Vacinação contra a dengue continua lenta

• Menos de 10% se vacinaram contra dengue em SP • Amil deixa de pagar R$ 394,5 em ações judiciais • Brasil compra testes para mpox • Por que a pecuária é uma fábrica de novos patógenos • Não se sabe o número de pessoas no espectro autista •

Créditos: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
.

Já são 24 os municípios em emergência de saúde pública causada pela dengue no estado de São Paulo, indicando mais um ano com grande espalhamento da doença. Embora haja recordes sucessivos de casos e mortes, a vacina disponível no SUS não deslanchou. Segundo os dados, apenas 10,65% das crianças e adolescentes paulistas completaram o esquema de imunização, composto por duas doses. Como Outra Saúde vem tratando há algum tempo, a melhor vacina que há, por enquanto, para evitar a doença é a Qdenga, produzida pela farmacêutica japonesa Takeda. Sua capacidade de produção é, ainda, limitada – o Brasil foi o país que adquiriu mais doses, mas ainda assim em número insuficiente. 

O público-alvo estipulado pelo Ministério da Saúde é de crianças de 10 a 14 anos, por terem maior risco de hospitalização. Em entrevista a este boletim, a epidemiologista Alexandra Boing refletiu: “Isso pode ser reflexo de múltiplos fatores, como a falta de percepção de risco entre as populações mais jovens e de seus responsáveis; a hesitação vacinal amplificada nos últimos anos por campanhas de desinformação, que acabou acometendo todas as vacinas. Barreiras de acesso, relacionadas às salas de vacinação e horários, também afetam este processo”.

Judicialização da saúde: planos de saúde não cumprem decisões

R$ 2,7 bilhões. Esse é valor que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) calcula que as operadoras deixaram de pagar a usuários com o não cumprimento de decisões judiciais, ao serem processadas por alguma injustiça. Se o montante fosse dividido por todos os beneficiários de planos de saúde no Brasil, seriam R$ 56,80 por pessoa. Entre as empresas que acumulam mais depósitos judiciais em aberto, Amil está no topo da lista, com R$ 394,5 milhões, segundo cálculo do MP. 

A operadora deve informar, até esta semana, em quantas ações é ré e deixou de cumprir decisões provisórias ou em caráter de urgência nos últimos três anos, segundo o Valor. Parece tratar-se de uma prática em expansão, na empresa: entre o terceiro trimestre de 2023 e o período equivalente em 2024, o aumento foi de 130,9%. Em resposta, a Amil alega que “Trata-se de um direito legal usado para questionar cobranças que a empresa entenda indevidas ou desproporcionais”. 

Ministério da Saúde compra 34 mil testes para detectar mpox

Há uma nova variante da mpox, doença que provoca febre alta e lesões na pele, se espalhando por alguns países. A cepa é chamada clado 1b, que se caracteriza por ser mais letal e se espalhar com mais facilidade. Enquanto a variante que circulava em 2023 parecia ser transmitida em especial em contatos sexuais, esse não é o caso da clado 1b, que já circula em países da África, Europa, Ásia e América do Norte, mas ainda não no Brasil.

Alerta com o desenvolvimento e espalhamento do vírus, o Ministério da Saúde do Brasil anunciou a compra de 34.560 testes para a detecção de mpox. Em 2024, foram realizados mais de 12 mil exames, com 1.929 positivos. Os novos testes permitirão o sequenciamento genômico do vírus, o que tornará possível saber quais variantes estão circulando no país. Ainda não há detalhes de quando estarão disponíveis e como será feita a distribuição.

Agronegócio, sistema perfeito para criar novos patógenos

Neste ano em que o Brasil sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a Revista Poli prepara uma série de reportagens para discutir a emergência climática. A estreia é uma ótima entrevista com Rob Wallace, epidemiologista evolucionário estadunidense que estuda o sistema agroalimentar. À Poli, ele falou sobre como o agronegócio, em especial a pecuária, é o sistema perfeito para gerar novos patógenos. Wallace explica: criar milhares de pássaros, porcos ou vacas no mesmo local, sem diversidade, favorece um ambiente muito propício para o vírus evoluir e tornar-se virulento. É o que pode explicar, por exemplo, os surtos de H5N1, a chamada gripe aviária, que se espalha pelos Estados Unidos. “Você está permitindo a seleção de um patógeno mortal que pode entrar em trabalhadores locais, transbordar para a comunidade local ou seguir seu caminho para a capital para sair de avião”, explica ele. 

Também a tendência expansionista da indústria, que desmata florestas para abrir pasto para criar gado, permite que vírus que estavam isolados na natureza se espalhem — como foi o caso do ebola, na África. Na entrevista, que merece ser lida por completo, Wallace ensina com detalhes como isso acontece. Também avalia a ação do Ministério da Saúde brasileiro e faz um elogio à epidemiologia crítica latino-americana.

Faltam dados sobre pessoas no espectro autista

Embora exista uma lei, desde 2019, que obriga o IBGE a incluir perguntas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Censo, os dados obtidos em 2022 ainda não foram divulgados. “A partir do momento que dispomos de poucos dados corremos o risco de subestimar o tamanho da população autista. Assim, corremos o risco de disponibilizar poucas horas de médicos especialistas e de terapeutas capacitados”, defende a psiquiatra Mirella Losapio. Há alguns dados sobre o estado de São Paulo: de janeiro a agosto de 2024, foram registrados 550.402 atendimentos e 137 internações relacionadas ao TEA, ante 475.700 atendimentos e 116 internações no mesmo período de 2023. No ano anterior, foram 582.704 atendimentos e 114 internações.

A OMS define o TEA como condições que afetam comportamento social, comunicação e interesses. Desde 2013, com o DSM-5, os critérios diagnósticos foram ampliados, aumentando os casos identificados. Mirella destaca que o diagnóstico é clínico e realizado por psiquiatras e neurologistas. No SUS, o atendimento é iniciado nas UBSs e há suporte nos Centros Especializados em Reabilitação (CER) – mas a deputada estadual Andrea Werner (PSB-SP) avalia que os cuidados no sistema público com autistas estão propositalmente sucateados. O IBGE informou que os dados do Censo estão em fase de consolidação, com a divulgação do tema autismo ainda pendente.

Leia Também: