Trump quer medicamentos mais baratos – mas pode encarecê-los no mundo
Trump e a Big Pharma: os impactos do plano de redução de preço dos medicamentos na saúde global
Publicado 20/05/2025 às 12:06
No dia 12 de maio, Donald Trump assinou uma ordem executiva que pretende forçar a Big Pharma a igualar seus preços nos EUA aos menores valores praticados no Norte Global. A medida estabelece metas baseadas em referências internacionais e cria mecanismos para que pacientes comprem remédios diretamente, contornando o complexo sistema de saúde norte-americano.
A iniciativa, porém, é equivocada por dois motivos. Primeiro, ignora que os genéricos – responsáveis por 90% das prescrições nos EUA – já são 30% mais baratos no país que na média do Norte Global. Segundo, pode provocar um efeito perigoso: em vez de baixar preços nos EUA, as farmacêuticas podem aumentá-los no exterior ou abandonar mercados menores, reduzindo ainda mais o acesso a medicamentos onde ele já é crítico.
Como alerta Reinaldo Guimarães em artigo para o Outra Saúde, o plano ainda esbarra em outra ameaça: as tarifas de importação. Se aplicadas aos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), esses impostos anulariam qualquer redução, já que elevariam os custos de produção. O risco é especialmente grave porque a inflação de preços é estratégia histórica da Big Pharma – medicamentos para doenças raras, por exemplo, chegam ao mercado com valores proibitivos, justificados pelos altos custos de pesquisa e pelo risco de fracasso.
Esse cenário tem raízes na financeirização do setor. Como detalha Guimarães, “a financeirização nas farmacêuticas significou subordinar os objetivos precípuos da empresa a outros, de ordem exclusivamente financeira, e isso se deu mediante aumentos significativos do pagamento de dividendos a grandes acionistas (investidores institucionais) em detrimento de investimentos em infraestrutura, P&D e produção”. Na prática, grandes investidores (como fundos de pensão e bancos) passaram a ditar as regras, priorizando dividendos sobre investimentos em P&D e produção.
O resultado dessa combinação – ordem executiva, tarifas e lógica financeira – pode ser catastrófico. Se as farmacêuticas compensarem perdas nos EUA com aumentos no exterior, países do Sul Global sofrerão primeiro. E se cortarem P&D para manter lucros, todo o planeta perderá: de pacientes americanos que precisam de inovações terapêuticas a nações pobres que dependem de medicamentos acessíveis.
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