Johnston McCulley. Em uma Califórnia que havia sido tomada por um ditador opressor, um herói mascarado defende a população marginalizada contra a tirania do poder. Seu traje inclui uma capa, um chapéu e uma máscara que cobre a parte superior do rosto. Procurado pela polícia e com a cabeça a prêmio, o herói está sempre em desvantagem, mas utiliza de grande astúcia e habilidade para vencer – algumas vezes, humilhando seus adversários. Invariavelmente, finaliza a luta grafando com a espada a letra Z – Z de Zorro.
Um século depois, Zohran Mamdani empreende uma guerra política em defesa dos pobres em um país tomado por um aspirante a ditador. Atuando em desvantagem, utiliza de grande astúcia e habilidade para vencer os adversários. Até o momento, tem sido bem-sucedido. Mas há ainda um outro paralelo entre os dois personagens. Zorro é a identidade secreta de Don Diego de la Vega, um jovem aristocrata da região. Vestindo chapéu, máscara e capa, ele se torna o herói justiceiro defensor dos oprimidos. Em seus trajes normais, volta a ser o filho de um fazendeiro rico. Para o novo prefeito de Nova York, a transição de personagens – ativista de manhã, prefeito à tarde – não será tão simples. E a chance de choque entre as identidades está no horizonte.
Ao atravessar o balcão, Zohran terá dificuldades em não frustrar sua base mais radical. A polícia de Nova York continuará atuando para desbloquear avenidas em protestos ou para lidar com pessoas em situação de rua. O prefeito, que vem da luta social, estará do lado da ordem. Dentre os desafios paralelos (e alguns contraditórios) da nova administração, estarão: negociar recursos para financiar a gratuidade dos ônibus e das creches, chacoalhar a administração municipal para entregar mais “excelência” nos serviços públicos, manter a mobilização social para fazer avançar suas propostas, garantir a ordem pública em uma cidade marcada por um passado de violência.
A Prefeitura de Nova York tem 300 mil funcionários e um orçamento anual maior do que de muitos países. Entregar as propostas de campanha significa ser capaz de alterar a rota desse transatlântico num prazo de poucos anos. A situação se torna mais complicada pelo fato de algumas das políticas propostas demandarem recursos que só são possíveis com alteração de leis estaduais – como o aumento da taxação dos bilionários. A colaboração da governadora Kathy Hochul, que integra a ala moderada do Partido Democrata, será fundamental. Parece ser necessária uma habilidade política fora da curva para equilibrar esses pratos, e o resultado favorável não é evidente. Em favor de Zohran está a capacidade demonstrada de realizar feitos improváveis em uma curta e explosiva trajetória.
Roberto Andrés é urbanista e professor da UFMG. É diretor da Rede Nossas Cidades e autor de A Razão dos Centavos (Zahar).
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